A vida de um dependente

Para saber um pouco mais sobre as consequências do uso de drogas na vida de uma pessoa, conversamos com o dependente João (nome fictício), que está na última fase do seu 13º internamento. Ele tem 32 anos e disse que de todos os tratamentos feitos, conseguiu concluir três.

João contou que começou cedo no mundo das drogas, de 13 para 14 anos, com o cigarro e depois a bebida, maconha e remédios. Segundo ele, os motivos que o levaram ao uso foram as frustrações. Descobriu que era adotado, sendo que alguns amigos já sabiam do fato e ele não. Perdeu sua avó, com quem era muito ligado, e sua namorada.

Por conta de sua escolha pelas drogas, foi perdendo as amizades e com 16 anos começou a usar o crack.

Sobre o seu comportamento e de outros dependentes, João afirmou: “nós, dependentes químicos, em alguma parte de nossas vidas vamos ter comportamento de adolescentes”.

Ele conta que sua mãe demorou a deixar ele sentir as perdas causadas pelo vício. Foi perdendo empregos, amizades, vendendo o que possuía. “Enquanto supriam o que eu estragava eu não mudava de atitude”, diz.

A situação foi assim por alguns anos. E, no seu segundo internamento é que aprendeu a se virar sozinho. Segundo ele, todos os tratamentos foram importantes, mas os grupos de apoio o auxiliaram muito. Para João, a prática do “amor exigente” por parte da família, bastante difundido pelo grupo Nar-Anon (Narcóticos Anônimos), é muito importante na recuperação.

Sobre a importância da fé na vida do dependente, João diz que hoje não vê como manter-se abstinente longe de Deus, que é a base de tudo. “Não existe recuperação sem Deus, a doença é espiritual”, relata.

João foi internado três vezes pelo irmão mais velho, mas sempre foi acolhido pela mãe. Ele conta que a doença é progressiva. A pessoa passa a usar para viver e viver para usar.

Sobre o sofrimento para a sua família, ele explica que sentia a dor de fazer os outros sofrerem, mas só foi cair em si, perceber o problema, quando o seu irmão o expulsou de casa. João conta que no internamento no Cerene Deus o impactou e reaprendeu o quanto o contato com o Criador é importante.

Sobre o aumento do número de dependentes e a responsabilidade da sociedade no caso, João acredita que as pessoas estão à parte do problema. Ficam horrorizadas, uns não querem saber e outros não querem se envolver. “O egoísmo, não saber o quanto é bom servir ao próximo”, segundo ele são fatores que contribuem para piorar a situação do avanço das drogas na sociedade. Isso porque as pessoas se fecham em sua realidade, fingem não notar o que está acontecendo e discriminam quem está passando pelo problema, seja familiar ou dependente. A sociedade deveria se conscientizar de que o avanço das drogas não deve ser resolvido somente por quem se tornou dependente, e suas famílias, mas por toda a população.

A sociedade deveria participar mais, difundir grupos de prevenção em escolas, fazendo palestras, conversando abertamente com os filhos sobre o problema”, finaliza João.

No dia da entrevista, João estava aguardando resposta do psicólogo para saber se poderia passar o Natal junto à sua família.

Grupos de Apoio

Os grupos de apoio do Cerene acontecem todas as quartas-feiras, às 20h. Atualmente os encontros acontecem na Escola Municipal Sybilla Wille de Lacerda, na Estação. Mas, a partir de fevereiro de 2010 o local será alterado para o salão da Igreja Luterana. Se você tem interesse em participar, entre em contato com o Cerene, pelo telefone 41-3622-8357, ou pelo e-mail lapa@cerene.org.br.

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