Quando nascemos Deus escolhe quem será o nosso pai e mãe na Terra.
Tenho que agradecer a Ele por ter permitido que eu desfrutasse da companhia de meu pai até o dia 15 de janeiro de 2010.
Agora, com sua ausência, fico procurando na memória as boas lembranças do que vivemos juntos…
As mais recentes são as nossas conversas durante o seu banho. Entre fazer sua a barba e lavar seu cabelo, quantas coisas conversávamos… Quanto riso, quanta conversa jogada fora… Banho longo, mas quem se importava?
E as conversas durante o chimarrão? Por muito tempo, não sabia “equilibrar a erva” na cuia para você. Mas, depois que aprendi, aprendi também a apreciar o mate contigo. Sempre depois de você me convidar com a frase: “quer mais um?”.
Meu companheiro, meu amigo, meu professor… Meu pai! Acima de tudo, um pai. Um pai para todas as horas. Um pai que Deus me emprestou e teimo em não aceitar que tive que devolvê-lo.
Ah! Que falta você faz… A cumplicidade em nossas conversas… A parceria para ouvir uma música ou para assistir TV… O último programa assistido ao seu lado, em que nos emocionamos juntos… O especial sobre Raul Seixas… “Eu não posso aceitar tanta gente aceitando a mentira, de que os sonhos desfazem aquilo que padre falou. (…)”
E as parcerias nos trabalhos de escola? Não, não se tratava de fazer o trabalho por mim… Ele realmente era um parceiro. Sentávamos juntos, discutíamos… Era como se ele também estivesse fazendo o trabalho dele… Assistindo juntos o filme O Carteiro e o Poeta, sobre a vida de Pablo Neruda, pra um trabalho de português, sobre a importância da poesia, ele se envolvia no tema, se empolgava… Construímos juntos o trabalho, vivendo o tema. Alguém que queria para sempre para estar ao meu lado no meu trabalho, na minha vida, quando viessem meus filhos…
Meu parceiro para essas coisas da vida… Meu parceiro na paixão da escrita… Meu parceiro na paixão pelas coisas simples… Meu parceiro pra admirar as peripécias de nossos cães… Meu parceiro para ouvir uma música em volume alto, às 8h da manhã (ainda madrugada para ele).
Um pai, um homem romântico. Um exemplo de como deve ser o companheiro para a vida toda… Sempre incentivando minha mãe para crescer, sempre valorizando cada detalhe em nossa convivência… Uma flor, um cartão singelo, um poema feito especialmente para a pessoa querida. Piegas? De forma alguma… Alguém que sabia amar e valorizar os seus. Simples, assim.
Aramis Gorniski, um exemplo para nós… Um exemplo, antes de tudo, de amor e de como formar uma família.
Agora, com sua partida, falta um pedaço de mim. Falta aquele que me incentivava em todos os momentos. Falta aquele que era o meu guia…
Que Deus permita que possamos nos reencontrar algum dia…
O Anjo Mais Velho (O Teatro Mágico)
“O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente
Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
Enchendo a minh'alma d'aquilo que
outrora eu deixei de acreditar
Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto… depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar”
