Adeus, Betty Burda…

Nasceu em 1943, em Piratuba, SC. Porém, dizia que suas raízes estavam muito bem fincadas na Praça General Carneiro, na cidade que amava com tanta paixão.

Era filha de Olymphio Porto Burda e Celeste Mello Burda. Do lado do pai era bisneta de Francisco Therézio Porto Neto, um dos fundadores da Associação Literária e do Theatro São João. Do lado da mãe, sobrinha de Ercílio Luz. Mas estas ascendências não lhe garantiram a vida, que sempre foi de humildade e batalha. Betty foi uma das primeiras telefonistas da Lapa, depois passou a serviços gerais da Prefeitura, onde se tornou a recepcionista, isto no papel, por que na realidade como muitos daquela época podem atestar, ela de tudo fazia. Não existia a divisão de departamentos, tudo que era possível de ser resolvido, era ali mesmo na recepção, e mesmo assim, aposentou-se com apenas um salário mínimo. Nesta época, chegou a ser conhecida como a “madrinha da Brusca”, maneira como o povo humilde tinha de agradecer por tudo que ela fazia. Certa vez, um de seus afilhados faleceu, e no meio da noite, com o intuito de agradar à madrinha, lhe ofereceram café servido em uma bandeja improvisada de escorredor de macarrão. A Betty, segurando o riso, aceitou o mimo, mas todos os presentes acabaram caindo na risada pela situação. No outro dia, ao sair do cortejo fúnebre, os adultos foram todos ao “batatá”, pois não poderiam perder um dia de trabalho. Betty saiu então seguindo o caixãozinho dentro do seu fusca vermelho, seguida por todas as crianças da Brusca, sem outro adulto por perto que não fosse o Aziz no volante e a sua irmã Vera do lado. Nunca deixou um recém nascido sem cobertor, nunca negou ajuda a nenhum amigo. Foi atuante na Tenda Espiritualista de Oxósse e depois se tornou católica carismática, duas religiões determinantes em sua vida.

Quando contava a história de sua vida, as pessoas começavam a escutar compenetradas e condoídas. Mas….sua naturalidade cômica fazia com que qualquer desgraça se tornasse uma comédia, e era impossível não acabar caindo na risada ouvindo seus relatos. Falava muito também na infância em Piratuba, nas viagens de Maria Fumaça, na avó que tinha 9 anos na época do Cerco da Lapa e era uma contadora de histórias nata, viajávamos embalados nelas.

Nos anos 70, engravidou solteira, em uma época que isto era quase um crime. Enfrentou com muita força a crueldade do preconceito, e mesmo com um salário mínimo, nunca deixou nada faltar à sua filha. Nos anos 80, começou a compilar e a registrar fatos encontrados nos documentos e livros guardados no acervo público, disso resultou o livro “Sou Josefa, Sou Joana, Sou Rita”, no qual romanceou a história da família junto a fatos reais da história de nossa cidade, sendo que muitos destes documentos agora existem apenas em seu livro. Nos anos 90, fundou o primeiro Clube Ecológico da Lapa, o Clube Verde. Levou muitas crianças para plantar árvores e flores no local cedido pelo então prefeito Sérgio Leoni, conhecido hoje como o “mato do Caic”, mas acabou desistindo depois de uns anos por considerar que lutava sozinha, apesar do apoio de amigos como Aramis Gorniski e outros.

Amava os animais, alguns devem se lembrar dela e da velha égua Sandy, que ela cuidava como se fosse gente. Levava a Sandy pastar no Quebra Pote e queria por lei que escavassem e recuperassem o local, mostrava documentos que tinha encontrado, era um de seus sonhos, o que acabou se tornando realidade.

Por fim, o trecho de seu livro que fala do Cerco da Lapa tornou-se um espetáculo teatral, do qual ela participou como atriz até onde agüentou. O último que participou, foi na noite em que a Lapa recebeu o título de Capital da Cultura, e dia 14 de setembro último, em que partiu para o plano maior, era noite de Associação Literária. Bem ao gosto da Betty….

Deixa três filhos, Nádia, Naomi e Tatiano, e as duas riquezas da sua vida, as netas Giovana e Clarissa. Foi reconhecida e homenageada por Célio Guimarães, Valéria Borges da Silveira e pelo Ten. Cel. Marcelo Maia Chiesa, a quem a família enlutada, agradece neste momento. Deixa ainda, muitas árvores plantadas, um precioso livro que está com a edição esgotada e a lembrança de ter sido uma legítima mulher lapiana, bem ao estilo das mulheres  que descreve em seu livro, “que se recusaram a deixar a cidade, assim que estourou a revolução federalista”. Vá em paz Betty, missão cumprida!

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