PEQUENA CRÔNICA SOBRE MEU PAI

Grande parte dos lapeanos conheceu bem meu pai. Portanto, relembrar como ele era, do que gostava, como atuou como homem público, me parece, aqui, redundante.

Porém há um aspecto em sua vida que mesmo eu, que com ele convivi durante tantos anos, não compreendia direito: o porquê de sua profunda paixão e luta, desde cedo, pelo patrimônio, pela história, pela cultura da Lapa, que em alguns momentos lhe rendeu tristezas e dissabores.

Com seu falecimento e refletindo sobre o destino de sua alma, consegui compreendê-lo melhor.

Meu pai era inspirado por lapeanos que há muito já partiram: diversas vezes me falou sobre pessoas, como o seu Tavico Kuss, Timótheo Wiedmer, David dos Santos Pacheco e muitos outros, que aqui nasceram, viveram e morreram. Falava de pessoas simples, humildes, que deixaram traços e lembranças de suas passagens pela cidade. Muitos destes personagens ele estava trazendo novamente à vida, no livro que escrevia e que publicaria em breve, sobre cidadãos que não foram eternizados em nome de ruas e monumentos, mas tão importantes para a Lapa como aqueles agraciados com estas homenagens.

Pensando em tudo isto entendi que sua paixão e luta pela preservação do patrimônio histórico da cidade foi algo muito diferente de um simples amor por casas velhas, ruas e monumentos antigos da cidade: na verdade, era a necessidade que tinha de reconhecer, de prestar homenagem e gratidão e de manter viva a lembrança de todos aqueles que construíram esta cidade,que aqui nasceram ,lutaram ,criaram seus filhos ,trabalharam,amaram,sofreram e um dia se despediram desta terra heroica. Era o desejo de que,quando partisse,também não fosse esquecido. Era um tributo a todos que aqui ainda estão e para os que ainda virão e que um dia se tornarão apenas lembranças.

Ao lutar para que uma casa antiga fosse preservada, estava, na verdade, lutando para que se preservasse a lembrança de todos que construíram a Lapa e sua história.

Como cristão, acredito que Ele o tenha recebido com os braços abertos. Mas acho que antes, cada lapeano por cuja memória ele lutou, deve tê-lo recebido com alegria e o abraçado com gratidão.

SERGIO AUGUSTO LEONI FILHO

 

 

 

 

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