Dinheiro que dá em árvore

A erva mate entusiasma várias pessoas em nosso município, inclusive pequenos agricultores como o Sr. Claudio Mildemberg, que mantém todo o ciclo de produção em sua área- coleta de sementes, produção de mudas (para uso próprio), manutenção e colheita das folhas.

Bons preços aliado a facilidade de manejo e possibilidade de plantio e produção até em áreas de reserva permanente estão atraindo produtores, mas algumas atenções simples devem ser tomadas.

A erva mate é grande companheira dos habitantes do sul do Brasil, já a milhares de anos. Sim, porque antes mesmo dos portugueses aqui desembarcarem os indígenas já usavam as folhas desta árvore para infusões muito similares ao nosso chimarrão atual.

No inicio do século XIX o naturalista francês Auguste Saint Hílare foi convidado pelo governo imperial a visitar o Brasil e catalogar suas riquezas. Vale a pena ler o relato de suas viagens, publicadas em vários livros ainda hoje disponíveis para compra. Uma de suas viagens fez com que visitasse o Paraguai, e lá encontrou uma planta que deu o nome de “Ilex paraguaiensis”. O termo “Ilex” foi dado pela flor e fruto. Significa “dois” ou  “dupla”. Isso porque durante a formação do fruto surgem duas bolsas (ou “angios”) que por sua vez produzirão duas sementes cada um. Isso é uma característica de várias espécies de plantas, e todas tem o nome de Ilex. Para diferenciar, a erva descoberta no Paraguai virou “Ilex paraguaiensis”. Mais tarde o próprio Saint Hílare descobriu a mesma erva em Curitiba, e achou quer era outra. Deu o nome de Ilex curitibanensis… depois percebeu que ambas eram a mesma planta, e na botânica, o primeiro nome é o que vale.

A planta teve grande importância para o Paraná, e nós, paranaenses, deveríamos cultuar a erva de modo mais fervoroso que os gaúchos. O Paraná era apenas uma extensão da província de São Paulo, onde existia uma nobreza recém-estruturada à custa da exploração do café. Por aqui, o produto que mais se destacava era a erva mate, e foi ela que permitiu que surgissem alguns “ricaços” que compraram títulos de nobreza. E claro, os nobres daqui não queriam obedecer aos nobres paulistas… veio a separação com a criação da Província do Paraná. Ou seja, sem a riqueza da erva mate, nunca teríamos “cacife” para pleitear uma emancipação, e poderíamos ser parte de São Paulo até hoje.

A erva também foi fonte de riqueza para muitas pessoas. Aqui na Lapa a maior concentração de ervais nativos está na metade oeste, e procuramos alguém que trabalhasse com o assunto. Visitando algumas propriedades descobrimos que o Sr. Joacir Nunes, residente em Antônio Olinto, faz a compra e intermediação de erva entre o produtor e a ervateira, e compra de vários produtores naquela região.

Segundo o Sr. Joacir, a família dele se estabeleceu em Antônio Olinto a mais de 100 anos em parceria com os Lacerda da Lapa, justamente para organizar o trabalho com a erva mate. Hoje a parceria não existe mais, mas sua família continua a lidar com erva. Apenas ele e seus irmãos cortam um volume de mais de 200 toneladas por safra (que se dá a cada dois anos). Não só isso: continuam plantando e expandindo seus ervais.

Aproveitamos e perguntamos sobre a economia da erva. Existe a erva chamada nativa, que tem procedência local, e a chamada de argentina, que veio de material genético argentino, há algumas décadas. O material argentino costuma apresentar folhas mais claras e bebida muito mais amarga, e por esta segunda característica, é rejeitada pelo mercado nacional. Já a erva nativa tem boa aceitação não só no Brasil, como em vários países que compram nossa produto, como China, Japão, Alemanha e Uruguai.

O preço hoje para o produtor fica em R$ 0,80 o quilo. Se o agricultor fizer o corte e colocar na beira da estrada, o preço sobe para R$ 1,00. O Sr. Joacir faz o serviço tanto de corte quanto transporte até a ervateira. Segundo ele, o custo de frete é de dez centavos por quilo, e o preço final é de R$ 1,20/kg, ou seja, com um lucro para o atravessador de dez centavos.

Considerando que nos últimos anos houve um aumento considerável do preço do produto, questionamos se ele prevê queda ou aumento no futuro, e nos respondeu com segurança que o preço tenderá a se estabilizar, justamente por causa da exportação. Existe uma ervateira que já concentra 60% da produção do sul do Brasil (segundo o Sr. Joacir, não verificamos a informação), e esta produção é toda exportada. Com isso o preço tende a se manter estável.

Mas vale um alerta, bastante enfatizado durante nossa entrevista: diferente de antigamente, hoje a erva mate exige alguns cuidados. O principal deles é o controle da lagarta “lombo verde”. O controle se dá pela pulverização de inseticida especifico, com pulverizador manual munido de barra de 2 metros (para alcançar a copa).

Visitamos em seguida o Sr. Cláudio Mildemberg, morador de Agua Azul e o encontramos com a mão na massa: trabalhando na terra e com roupas de lida. Quando se aposentou, aos 60 anos, decidiu que precisava de alguma produção que não lhe tomasse muito tempo e esforço. Com isso começou a produzir mudas de erva e plantar em sua propriedade de seis alqueires. Apaixonou-se pela cultura e já plantou 1,5 alqueires. Pretende cultivar pelo menos mais um, e talvez – quem sabe – ampliar a erva para toda sua área. Na ultima safra colheu 15 toneladas de folhas, que foram vendidas para ervateiras em São Mateus do Sul. Fazendo as contas, é provável que tenha lucrado mais do que quem plantou milho.

Quando industrializada a erva mate perde peso. Para produzir um quilo de erva seca são necessários de 3 a 5 kg de erva verde, de acordo com á época do ano. Para os que reclamam do preço do chimarrão, façam as contas: a R$ 1,20 o quilo da erva verde, isso significa que a erva pronta custa em média R$ 4,80. Isso só a erva. Se colocarmos os custos de mão de obra da ervateira, combustível para secagem, embalagem, impostos (lembre-se que o governo lucra mais que o produtor), e assim por diante, o custo chega fácil a R$ 10,00 o kg. Isso na ervateira. Para o mercado ainda tem o transporte e o lucro do ponto de venda. E não adianta reclamar que o agricultor ganha muito – fazendo as contas, é um preço justo, e se no Brasil não pagarem, tem muito gringo que paga.

 

Ervateiras do Sr. Claudio Mildemberg já em idade de colheita.

 

Sr. Joacir Nunes entusiasmado com o potencial de venda da erva mate. Mas só da nativa! Na foto, mostrando o que colheu de sementes para plantar em sua propriedade.

 

Folhas da erva mate nativa, bastante escuras. Segundo produtores, a variedade argentina tem folhas de verde mais claro e produz bebida de gosto mais amargo, que não agrada paladar nacional.
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