Bate Papo 1733

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Santa Maria e a caça às bruxas

 

Tão longe e tão perto. É com esta sensação que todos provavelmente acompanharam a tragédia na casa noturna da cidade do interior rio-grandense no último final de semana.

Tão distante porque, muitas vezes, não envolveu parentes ou conhecidos nossos. Mas, tão perto porque todos os municípios, por menores que sejam, possuem casas de shows, boates, casas noturnas. E, se formos fazer um levantamento sério, poucas estarão cumprindo as normas de segurança estabelecidas, seja em relação a equipamentos e treinamento, seja em relação ao cumprimento da lotação dos locais. Assim, todos estão sujeitos a passar por situação semelhante à vivida pelos jovens que estavam na boate Kiss.

E assim como já aconteceu em outros países, a tragédia está fazendo todos repensarem as leis, a fiscalização e tudo o que envolve a segurança em locais de shows e espetáculos. Ótimo. Mas, muitas das ações políticas que estão sendo divulgadas parecem, a princípio, somente oportunismo de marketing, pois leis e normas existem. O que falta é a própria população cumpri-las. Seja o proprietário do estabelecimento, sejam as pessoas que devem exigir o cumprimento legal.

Só que… Sejamos realistas, quem, hoje, leva a capricho o cumprimento das leis? Poucos, com certeza. O jeitinho brasileiro sempre nos impede de agirmos da forma correta. Aquele que cumpre ou exige que lei seja levada a sério é tachado de chato. Quantos empresários já não se irritaram em ter que cumprir tantas normas estabelecidas para que o seu empreendimento pudesse funcionar? Pois é… A prevenção de riscos pode ser considerada chata, mas para algo pode servir. Já dizia aquele velho ditado: “prevenir é o melhor remédio”.

Mas, agora, depois de uma tragédia causada pela falta de precaução, as autoridades, pressionados pela tristeza e revolta popular, passam a fiscalizar com maior rigor as casas noturnas e locais de grande aglomeração de pessoas. Os jovens passam a olhar mais atentamente a segurança dos locais onde estão. Mas, quanto tempo isso irá durar? Quanto tempo irá levar para que a tragédia de Santa Maria caia no esquecimento? Tomara as autoridades lembrem-se de que para as mães, os pais, os parentes e amigos dos jovens mortos, a tragédia viverá por muitos anos.

Infelizmente, no Brasil, a tragédia é sempre aguardada por uma autoridade de plantão. Por trágico, para não dizermos que é cômico, o caso da Isabella Nardoni é um exemplo para jamais esquecermos, pois morrem no Brasil mais de 2.500 crianças por ano, vítimas de vários acidentes, porém, nunca são investigados. Quantas mil crianças e jovens terão que dar a sua própria vida para que o País possa “festejar” a sua juventude sem luto?

Infelizmente, também, a dimensão de uma tragédia sempre se dá pela quantidade de óbitos, e óbitos num espaço curto de tempo. O trânsito brasileiro, por exemplo, mata dezenas de milhares de pessoas e incapacita outro tanto, e só vira manchete quando um acidente ceifa a vida de muitas pessoas. No mais, afora os alertas, campanhas de alerta, matérias especiais e editoriais dos jornais, a morte é diluída ao longo do ano.

Quando se comprime o número de mortos e os números acumulados saltam aos olhos, acordamos. Não demora e adormecemos novamente.

Outro aspecto que é preciso discutir é o rigor e a rápida penalização, no caso, do integrante da banda e dos donos da boate Kiss de Santa Maria. Quando alguém ingere bebida alcoólica, pega seu carro e mata famílias inteiras, o resultado final dificilmente será a prisão.

 

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“O homem é inteligente, porém não inteligente o suficiente”. (Aldous Huxley)                                                                                                                                                                                                                                                                                         

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