O padre e a noiva

Padre de uma igreja do norte de nosso Estado resolveu, há poucos dias, colocar um freio de arrumação no mau costume de se implantar, como parte das cerimônias de casamento, o tal atraso no comparecer da noiva à igreja. Não titubeou: tascou multa para aqueles que, desejando firmar compromisso ante os altares de seu templo, teimem ou insistam na quase formalizada delonga da noiva para as celebrações. E a taxação não é pouca: são quinhentos reais. Isso mesmo! Uma vez culpados, os nubentes retardatários terão que desfolhar dez notinhas daquelas que têm a onça, ou então cinco daquelas que têm a garoupa e que quase ninguém tem.

Entretanto, a atitude do reverendo, quando espalhada na mídia, não foi aceita assim de mãos beijadas – causou um burburinhar sem fim, dentro e fora de seus domínios eclesiais. Há prós em quantidade, há contras em profusão. A coisa está pegando fogo. O senhor padre, que não é de ontem, prevendo o bombástico de seu posicionamento, tomou o cuidado primacial de se comunicar com os paroquianos. Estes, não só aprovaram a medida, como aplaudiram de pé sua decisão. Havia, segundo o padre, mais de mil fiéis presentes quando externou sua deliberação . Mesmo assim, continua o bochincho. Na cidade, o assunto domina soberano. E, em centenas de locais outros, mesmo não abrangidos pela jurisdição do reverendo, o caso das noivas – simples de resolver, é só obedecer horários – virou celeuma, um estrupício, um deus – nos – acuda.

Afinal, não produz embaraço maior, termos que admitir: o tema, em si, é supimpamente amoldado a cochichos, incita ao bulício, à discussão, e a opiniões, sensatas algumas, outras, nem tanto. E os casamentos, como se sabe, prosseguem, faceiros, se realizando em toda parte, sempre acompanhados do tradicional, do indefectível mau costume: noivas atrasadas!

Quase todos nós já passamos, vez por outra, pelo dissabor de chegar à igreja dentro dos horários marcados, com tudo prontinho, padrinhos a postos, ambiente lindamente decorado, e a noiva, que é da noiva? É uma situação muito desconfortável. Conforme o atraso, pessoas das próprias famílias dos casadoiros começam a se preocupar: meu Deus, o que será que está acontecendo? – Nada: é chiquismo, é charminho da moça!

Pode até ser chique para quem é esperado, mas é uma calamidade para quem espera. E o padre, na maioria das vezes, compromissado em outros cerimoniais, extrapola. Não lhe sobra alternativa.

Conclusão a que se chega: o dirigente paroquial está, como se diz, coalhado de razão. E os que vociferam contra a multa, sosseguem: o padre não quer ficar rico aplicando multas. O padre deseja que doendo o bolso, a responsabilidade pelos horários se transforme em coisa séria.

É isso que quer o padre Carrara, da catedral de Apucarana. E, tenho certeza: não permanecerei sozinho ao me colocar, doravante, solidário com o padre, com a multa e com o aplauso de seus paroquianos!

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