Doutor David e a Capital da Cultura

Quando, na segunda metade do século que passou, iniciei no mister de cartorário – e foram quarenta anos – o Dr. Vátel Gonçalves Pereira ocupava as funções de Juiz de Direito, o Dr. Nicolau Bley Filho era o Promotor Público e atuavam com maior frequência, no foro em geral, o grande solicitador David Timótheo Wiedmer, seu filho David Wiedmer Neto, e Francisco Brito de Lacerda.

Tendo, recentemente, neste periódico, efetivado pequeno histórico sobre o Dr. Lacerda, achei de bom alvitre, trazer a lume algo que, mesmo de forma resumida, lembrasse a figura extraordinária do também advogado Doutor David Wiedmer Neto. Isto, porque, na contemplação dos méritos que levaram nossa lendária cidade ao título mais que honroso de Capital Brasileira da Cultura, 2 011, não tenho dúvidas de que cabe a ele, um lugar de destaque nessa premiação, por sua sabedoria e por seu altruísmo ímpar e inquestionável quando tratava de coisas atinentes à sua cidade querida.

Fosse o Doutor David apenas advogado e estaria, de sobejo, consagrado. No entanto, com a imensidão de seu talento e a fartura de suas aptidões, David adentrou, com tranquilidade, no mundo da política onde, na Câmara Municipal foi dos edis mais solicitados. Aquela era uma casa de leis e a ninguém passava desapercebido a erudição e aprofundado saber jurídico do ilustre confrade e camarista. Foi, também, anos a fio, professor do Colégio General Carneiro. Suas aulas de geografia extrapolavam o escrito dos manuais para revelarem elementos novos e atualizados, que embeveciam o auditório. Inexistia o gazear quando o professor David proferia suas palestras, trazendo para todos, sempre nos limites da geografia, o conceito de um mundo diferente e melhor.

Integrava ele, por merecimento exclusivo, o INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO PARANÁ. A imprensa, de igual modo, através a ” Tribuna Lapeana “, jornal dos anos cinquenta, foi aquinhoada, por inúmeras colaborações, de sua lavra. Ali, expunha suas opiniões, deblaterava se necessário, esbanjava cabedal.

Não sei a forma pela qual o Dr. David arrumava tempo para tantos desempenhos. Imaginem: além de todos os afazeres que listamos, sobravam-lhe, ainda, algumas horas para pesquisas. Era exímio, era devotado. Sabia da nossa história, como se estivesse presente em cada época.

Diversos autores que a ele acorreram, externaram, depois, em suas publicações sobre a Lapa, um agradecimento especial ao notável, fiel e judicioso pesquisador.

Voltemos ao David advogado. Residiam, ele, dona Cleonice e filhos, em aprazível casa da Alameda David Carneiro. O endereço ficava a um passo do escritório. Fácil para atender as tarefas de seu ofício e apropriado para prestar auxílio aos seus em possíveis emergências.

No escritório, por longo período, trabalhou e aprendeu com seu pai, um incrível autodidata, mormente do direito. Mesclava os extraordinários conhecimentos deste à considerável bagagem que trazia da faculdade. Depois do falecimento de seu progenitor, O Dr. Wiedmer prosseguiu em sua faina, atendendo aos casos dos mais simples aos intrincados, com o maior desvelo, com a maior dedicação.

Tivemos, nestas linhas, mesmo que de modo condensado, a oportunidade de apreciar as qualidades de um cidadão lapeano que não olvidando a primazia do atendimento à família, foi advogado, politico, professor, jornalista, etc….

Sem prejuízo algum a quaisquer de suas nobilitantes e bem exercidas atividades, o Doutor David se notabilizou no exercício de sua adorada advocacia.

Era, antes de tudo, um advogado. Nos primeiros anos deste século, quando morreu, pôde antes manifestar uma última vontade: queria seu féretro passasse em frente ao Fórum, e fizessem uma pequena pausa, em lembrança às tantas e quantas vezes que para ali se dirigiu na defesa de seus constituintes, no cumprimento de seu ministério.

A Lapa, como afirmamos no preâmbulo, está vivendo a alegria de ser escolhida a capital brasileira da cultura, 2 011. Este rápido perpassar pela história do Doutor Wiedmer, nos oferece a oportunidade de repisar: ele, também, colaborou para tanto!

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