Entusiasmado pelo nosso torrão natal e sua gente, e não podendo arrolar a todos que se empenharam no fazimento da cidade que hoje enverga faceira o título de capital brasileira da cultura, 2.011, – achei por bem, em edições anteriores deste jornal, trazer a lume, ainda que em forma de epítome, alguns traços da vida de dois lapeanos, nitidamente essenciais ao englobado de nossa cultura. Estamos nos referindo aos doutores Francisco Brito de Lacerda e David Wiedmer Neto.
Hoje, o nosso personagem será também um lapeano dos mais ilustres. Com a diferença que, ao invés de escrevermos algo sobre ele, é ele que nos irá deliciar com importante retrospectiva histórica da cidade lendária. Trata – se do PADRE JOÃO EVANGELISTA BRAGA (depois cônego da Catedral de São Paulo), nascido em Franquinho, quarteirão do Cerrito, interior do município, em 17 de fevereiro de 1 850.
Quando vigário da Lapa, no período de 1 882 a 1 885, se ocupou de interessante trabalho ao qual intitulou “RELATÓRIO (PARTE DE) SOBRE ESTA PARÓQUIA DE SANTO ANTONIO DA CIDADE DA LAPA, DESDE SUA FUNDAÇÃO ATÉ 1 884, OU DESDE 1 769 até 1 884,”
O reverendo padre, em seu propósito de colecionar subsídios para a história de nosso povo, além de assinalar diversos fatos de sua contemporaneidade, se moldou em velhos papéis dos arquivos paroquiais.
Tentaremos, nesta oportunidade, trazer um pouco do valioso relato, ora usando dos escritos “ad litteram”, ora com redação nossa, a qual, embora modesta, não se afastará da fidelidade a um documento de tanta envergadura. Como possuo tão – somente uma cópia reprográfica incompleta dos fatos exteriorizados pelo Cônego Braga, numerei as páginas de que disponho, colocando os números de 1 a 65, sempre dentro de um círculo, – providência essa para facilitar, em qualquer tempo, a localização das diversas situações aqui retratadas.
Do relatório, sempre com alusões à nossa paginação, entre tantas narrativas, consta:-
SOBRE A FUNDAÇÃO DA LAPA. (fls. 06)
Nossa Capital da Cultura, ora assim reverenciada, “foi fundada pelos portugueses JOÃO PEREIRA BRAGA e sua mulher, dona JOSEPHA GONÇALVES DA SILVA, primeiros povoadores da paragem denominada Lapa, parte opposta ao Registro da Villa de Nossa Senhora da Luz dos Pinhaes de Corytiba, em terreno de patrimônio concedido em uma sesmaria de terras de uma legoa quadrada, a pedido dos ditos fundadores, pais do 1º vigário Pe. João da Silva Reis, por carta regia mandada passar em S. Paulo em 13 de maio de 1 768, em nome de S. M. Fidelíssima, o Rei de Portugal, por D. Luiz Antonio de Souza Botelho Mourão, Governador-geral da Capitania de S. Paulo;”. Em 13 de junho de 1 769, rezam ditos documentos, o primeiro vigário, padre Reis toma posse oficial desse patrimônio.
A BÊNÇÃO DA IGREJA MATRIZ
Nossa vetusta e veneranda IGREJA DE SANTO ANTÔNIO, na praça General Carneiro, embora ostente nos cimos de sua porta principal a data 1 784, foi benzida a 31 de Outubro de 1 791, presidindo a cerimônia o 4º vigário da paróquia, Padre Francisco Pacheco de Oliveira.(fls.6)
A DENOMINAÇÃO LAPA
Os livros da igreja, revisados pelo padre Braga, dizem:- “Esta Freguesia da Lapa – assim denominada de huma Lapa que lhe está vizinha, foi erecta a 13 de junho de 1 769. O seo orago hé o Snr. Santo Antonio, à quem se dedica a sua Igreja Paroquial,”. – Agora, os considerandos são do padre Braga: “Deste documento deduz-se a verdadeira etymologia do designativo ou qualificativo – LAPA – conservado desde 1 768, – que é termo trasladado da lapa ou cerro de grandes rochas de grés vizinho à cidade, (sita de N.E. para E.) e cerca de 2 para 3 kylômetros da actual igreja matriz, à direita da estrada geral para Corytiba. Havia ali primitivamente uma gruta ou caverna à beira da actual estrada geral, em que abrigavam – se de pouso os tropeiros, e foi inteiramente destruída por modo que della não resta vestígio algum, senão um vago quê de tradição por mim colhida. Essa gruta ficava à esquerda do morro ou cerro da Lapa para quem vai da cidade actual para Corytiba.”
A GRUTA DO MONGE.
“Bem no centro do cerro e quase em frente ao fundo do bello e grande edifício da Câmara Municipal (o melhor da cidade, talvez da Província), existe a célebre gruta conhecida por – Gruta do Monge que é apenas uma cavidade ou caverna no alto do cerro em frente à cidade. Ali há uma água límpida e cristalina, a que o povo com ou sem razão liga certa virtude.” – Até aqui a descrição do Padre Braga.