IATF – ferramenta que auxilia a modernizar sistemas produtivos

A inseminação artificial em tempo fixo (IATF) já esta há alguns anos sendo empregada por muitos estabelecimentos pecuários em todo o Brasil. Suas vantagens são muitas e de longe superam seus pontos negativos, se é que eles existem. Fato é que as indústrias frigoríficas têm uma preocupação muito grande com a qualidade dos animais abatidos. A IATF, nesse ponto, tem grande valia, pois possibilita uma maior padronização dos animais abatidos. Infelizmente a maioria dos pecuaristas ainda trabalha de forma tradicional e simplesmente abominam a técnica de inseminação artificial, mesmo nunca tendo usado ou quando a utilizou o fez na forma tradicional, observando cio da vacada.

Foram-se os tempos em que o pecuarista produzia e vendia seu produto apenas o seu ponto de vista. Nos tempos atuais é o consumidor o elo mais importante dentro desse processo de produção, beneficiamento e consumo. O consumidor, hoje bem mais esclarecido, sabe a diferença de uma carne de qualidade de outra duvidosa e é ele que define o que quer comer.

Muitos perguntam qual a relação entre IATF e esse processo de busca por qualidade. A relação é estreita, pois a indústria precisa dividir a responsabilidade com o produtor, no que diz respeito a padronização da produção. Some a isso também o uso do sêmen de touros provados e superiores, para diferentes características produtivas, de relevância para a indústria. O processo de melhoria da qualidade da carne brasileira inicia-se na produção dentro dos estabelecimentos rurais brasileiros. A partir do momento que o Brasil tenha um volume maior de carne de qualidade, os preços dos cortes brasileiros no mercado interno e externo serão outros. Será possível atender, eficientemente, mercados exigentes e que pagam mais por carne de qualidade e com isso o produtor terá maiores remunerações.

Nesse processo de buscar qualidade é imperioso que o produtor e a indústria se vejam de outra forma, isto é, ambos devem se ver como parceiros e não em lados opostos. Ambos os lados tem argumentos fortes de acusação, porém em nada isso acrescentará benefícios ao processo de valorização da carne brasileira.

Nesse sentido existe o exemplo de um trabalho muito bem desenvolvido e fundamentado. O Programa Marfrig Fomento Angus é um modelo quase perfeito. Ele busca mudar a relação entre pecuarista e indústria. A Marfrig fomenta o uso de genética Angus, para levar qualidade as carcaças produzidas, utilizando fundamentalmente a IATF em larga escala. Dentro dos fundamentos do programa existe também a possibilidade de adiantamentos financeiros para a execução das inseminações. Esses adiantamentos são pagos quando o pecuarista entrega sua produção (bezerros, novilhos recriados e/ou animais terminados), de forma que não há correção monetária alguma. Além disso, há a possibilidade de descontos, no valor a ser pago, em função da quantidade de animais entregues ao programa. A equipe técnica é terceirizada e está associada ao trabalho de IATF fomentado. O grande incentivo ao produtor esta na remuneração diferenciada oferecida aos animais inscritos no programa, garantida através de contratos de compra e venda. Todos os produtos entregues são devidamente “rastreados” em função de todo o trabalho de IATF gerar relatórios com informações referentes à procedência desses produtos, com isso a indústria pode identificar possíveis falhas dentro do processo produtivo, tais como touros com produção deficiente ou erros de manejo na propriedade. Ao mesmo tempo ocorre a identificação dos melhores touros para o trabalho em larga escala e que atendam as necessidades da indústria. Como estamos trabalhando com animais precoces o programa permite o abate de animais de no máximo 24 meses de idade. Isso é fundamental para garantir a maciez dessa carne e, por conseguinte, o uso de confinamentos faz parte do processo produtivo, principalmente pela necessidade de certo grau de acabamento de carcaça, que a pasto dificilmente seria alcançado.

No campo a IATF mostra seus benefícios já no nascimento dos lotes de bezerros. Há uma concentração significativa dos partos, facilitando o manejo da propriedade. Na desmama isso implica em bezerros uniformes em tamanho e conseqüentemente em peso. Quanto à taxa de prenhes, 50% é a média geralmente alcançada nesses trabalhos com IATF, podendo haver variações para cima ou para baixo. Esses índices sofrem grande influência do estado nutricional das matrizes, atividade ovariana e ambiente uterino, manejo sanitário, manejo nutricional, qualidade do sêmen e habilidade do inseminador.

Para alguns essa taxa pode parecer insatisfatória, porém quando se obtém, pelo menos, metade de um rebanho de matrizes, prenhe em 10 dias, já há o retorno do investimento no emprego dessa técnica. Ainda mais se considerarmos que esses animais não seriam trabalhados antes de 60 dias numa situação convencional. Há também a economia no emprego de touros com redução em até 40% do número de animais dessa categoria. Isso se reflete na otimização desse capital em outras áreas dentro da propriedade. A IATF dentro do programa da Marfrig, por exemplo, representa apenas em torno de 3% da remuneração recebida, sem se colocar em pauta a economia na compra de touros.

Com relação à mão-de-obra, a execução da IATF por empresas terceirizadas, diminui custos trabalhistas com profissionais qualificados para sua execução, já que não há a necessidade de vinculo empregatício mais estreito. No dia-a-dia do estabelecimento os peões concentram seus trabalhos em função de diversas atividades menos na observação de cios, que é bastante desgastante e complexa, principalmente em grandes áreas.

A modernização da pecuária de corte nacional é caminho sem volta. O emprego de novas técnicas e tecnologias permitirá ao produtor uma maior margem de lucro, principalmente pelo uso mais racional de recursos financeiros e de mão-de-obra, além de abrir a possibilidade de se fornecer animais para programas que valorizam produtos de qualidade, individual dos animais e também dos lotes entregues. Para os pecuaristas mais tradicionais vale ressaltar que a medida que se passa a utilizar técnicas e tecnologias mais modernas, como estação de monta e posteriormente IATF, descobre-se realmente o quanto o seu plantel é eficiente ou não. Isto é, a partir do momento em que há o desafio das fêmeas em reprodução, dando prazos e objetivos, é possível identificar os animais realmente produtivos. Num estabelecimento tradicional, ao iniciar-se o emprego dessas novas técnicas, há normalmente um choque, pois os resultados iniciais podem ficar abaixo da média, fruto do real desconhecimento do que é verdadeiramente o seu plantel ou mesmo o seu manejo. Como conseqüência não é raro o produtor colocar a culpa na técnica ou tecnologia empregada, isentando-se de culpa e ao seu plantel. Porém quando o pecuarista é empreendedor e tem consciência das inúmeras variáveis envolvidas no processo, no médio prazo os resultados são bastante compensadores, pois a partir de então o produtor tem em mão dados de produção e deles pode fazer um trabalho eficiente de seleção e melhoramento, baseado em resultados prático e não apenas em conclusões empíricas.

LapaGén Agronegócios – blog: http://lapagen.blogspot.com

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