Entre os dias 10 e 12 de maio passado prefeitos do Brasil inteiro arrancaram uns trocados dos combalidos caixas municipais para gastar em uma “marcha” até a metrópole da América Portuguesa. Foram mais de 4 mil mandatários municipais e outros milhares de legisladores locais que enveredaram-se até Brasília sem muito o que fazer e sem muito o que dizer, já que as questões cruciais para que o Brasil realmente seja um país “de todos” sequer foram aventadas durante o evento.
Nos nossos dicionários de língua portuguesa a palavra “Mendigo” é grafada e explicada como sendo “o indivíduo que vive em extrema carência material, não podendo garantir a sua sobrevivência com meios próprios”. Os prefeitos brasileiros, em relação a metrópole brasiliana e as entidades municipais que representam, não passam de Mendigos que vagam pelos escaninhos de Brasília de pires na mão. Maltrapilhos e sem um centavo no bolso, arrastam-se pelos palácios da metrópole em busca de migalhas “oferecidas gentilmente” pelo poderoso ou poderosa de plantão.
Nesta XIV Marcha a Brasília “em defesa dos municípios” os prefeitos, digo, “os mendigos”, apenas gastaram sola de sapato e o suado dinheirinho dos impostos municipais, pois absolutamente nada conseguiram. O resumo é de que tudo continuará como “dantes no quartel de Abrantes”. Brasília e suas quadrilhas organizadas jamais cederão a qualquer tentativa de tornar este amontoado de estados numa verdadeira federação. Ao menos isso alguém lá no meio da multidão alertou e na Carta final da Marcha o título faz uma tímida denuncia: “Brasil: uma federação incompleta”.
É tímida por que não dedica sequer uma linha sequer para ao menos tentar discutir esta aberração federalista imposta aos povos brasílicos. A Carta não cita uma palavra sequer sobre a autonomia real dos estados e municípios. Muito pelo contrario, afaga o ego das quadrilhas que comandam o saque do povo brasileiro: “Presidência da República, Congresso Nacional e especialmente os líderes partidários e às mesas diretoras do Senado Federal e da Câmara dos Deputados”.
É a esta gente que os mendigos foram ajoelhar-se e pedir encarecidamente para que defendam os municípios brasileiros. É como se as galinhas fossem “bater um papo” com as raposas pedindo encarecidamente que elas “cuidassem” do galinheiro, preservando a integridade física das penosas. Parece óbvio que nenhuma raposa vai se compadecer e aceitar a proposta. É isso que está acontecendo e hoje a qualquer horário que der na telha das raposas, elas continuarão assaltando o galinheiro e sem dó nem piedade, a matança continuará. É instinto.
Além de vazia e sem o menor nexo, a Carta da Marcha deixa claro que dentro dos municípios brasileiros há não apenas um bando de mendigos, mas também de covardes protetores do poder central. Chamar os prefeitos de covardes é ser parceiro, pois as palavras certas seria “criminosos mendigos”, já que quem não faz nada ao presenciar um crime, torna-se cúmplice.
Os prefeitos brasileiros têm contas a acertar conosco, cidadãos produtores das riquezas engolidas pela metrópole. Nós esperávamos muito mais destes cidadãos, legítimos representantes dos povos brasílicos. Nós esperávamos, por exemplo, que ao menos uma meia dúzia deles levassem faixas e cartazes denunciando esta farsa federalista onde estados e municípios não tem a mínima autonomia em relação ao poder central; Nós esperávamos que ao menos meia dúzia destes homens públicos organizasse um protesto lá no coração da metrópole denunciando este neocolonialismo existente na América Portuguesa; Nós esperávamos que estes prefeitos denunciassem esta aberração tributária que sanguinariamente arranca dos mais pobres quase 42% dos seus vencimentos… Esperávamos tanta coisa e nada aconteceu.
Esperávamos por exemplo que ao menos um prefeito “com aquilo roxo” subisse a um dos vários palanques espalhados pela Meca Brasiliana, para propor a inversão tributária deixando para os municípios 70% dos impostos arrecadados e mandando para o estado e para a união os 30% restantes. Afinal, teria a seu favor o mais concreto argumento: é no município que vive os cidadãos geradores de toda esta riqueza. Mas não… Isto também não aconteceu…
O que aconteceu foi que chamaram as raposas para discursar e fazer comício dentro do galinheiro. E como as mais imbecis das galinhas acreditaram em tudo que Dilma Roussef e os nossos “honoráveis senadores e deputados” prometeram. Isso não tem perdão. Se fosse uma platéia formada por nós “povinho sem consciência” (como eles gostam de falar) seria, digamos, normal.
Mas esta platéia que estava lá era para ser de gente politizada, consciente das suas obrigações. Homens da elite política nacional. Mandatários dos verdadeiros donos deste país: o povo. Nada… Calaram-se covardemente e aplaudiram a rouca voz das raposas que prometeram mundos e fundos, incluindo-se uma morte rápida e não dolorosa…
Aqui embaixo, na plebe, resta-nos a resignação e o sentimento de impotência diante de tudo isso. Resta-nos alimentar o sonho de liberdade… O sonho que aos poucos vai se tornando maior e tomando as ruas do nosso Sul. O sonho de um dia nos livrarmos deste sistema covardemente opressor… O sonho de o mais breve possível tornar o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul um verdadeiro país. Transformar nosso território numa grande Confederação Municipalista onde as riquezas fiquem nos seus locais de origem e sejam efetivamente investidas no bem estar do Povo Sul-Brasileiro.
Afinal, falem o que quiserem, mas nós temos a obrigação de ter ao menos ter vergonha na cara e dar uma basta a Brasília.
Senhores e senhoras da Corte, saibam com todas as letras que os integrantes do Movimento O Sul é o Meu País já não sonham mais sozinhos…
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O autor é Jornalista, professor e presidente do Movimento O Sul é o Meu País e Secretário Geral do Gesul (Grupo de Estudos Sul Livre). E-MAIL: celsodeucher@hotmail.com – SITE: http://www.patria-sulista.org BLOGS: www.celsodeucher.blogspot.com
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“Conduta inofensiva não é crime – O crime consiste em tentar dividir o país a força. Um simples boné acenando ao vento não ofende a Segurança Nacional. É uma simples manifestação do pensamento, assegurada pela Constituição Federal”. (Damásio E. de Jesus, jurista e professor – Gazeta do Paraná – Cascavel, 24/05/1993)