Um novo capítulo sobre o Monge João Maria D´Agostini
O historiador gaúcho Alexandre Kasburg está desenvolvendo em seu doutorado pesquisa sobre a vida de João Maria d´Agostini, o primeiro Monge que passou pela cidade da Lapa. Em diversas pesquisas já realizadas, Alexandre pode definir os caminhos trilhados por João Maria, que veio da Itália para o Brasil e peregrinou não somente pelas terras do sul do país, mas também por toda a América Latina.
Alexandre Kasburg nasceu em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Fez mestrado em História, desenvolvendo pesquisas sobre a devoção da região, quando acabou se deparando com uma das mais antigas da região: em 1846 a história contava que um monge italiano havia passado por ali, fato que teria dado início à devoção às águas santas. “Fiquei fascinado com a história e decidi pesquisar sobre a vida do monge italiano que ficou conhecido como Monge João Maria de Agostini”, conta Alexandre.
Segundo o pesquisador, João Maria nasceu na Itália e estudou em um seminário até os 25 anos de idade. No ano de 1838 chegou ao continente americano peregrinando, evangelizando e orientando a população. O primeiro lugar visitado pelo monge no continente foi Caracas, na Venezuela. Em 1844 ele estava em Belém (PA), passa pelo Rio de Janeiro, Sorocaba (SP), depois disso vai trabalhar como missionário religioso em Buenos Aires, Argentina. Então volta ao Brasil entrando pelo Rio Grande do Sul, se estabelece ali e, depois disso, se iniciam os relatos de milagres. A devoção por ele cresce depois do episódio das águas santas, no Rio Grande do Sul. No final de 1847 João Maria vem para a Lapa, ficando nas grutas. Nesse período fez pregações na Igreja Matriz, com autorização do padre da época.
Segundo as pesquisas de Alexandre, João Maria passou duas vezes pela Lapa. A primeira foi em 1847 e, depois, em 1851. Ele tinha grande conhecimento em teologia, falava latim, espanhol, francês, além do idioma italiano. Com o tempo desenvolveu habilidades para fazer crucifixos e rosários de madeira, que trocava por alimentos ou dinheiro para suas viagens. Era também um grande conhecedor das plantas e ervas, o que acabou lhe conferindo a fama de “curandeiro”, mas não lhe agradava assumir este papel.
Além do profundo conhecimento da teologia ele era um orador nato, característica que o diferencia dos outros monges que surgiram posteriormente à sombra de sua fama. Como usava barba longa, se vestia como um dos tantos santos que o povo reverenciava, usava um cajado e tinha conhecimento das plantas e ervas, ensinando as pessoas a preparar chás, facilmente era visto como santo pela população da época.
As pessoas queriam morar perto dele. Mas, isso preocupava o eremita, que evitava aglomerações, para que desavenças não fossem criadas. Não tinha intenções políticas ou revoltosas.
João Maria saiu do Brasil em 1852 e não voltou mais. Passou pelo México, Cuba e EUA, onde veio a falecer em 19 de abril de 1869, no povoado de Mizila, morto provavelmente por índios. Segundo o historiador ele foi mal estudado, dando-se mais ênfase à crença do que ao individuo.
Alexandre está escrevendo um livro sobre o Monge, que ao término será intitulado “O Eremita do Novo Mundo”.
O pesquisar conta que talvez no Brasil seja o lugar onde mais preserva a crença ao João Maria. Em pesquisa sobre a história do Monge, nos Estados Unidos, Alexandre encontrou uma fotografia tirada em Nova Iorque pelo Eremita.
O pesquisador esclarece: a foto que tradicionalmente se conhece é do segundo monge, mas serviu para fixar as obras do primeiro.