Quanto mais você se aproxima do poder, ou daqueles que detêm o poder, mais nítido fica: o que importa mesmo é saber elogiar.
Não, não importa se fizeram ou não algo realmente relevante. O que é imprescindível é que apareçam nas páginas dos jornais ou sejam citados nos microfones. Se existir possibilidade de se fazer um busto e colocar em praça pública, melhor.
As coisas mudam se disser que estes “poderosos” com ego inflado podem não ser os políticos, mas pessoas comuns que cruzam conosco na calçada? Infelizmente, não. A sedução do elogio é a mesma, para todos.
No jornal, como trabalhamos com histórias e, consequentemente, pessoas, constantemente é preciso administrar o ego de certos entrevistados. Mas, aí, até é possível de se entender. Afinal, o camarada está em evidência naquele momento.
Mas, como lidar com o ego daqueles que não estão em evidência e se sentem ofendidos por tal situação? Muitas vezes, é bom ressaltar, caro leitor, não há motivos para que estejam em evidência.
O que devemos fazer? Criar factóides? Não… Não seria o correto.
Quando há reclamações, justas, e feitas de forma educada à redação, sempre serão ouvidas. Se alguém se sentiu excluído por não ter sido citado a respeito de determinado fato, em matérias do semanário, é mais do que justo que peça espaço para mostrar mais um lado da história. Mas, leitor, educação nunca é demais. Ah! E outro detalhe: não há motivos para não se identificar.
Mas, voltando ao assunto do elogio. Pesquisando sobre o tema, descubro que a busca pelo aplauso ou pelo elogio pode ser fruto de privação emocional ou de falta de auto-aprovação na vida pessoal. A incerteza íntima leva o indivíduo a questionar o valor de seu desempenho e a estar sempre tentando provar sua importância por meio de louvor e apoio. Sua carência de autovalorização é atenuada com manifestações de enaltecimento.
Mas, mais cedo ou mais tarde será envolvido por uma aura de fracasso, por isso a necessidade de sucesso se torna cada vez mais intensa. Por fim, não consegue demonstrar sua superioridade e acaba frustrado.
Para que possamos compreender esse fenômeno psicológico, é imprescindível aceitarmos que “onde há uma raposa sedutora, sempre haverá um corvo seduzido; onde há um trapaceado, sempre haverá um trapaceiro”. Quem adula suborna o outro. Suborno não é simplesmente dar dinheiro ou bens a terceiros com a finalidade de conseguir alguma coisa ilegal, mas, igualmente, dar fictícias qualidades, servir-se da fraqueza alheia, adulterar as possibilidades de alguém, utilizando manifestações exteriores que tendem a exagerar ou enaltecer descompensações psíquicas com o intuito de tirar algum tipo de vantagem.
A necessidade de elogio mostra imaturidade. O ser amadurecido impõe respeito e não cede diante da adulação. Entre adulação e admiração há uma divergência incondicional: o que admira não adula; o que adula não admira. A adulação é uma porta escancarada para o favoritismo, mas muito estreita para aqueles dotados de autoconfiança. A vaidade é a ostentação dos que procuram lisonjas, ou a ilusão dos que querem ter êxito diante do mundo, e não dentro de si mesmos.
Na última semana tivemos reclamação sobre o que nos motivou a fazer uma matéria sobre a Celina, que foi Conselheira Tutelar na Lapa. De forma pouco educada, nos disseram que as informações ali contidas seriam inverídicas. Esclareço que não há motivos para trazer inverdades sobre uma pessoa que até hoje é lembrada, com carinho, por muitos da comunidade lapeana.
Da mesma maneira, mas com educação, recebemos reclamações sobre as matérias referentes aos colégios da Lapa. Sobre o assunto, esclarecemos: não é nossa intenção fazer um resgate histórico da fundação das instituições. Sabemos da importância disso. Mas, neste momento, a intenção é outra. È mostrar o que é oferecido no ensino público hoje, na Lapa, e suas dificuldades, assim como mostrar, em alguns casos, a falta de participação dos pais na escola e a falta de uma boa gestão para tornar o local melhor.
É isso, leitor! Se trabalhamos com pessoas, consequentemente temos que lidar com a necessidade que cada um tem de reconhecimento.Mas, lembre-se: críticas, sugestões, pedidos de correções sempre são aceitos, desde que com educação e que sejam justos.
“Elogiamos ou criticamos de acordo com a maior oportunidade que o elogio ou a crítica oferecem para fazer brilhar a nossa capacidade de julgamento.” (Nietzsche)