DROGAS – Poder público deve investir mais em prevenção do que em repressão, defende especialista

Psicólogo alerta que as drogas estão em todas as classes, mas que os governos não atendem quem mais precisa – a periferia

“Dependência química é a doença mais democrática que existe. Pena que as autoridades não agem com a mesma democracia no combate e prevenção”. Com esta declaração, o psicólogo Dionísio Banaszewski, especialista na orientação, prevenção e combate ao uso de drogas, alerta para a importância de uma presença maior do poder público nas políticas de prevenção e combate às drogas, principalmente nos bairros mais pobres das cidades.

As drogas estão cada vez mais presentes em todas as classes sociais. Jovens ricos e pobres, de escolas particulares e públicas, são seduzidos a cada dia pelo tráfico e se envolvem com o uso de drogas lícitas e ilícitas. Mas quem mais sofre os efeitos desse alastramento são os mais pobres, segundo denuncia o especialista. “O sofrimento com as drogas é generalizado: famílias se desestruturam, a violência se espalha… Mas o problema é ainda mais sensível nas populações menos assistidas, porque boa parte das ações preventivas e de orientação não chegam até a periferia”, argumenta.

O especialista denuncia que o poder público, nas suas mais diversas esferas (federal, estaduais e municipais) ainda age muito no combate e pouquíssimo na prevenção ao uso de drogas. “Antes de ser um problema de polícia, as drogas são um problema social e cultural”, comenta. “E o que primeiro chega às classes mais desassistidas é a repressão”, analisa. Dionísio defende que a melhor arma para se evitar o uso abusivo de álcool e drogas é a informação.

“Infelizmente, os dois últimos lugares a que chega o dependente químico são a Justiça e o psicólogo, quando deveria ser o contrário”, compara. Quando chega à Justiça, o dependente já cometeu algum tipo de delinqüência que o levou às mãos da polícia. Se houvesse um trabalho preventivo, a violência não se instalaria, de acordo com a visão de Dionísio Banazsewski. Da mesma forma, a preparação psicológica deveria ser preventiva e para toda a família. “Infelizmente o que a gente vê é autoridades e profissionais envolvidos na questão falando em recuperação do usuário, sem sequer discutir a questão da prevenção. O trabalho preventivo é o único que pode, de fato, promover uma mudança cultural que leve à redução do problema social das drogas”, conclui o especialista.

EXEMPLO DE AÇÃO EM CURITIBA

Aumentou a procura por palestras de prevenção às drogas oferecidas pela prefeitura de Curitiba, pelo programa Papo Legal. Até outubro, a Secretaria Antidrogas Municipal de Curitiba realizou 261 eventos em associações de moradores, escolas e igrejas. Foram 87 reuniões a mais que as 174 feitas no ano passado.

O balanço mensal da Secretaria Antidrogas aponta o crescimento de 50% em pedidos feitos pela comunidade para que a prefeitura leve informações para crianças, jovens e adultos. Somente neste ano, 13.373 pessoas participaram das palestras.

Nos encontros são abordados os impactos negativos das drogas e os prejuízos que elas causam às famílias das pessoas, com temas focados na prevenção às drogas e a violência visando a conscientização de crianças, jovens, adolescentes e adultos.

Dentro das ações de prevenção, a Secretaria Antidrogas Municipal registrou aumento na participação de jovens no programa Bola cheia. No acumulado do ano, 48 mil jovens participaram de atividades de lazer, cultura e esporte, que acontecem nas noites de sextas-feiras e sábados. O número é maior que o registrado em todo o ano passado, quando foram atendidos 41 mil jovens.

Também cresceu o número de operações especiais, foram 38 neste ano, atingindo 128 mil pessoas. Em geral, as operações especiais acontecem em partidas de futebol do campeonato brasileiro, festas raves, feiras e shows, utilizando câmeras de monitoramento e cães farejadores. Durante as operações também são distribuídos materiais informativos sobre prevenção às drogas e à violência, principalmente para o público juvenil que tem maior presença e participação nestes eventos.

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