As Cracolândias da Lapa

Na semana passada, enquanto tomava o café da manhã, me chamou a atenção uma matéria divulgada na televisão sobre a ação em São Paulo, para acabar com a chamada “Cracolândia” no centro da capital paulista. A ação dispersou os usuários.

Dias depois, vi uma foto em uma revista, mostrando aquele “mar de zumbis” sendo retirados do lugar. Fiquei impressionada com a imagem. Para onde eles foram? Para não muito longe dali…

As ruas dos arredores foram ocupadas, não em massa, mas de forma a causar preocupação a moradores e comerciantes da região. Não sem razão.

O viciado em crack é o pivô da maioria dos delitos. Seja do simples furto até o homicídio. Junto com isso vem todos os problemas da concentração dos usuários, a venda dos entorpecentes, insegurança…

E, ainda, para contribuir com a reflexão, ainda naquela semana vi outra reportagem sobre drogas. Uma mãe usava a filha, de um ano de vida, para despistar a polícia e vender drogas. Ao todo, 16 mil pedras de crack colocadas em quatro mil pinos prontos para ser distribuídos. A polícia registrou o momento em que a droga foi encontrada dentro de um carro, dirigido por Jéssica Helena Diaz, de 25 anos. No apartamento dela, na Zona Leste de São Paulo, mais droga escondida e munição.

As investigações apontam que sempre que a mãe ia fazer as entregas da droga, a criança estava junto. Além do crack, a polícia apreendeu também morfina, maconha, cocaína, uma balança de precisão e uma arma.

Segundo o delegado responsável, as 16 mil pedras abastecem a “Cracolândia” alguns dias para muitos viciados. A menina, filha da traficante, foi entregue à avó.

Quantas Jéssicas existem no país? Quantas Jéssicas existem na Lapa?

A “Cracolândia” está enraizada somente em São Paulo?

Na Lapa, cada terreno baldio é uma potencial “Cracolândia”, quando já não o é. Somente não concentra aquele “mar” de gente como São Paulo.

E o que fazer contra tudo isso? Onde esta situação irá chegar? Você já parou para se perguntar a respeito?

Eu sim. Fiquei imaginando que chegará um momento em que ficaremos sem saída contra as drogas. Internamento? Tratamento? Balelas e mais balelas… Afinal, esta política pública, de atenção ao dependente químico, em verdade é inexistente no país… O que imaginei, analisando a situação, é que chegaremos a um ponto em que, ao invés de pedirmos mais vagas em presídios, imploraremos por mais vagas em estabelecimentos onde os viciados fiquem presos. Para tratamento? Não. Seria adotada a política de redução de danos, ou seja, seria fornecida a droga para o usuário. Desta forma, ele não precisaria sair para roubar, matar…

E quem iria pagar a conta? A própria sociedade.

Veja bem, leitor. Esta é uma análise particular. Espero que não cheguemos a este ponto. Mas, acredito que para não termos este fim, precisamos que se invista na prevenção.

Mas isto exige comprometimento. Não só meu, seu. Mas de todos. Desde a escola, o conselho tutelar, o poder judiciário, a polícia, os clubes de serviço, o poder público. É preciso dar opções, perspectivas de vida, para aqueles jovens que estão à margem, que são os principais alvos deste problema.

A família está desestruturada, não há opção de lazer onde ele reside, tem dificuldades na escola, a autoestima está baixa, não há perspectiva de vida… Como você seria se vivesse esta realidade? Já experimentou se colocar no lugar do outro? Deixar o medo de lado, se aproximar e conhecer os motivos daquele grupo?

É preciso ir além e assumir a nossa responsabilidade. Cada qual na sua função: escola buscando saber os motivos da desistência daquele aluno; conselho tutelar agindo junto às famílias; sociedade dando oportunidades àquela população e não fechando portas para quem já cometeu um deslize; poder público ocupando os espaços e oferecendo opções…

Somente com ação concreta, e sem discurso, é que se poderá chegar a uma solução. Para que as “cracolândias” se tornem só enredo de história ficcional.

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“O maior patrimônio de uma nação é o espírito de luta de seu povo e a maior ameaça para uma nação é a desagregação desse espírito”. (George B. Courtelyou)

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