As ultimas tropas pela Lapa

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Lá pelos idos de 1948/50, eu assisti as ultimas tropas de gado passar pela Lapa. Nessa época eu tinha uns 12/14 anos, lá se vão 64 anos atrás. Eta mundo véio.

As tropas vinham do Rio Grande do Sul e iam até Sorocaba-SP, e ao passar pela Lapa, onde ao cair da tarde acampavam nas cercanias para descanso, e na manhã seguinte adentravam a cidade e percorriam a Avenida Manoel Pedro de sul a norte, dobravam a direita à rua Francisco Braga e iam até o fundo da Igreja de Santo Antônio, onde dobravam a esquerda e desciam a Rua Cel. Dúlcídio, onde dobravam a Rua Conselheiro Alves de Araújo, subindo o morro até o alto da lapa, que era a estrada Lapa-Curitiba.

Nós, gurizada de 12/14 anos ao ouvir aqueles lindos berros da boiada: bééééé, ficávamos encantados com o bé, e mais ainda quando os bois e vacas davam aquela modulação béé huhuhuhu, meu chapéu de palha, que coisa linda. Nessas alturas nós criançada íamos andando ao lado dos bois, sob os gritos nervosos dos boiadeiros: “Saiam dai criançada, que o gado é bravo.” Que nada, quando os boiadeiros tocavam o berrante que era o catalisador do encontro da viagem e união do gado, a cachorrada corria nos cruzamentos das ruas para evitar do gado se extraviar para os lados.

Aí então, com o toque do berrante, a gente tinha vontade de dançar e dava uns pulinhos de alegria e felicidade de ver, 500, 600, 800 bois e vacas. Tinha uns bois com chifres grande, que dava vontade de sentar no meio dos chifres e seguir viajem junto.

Atrás da Tropa, iam os cozinheiros dos tropeiros, os violeiros, os sanfoneiros, e os cantores, juntamente com a comida, alegravam a viajem e o encanto do pastoreio. Que coisa linda que o tempo levou para sempre. Se eu não fosse velho hoje, já com 76 anos, sem aquela possante voz do passado “tenor” que eu era, queria dar uns berros de béééé, para ver se juntava alguns bois e vacas, por perto, para relembrar o passado.

Foi uma cena bonita, foi um passado lindo, foi um berro que deixou saudade, pois foi um momento do viver do passado, que a vida moderna extinguiu. Aliás, falta também relembrar os latidos dos cachorros acompanhando a tropa: Au, Au, Au e de vez enquanto um conhenhem, conhenhem, quando um cachorro levava uma chifrada de um boi. A saudade e a beleza dessa cena da vida de uma tropa, que a vida moderna extinguiu para sempre, que não se vê mais, é um filme que o homem de ontem viu e que no futuro, os homens não imaginam que isto existiu. Au Au Au, bééééé. Que saudade! Uma imagem do paraíso.

Lapa, PR, 29 de janeiro de 2013

Abdalla João Dardaque

Cidadão Honorário da Lapa

 

P.S.: Dedico esta crônica ao meu amigo mestre Vilmar Fávaro Purga, futuro PREFEITO CANTADOR DA LAPA – Meu chapéu de palha. Vilmar, o dia que você for prefeito, eu vou pagar meu violino e te acompanhar em alguma música, e vamos tirar uma foto e publicar na Tribuna Regional. Eita bocho veio!

                                                                                                                                                                                                                                                                                         

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