Passei em frente ao cinema cujo nome lembra um passado não tão distante: Cine Imperial que o conheci como Cine Glória.
A visão do prédio trouxe-me gratas recordações da infância como os seriados do Flash Gordon, do Super-Homem, do Fantasma, do Zorro, complementados com filmes do Faroeste, dos três patetas, do Gordo e o Magro. Na sessão noturna, quando tive permissão para ir, assisti bons filmes para satisfação dos fãs de bons atores.
No palco, esporadicamente alguma peça teatral tinha vez. Nós, alunos do Ginásio “Novo Ateneu”, representávamos alguma obra visando dinheiro para a formatura e também pelo prazer de atuar, pois é preferível ser protagonista, do que plateia. As sessões eram acompanhadas pelos cartuchos de pipocas ou amendoim. Houve tempo em que as cascas formavam um tapeta difícil de remover.
Tempo dos “footings”, dos flertes, de guardar lugar para o namorado, talvez envergonhado, entrava a buscar assento no escuro, devia ter olhos de coruja…
Soube do incêndio e na gestão do governador Requião, recebeu um trato especial – não se assemelha ao velho casarão de madeira, pois contou com bons arquitetos em sua restauração – como a ave Fênix, nascia de suas próprias cinzas. Não conheci depois da reforma, soube que ficara bonito e adequado para teatro.
Com o descaso das autoridades tanto estaduais como municipais que as elegemos e neles confiamos, ontem entramos no prédio. O choque foi anafilático, pois em vez dessa obra beneficiar a Lapa, jaz agonizante pela negligência dos poderes públicos.
Interrogo-me: por que gastar tanto dinheiro nessa reconstrução para depois abandoná-la? Uma casa de cultura em qualquer lugar civilizado é objeto de orgulho e de amor pelos moradores. Nós regredimos? Não nos esforçamos para conservar uma casa de espetáculos?
A televisão matou o cinema ou a incúria de certos grupos no poder, está a deixar cair uma obra que custou tanto aos bolsos dos habitantes? Numa obra pública está o nosso dinheiro pelo qual nós labutamos tanto para obtê-lo. Pagamos impostos e gostaríamos de receber em troca, certos direitos, como boa saúde, boa educação, boas estradas e o complemento essencial a uma vida agradável: o direito do lazer. Quem se elege tem o dever de garantir o bem público, e nós o dever de zelar por ele como também defender um patrimônio que é de todos. Evoluímos ou Regredimos?