Nesta semana trago a você, leitor, um texto enviado pela amiga e leitora Eduina de F. Fávaro Ribas, que é psicopedagoga na Lapa. O texto nos faz refletir sobre nossas atitudes, sobre a nossa ética. Muito relevante para o nosso cotidiano e para a nossa tomada de decisões. Acompanhe:
“’Nenhum homem é uma ilha’. Esta famosa frase do filósofo inglês Thomas Morus ajuda-nos a compreender que a vida humana é convívio, é relacionamento, é cumplicidade, é idealismo. Para o ser humano viver é preciso compartilhar a vida. É justamente na convivência, na vida social e comunitária que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e ético. É na relação com o outro que surgem os problemas e as indagações morais, pelas quais buscamos respostas O que devo fazer? Como agir em determinada situação? Como comportar-me perante o outro? Diante da corrupção e das injustiças, o que fazer?
Portanto, constantemente no nosso cotidiano encontramos situações que nos colocam diante de problemas práticos e concretos da vida em sociedade, ou seja, problemas que dizem respeito às nossas decisões, escolhas, ações e comportamentos, os quais exigem uma avaliação, um julgamento, um juízo de valor entre o que socialmente é considerado bom ou mal, justo ou injusto, certo ou errado.
O problema é que não costumamos refletir e buscar os ‘porquês’ de nossas escolhas, dos comportamentos, dos valores. Agimos por força do hábito, dos costumes e da tradição. Com isto, perdemos nossa capacidade critica diante da realidade. Em outras palavras, não costumamos agir com ética, pois não fazemos a crítica, nem buscamos compreender e explicitar a nossa realidade pessoal e moral.
Temos encontrado vários exemplos para o que afirmamos estar marcado pelas injustiças sócio econômicas, pelo preconceito racial e sexual, pela exploração da mão-de-obra infantil, pelo ‘jeitinho’. A realidade brasileira nos coloca diante de problemas éticos bastante sérios. Contudo, já estamos por demais acostumados com nossas misérias de toda ordem. Naturalizamos a injustiça e consideramos normal conviver lado a lado às mansões e aos barracos, as crianças e os mendigos nas ruas; achamos inteligente e esperto levar vantagem em tudo e tendemos a considerar como sendo otário quem procura ser honesto. Fala-se numa crise ética, já que tal realidade não pode ser reduzida tão somente ao campo político-econômico, envolve questões de valores, de convivência, de consciência, de justiça, envolve vidas humanas. Onde há vida humana em jogo, impõem-se necessariamente um problema ético. Neste sentido, a Ética vem denunciar toda realidade onde o ser humano é desrespeitado na sua condição humana.
A ética, que é conviver com o outro, demanda, portanto, restrições para autenticar a liberdade. É preciso renunciar para escolher o que é melhor para a comunidade e não apenas para si mesmo. Mesmo assim, por mais ético que seja, o homem necessita da culpa. Por ser uma história em aberto, sempre falta algo ao homem: ele nunca está satisfeito. Ele nunca consegue atender a todas as necessidades que correspondem à sua essência e ao seu conviver. A culpa é perceber a impossibilidade de cuidar de si, do outro e do mundo com perfeição. É o popular ‘querer abraçar o mundo’. Ninguém tem braços tão compridos e tão grandes, por isso precisamos de muitos braços fortes, unidos o máximo possível, para poder amparar tudo aquilo que é do interesse de um conjunto de pessoas em busca de um mesmo ideal. Isso é ética, isso é compartilhar o bem comum: cuidar de si mesmo e do outro.”
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“A ética se imporá naturalmente, quando compreendermos que ela é indispensável à sobrevivência da sociedade.” (Valter da Rosa Borges)
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“Só cumprir o que a lei manda não faz de mim um ser social. Falta considerar o que a ética pede. Sem ela sou meio cidadão, meio bandido.” (Demétrio Sena)