A democracia cristã do Papa

O Papa Francisco, desde o início do seu pontificado, vem surpreendendo com posicionamento e pregação enfocando pobreza, economia e justiça social. Reconheceu e condenou o fato de que “homens e mulheres são instrumentos de um sistema social e econômico dominado pelos desequilíbrios.” Segundo ele, sociedade justa é aquela em que o centro seja o homem e seu bem, não o dinheiro. Lembra que não resolveremos os problemas do mundo sem equânime distribuição de recursos.

Há muitos outros conceitos defendidos pelo Papa, bastam estes para demonstrar que convergem para o ideário e pregação política da Democracia Cristã com base na liberdade, na solidariedade e na justiça.

A ideologia política da Democracia Cristã coloca o ser humano, sem restrição ou discriminação, como objetivo central do desenvolvimento. Defende a atividade econômica e compartilhamento da riqueza como base para o progresso individual, porque não existe bem-estar da população em geral sem economia forte, empresas estruturadas e produção moderna para consolidar o desenvolvimento coletivo, portanto não um capitalismo selvagem, mas com visão social.

A Democracia Cristã teve grande e influente momento na política brasileira representada pelo Partido Democrata Cristão (PDC),  comandado por lideranças exponenciais em diversas regiões, como Jarbas Passarinho (Pará), Franco Montoro (São Paulo) e Ney Braga (Paraná), ente outras. A ala jovem, Juventude Democrata Cristã (JDC), era extremamente atuante, dinâmica. Porém, com o advento do regime militar e a extinção dos partidos, incluindo o PDC, o movimento cristão democrático se dispersou como força política, mas os ideais permaneceram.

Eu seguia essa linha político-doutrinária e havia integrado a JDC. Depois de restabelecido o pluripartidarismo, reorganizamos e reestruturamos o partido promovendo uma refundação do PDC , que se organizou em todo os Estado e tinha destacada representação no Congresso Nacional. Fui eleito presidente nacional do partido e desenvolvemos trabalho no sentido da consolidação da sigla. Nessa época, com um grupo de líderes nacionais que incluía também lideranças sindicais, o braço sindical que se instituíra no partido, fomos à Itália, onde a DC era grande força política, o partido tinha sete ministros no gabinete italiano e todos participaram das reuniões que tivemos, as quais foram proveitosas no sentido de apoio, pois nosso objetivo era filiar o PDC brasileiro à Internacional Democracia Cristã.

Mais tarde, a então direção nacional decidiu fundir o PDC com o PSD, liderado por Paulo Maluf, que depois se transformou no Partido Progressista Renovador (PPR), cujo estatuto foi baseado nos princípios da Democracia Cristã, cabendo a Jarbas Passarinho e a mim a redação do estatuto. Em seguida o PPR deu origem ao atual Partido Progressista (PP) fundamentado em outros princípios, inclusive tendo envolvimento em escândalos como o Mensalão e mais recentemente no esquema investigado pela Operação Lava Jato.

A Democracia Cristã, sem dúvida, é a melhor doutrina política para o povo que deseja ser tratado com dignidade e respeito independente de ideologias, porque estas são mais de cúpulas de dirigentes e governantes.

Para o povo não interessa se o governo é direita ou esquerda, se liberal ou socialista. Ao cidadão importa que o governo atenda suas necessidades básicas, seus direitos garantidos constitucionalmente. Não interessa se o hospital é público ou conveniado, ou se a escola é pública ou não, pois o essencial é o atendimento e que os serviços prestados sejam ágeis, eficientes e de qualidade.

Se os governos adotassem o ideário da Democracia Cristã tudo melhoraria em termos de justiça social, com mais benefícios para os pobres sem enfraquecer os ricos ou o sistema econômico e produtivo.

Luiz Carlos Borges da Silveira – empresário lapeano, ex-Ministro da Saúde.

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