Império da Mediocridade

A política brasileira tem várias caras, é qualificada pela população com diversos adjetivos, quase todos negativos e alguns até pejorativos, mas sem nenhum exagero, nem fora da realidade. A mediocridade impera e impede o surgimento de nomes merecedores do respeito e da admiração do povo.

Via de regra, políticos e gestores públicos estão a fim de aparecer, de conquistar espaços e se projetar na mídia pouco se importando com a opinião dos cidadãos. Os executivos buscam o populismo e colocam em risco a administração, o ato de bem governar, e talvez por isso o governo federal, os governadores e prefeitos enfrentam crises sucessivas e acabam se preocupando com arranjos políticos ao invés de procurar soluções.

No âmbito legislativo, para se enxergar a mediocridade do Senado basta lembrar nomes exponenciais da política brasileira que já formaram essa casa revisora desde o império: Visconde de Taunay, Duque de Caxias, Ribeiro de Andrade, José Bonifácio de Andrada e Silva; no período republicano Arthur Bernardes, Epitácio Pessoa, Hercílio Luz, Daniel Krieger, Afonso Arinos, Benedito Valadares, e mais recentemente Jarbas Passarinho, Teotônio Vilela, Paulo Brossard, Ney Braga, Franco Montoro, Tancredo Neves e tantos outros.

Atualmente, temos figuras apagadas politicamente, populistas e popularescas (folclóricas até) que se elegem mais pela popularidade do que por atributos de um bom político; outros são negocistas contumazes e alguns até investigados ou denunciados por carência de decoro. A maioria vai se perpetuando com mandatos sucessivos. O atual presidente, Renan Calheiros, noutros tempos em que ocupou o mesmo cargo, cometeu irregularidades passíveis de cassação, o que só não ocorreu porque renunciou.

Na Câmara Federal, onde vegetam 513 deputados, não mais do que um terço tem real envergadura política e estofo pessoal para o cargo. O atual presidente, Eduardo Cunha, na ânsia de aparecer e reforçar seu medíocre currículo adotou postura pouco republicana ao se colocar numa trincheira contra o Executivo aproveitando-se da insatisfação popular. Aplicou até a “pauta bomba” para pressionar e negociar com o governo. Depois do episódio de suas mal explicadas contas bancárias na Suíça teve de amenizar o ímpeto nos pedidos de impeachment por necessitar do apoio do Planalto e da bancada aliada contra o risco de cassação.

Estes e aqueles – isto é, deputados e senadores – são quem tem a responsabilidade de fazer as leis deste país, o que torna atual as palavras do prussiano Otto von Bismarck que certa vez sentenciou: “Se todos soubessem como são feitas as salsichas e as leis certamente não as aceitariam.”

Até no Judiciário, especialmente nas altas cortes em que a indicação e a nomeação geram questionamento, infelizmente também há reparos.

No Tribunal de Contas da União ministro Augusto Nardes tentou sair do anonimato ao pegar carona no processo de desaprovação das contas do governo Dilma, em que era relator, e acabou temporariamente afastado devido a constantes entrevistas deslumbrado com a visibilidade midiática, chegando ao ponto de antecipar a decisão do colegiado, o que quase criou impasse jurídico que poderia anular o processo.

Mas, sejamos justos, esse endêmico estado de mediocridade não ocorre apenas no âmbito federal dos três poderes. Perpassa pelos estados e chega aos municípios, onde grassa o despreparo político, administrativo e de conduta, sendo notórios e continuados os casos de prefeitos foragidos, outros presos e afastados; não raro acontece o mesmo em Câmaras municipais. Assim também, as Assembleias estaduais seguem o padrão do Congresso em mediocridade, abrigando populistas, representantes corporativistas parcos de ideologia e coerência, sem formação ou preparo para a função.

Nos legislativos federal, estaduais e municipais os medíocres e malfeitores se socorrem do ilegítimo e nada isonômico foro privilegiado e se protegem na mal interpretada imunidade parlamentar, prerrogativa que, constitucionalmente, somente deve ser aplicada nos casos de opiniões, palavras e votos no exercício das atividades, não para acobertar crimes comuns.

Curiosamente, é de se perguntar: por que os medíocres se sobressaem na política, por que estão lá? Talvez porque a política se deteriorou no sentido moral e inibe as pessoas de bons propósitos que não querem conviver com a mediocridade e pensam duas vezes antes de entrar na política. E, também, porque os custos das campanhas são muito altos, exigem investimentos jamais recuperáveis apenas com os honestos subsídios, ficando claro que quem gasta recursos próprios e de financiamentos questionáveis pensa em outros tipos de compensação que não se coadunam com o pensamento de um cidadão de bem que pretenda entrar na política para participar, colaborar, expor ideias, buscar resolução dos problemas do país e do povo. Diante disso, enfim, a política perde, seu nível piora e os oportunistas avançam e ocupam os espaços.

A verdade é que a autopromoção desmedida e o querer aparecer a qualquer custo são atitudes inerentes aos medíocres. As pessoas competentes conquistam seu espaço, a admiração e o reconhecimento naturalmente, por sua conduta, trabalho e realizações…

 

*Luiz Carlos Borges da Silveira é empresário, médico e professor. Foi Ministro da Saúde e Deputado Federal.

 

 

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