Impacto na economia local ainda não pode ser mensurado

Com o envolvimento da planta da JBS da Lapa na Operação Carne Fraca, é provável que expectativa de aumento na produção seja adiada.

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Na edição 1944, a Tribuna Regional divulgou matéria a respeito de intenção de expansão da unidade da Seara na Lapa. Três dias antes de ser deflagrada a Operação Carne Fraca, na manhã de 14 de março, o Vice-Prefeito e Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, Joacir Gonsalves, esteve na sede da empresa SEARA, na Lapa, a fim de estreitar os laços de amizade e cordialidade entre poder público e iniciativa privada.

O encontro, promovido e intermediado pelo Vereador Samuel Gois, teve como objetivo principal iniciar tratativas entre Poderes Executivo e Legislativo com o setor produtivo, estabelecendo o diálogo na busca por soluções viáveis de incentivo e colaboração mútua, visando o crescimento das empresas já constituídas na cidade.

Recepcionados pelo Gerente da Unidade, Marcelo Silva de Assis, e pelo Gerente Administrativo e Financeiro Ângelo Igor Bortolanza, foi realizada uma breve apresentação do plano de expansão que vinha acontecendo, até então, na indústria.
De acordo com a matéria, a unidade da Lapa pretendia aumentar a produção de 190 mil para 250 mil aves abatidas por dia. Este crescimento de mais de 30% viria acompanhado de maior incremento na geração de empregos diretos e indiretos e no número de criadores integrados, alavancando a economia local.

Agora, após todos os acontecimentos e reflexos nas exportações, a situação pode mudar. Em contato com funcionários da planta no município, foi informado que qualquer dado referente à situação deve ser repassado pela Assessoria de Imprensa da JBS. Até o fechamento desta edição, no entanto, a Tribuna Regional não havia obtido respostas da assessoria sobre qual será o posicionamento da empresa com relação à planta lapeana (mudanças na produção, demissões imediatas ou futuras, paralisações ou suspensões).

Ocorre que, na quarta-feira, a exportação diária de carne caiu de US$ 63 milhões para US$ 74 mil. Os números são relativos às carnes bovina, suína e de frango. O balanço foi feito pelo Ministério da Indústria e valor foi encaminhado para o Planalto.

IMAGEM ARRANHADA
De acordo com informações divulgadas na imprensa pela JBS Foods, as exportações de frangos e suínos para a China cresceram 81% apenas em 2016, em comparação com o ano anterior. Com isso, o país virou o principal destino das exportações da empresa, tendo que adaptar seu portfólio ao mercado chinês e passar por rígidos controles de qualidade, antes de começar as vendas. Os primeiros cortes de frango importados foram os pés e as asas, para só depois iniciar as vendas de coxas e sobrecoxas, além de asas calibradas por faixa de peso.

Mas, após a deflagração da Operação Carne Fraca, mercados exigentes, como China, União Europeia, Chile e Coreia do Sul emitiram, na segunda-feira, comunicados em que citaram preocupações sobre os produtos brasileiros. A China, principal destino da carne brasileira, com exportações nacionais de 1,75 bilhão de dólares em 2016, informou suspensão da entrada do produto até o Brasil prestar esclarecimentos.

Na visão do analista do analista do Credit Suisse, Victor Saragiotto, as notícias sobre a preocupação dos mercados importadores após o escândalo mostra que o trabalho do Brasil nos últimos 4 a 5 anos para elevar o número de acordos de comércio internacional pode sofrer retrocesso temporário. “Foram necessários anos para que o Brasil retirasse a suspeita das autoridades internacionais no mercado global de proteínas, e até mesmo em um cenário onde todas as questões sanitárias apontadas pela nossa Polícia Federal fossem descartadas a suspeita poderia ser suficiente para comprometer temporariamente a aceitação da proteína brasileira no mundo inteiro”, afirmou o analista em relatório a clientes sobre o anúncio chinês.

SEM SUBSTITUIÇÃO
No entanto, especialistas avaliam que os embargos à carne brasileira serão derrubados em pouco tempo, seja porque as investigações da Polícia Federal têm escopo menor que o inicialmente pensado, seja por causa da elevada dependência em relação ao Brasil nesse mercado. O país responde por 20% das exportações mundiais de carne bovina e 40% das de frango.

A avaliação de pesquisadores e analistas do setor é que as nações que barraram os produtos brasileiros terão grande dificuldade de substituí-los, especialmente no caso na carne bovina. Em valores, o Brasil é o maior exportador do produto: foram US$ 4,3 bilhões em 2016. Em volume, fica no mesmo nível que a Índia, mas os números indianos são inflados, pois entra na conta a carne de búfalo.

No frango, a China é o segundo destino das exportações. E é no Brasil que têm origem 70% das importações chinesas de aves, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “No mercado de frango é difícil substituir o Brasil”, diz Ricardo Santin, vice-presidente de mercado da ABPA.

Em outras situações de embargo a produtos brasileiros, como no caso da vaca louca em 2001, as restrições caíram rapidamente. Na época, o Canadá suspendeu as importações de carne. Parceiros no Nafta, México e EUA o seguiram. Mas, por pressão dos empresários americanos, que usavam a carne em vários produtos, o governo dos EUA voltou atrás.

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