Em entrevista coletiva concedida nas dependências da Seara no município, na terça-feira, Blairo Maggi, disse que “não assustaria ninguém aqui da Lapa, ninguém que trabalha aqui, de que as coisas não possam ser resolvidas”.
A unidade da JBS na Lapa atua no município há pelo menos 40 anos. Antes de pertencer à gigante do mercado de carnes, foi de propriedade das empresas Da Granja e Marfrig. Agora, leva a marca Seara, pertencente ao grupo JBS. A planta lapeana representa grande parte da economia local, contando com aproximadamente 1.800 colaboradores diretos, além de um grande número de agregados (como fornecedores, proprietários de abatedouros, por exemplo). A mão de obra é preferencialmente lapeana.
Diante destas informações, inevitável existir preocupação com a situação econômica que o município ficará, após a deflagração da Operação Carne Fraca, que teve a planta da Lapa como uma das investigadas.
Por conta de toda a repercussão da operação realizada pela Polícia Federal, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Blairo Maggi, vistoriou a unidade da Seara na Lapa, na terça-feira, 21 de março. O local, que produz frango e exporta para a China, foi alvo de mandado de busca e apreensão da Operação Carne Fraca. “Estamos no comando e no controle desta situação e não há risco nenhum para ninguém”, disse o ministro.
Na sexta-feira, 17, a Polícia Federal revelou um esquema de fraude na produção e comercialização do produto. Além de corrupção envolvendo fiscais do Ministério da Agricultura e produtores de carnes, a investigação apontou adulteração de produtos e venda de carne vencida e estragada. Das 21 fábricas investigadas, 18 ficam no Paraná. Considerada a maior operação da PF, quando se fala em números, a Carne Fraca obteve 309 mandados, sendo 37 de prisão.
O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Luiz Eduardo Rangel, afirmou que o que está em xeque é a credibilidade do processo de certificação, e isso preocupa o governo. Segundo ele, a China quer saber sobre a garantia da carne enviada. Por isso, segundo o secretário, o ministério irá enviar documentos neste sentido.
A UNIDADE DA LAPA
Em entrevista coletiva, logo após a vistoria na planta da Seara na Lapa, o Ministro lamentou o ocorrido e disse que quer dar transparência ao processo. Maggi afirmou que o Ministério está no controle. “Estamos no comando e no controle desta situação e não há risco nenhum para ninguém”.
Questionado sobre a unidade da Lapa e o que ela representa para a economia do município, Blairo afirmou que a planta é muito bem estruturada, que tem 40 anos. Assim ele afirmou: “Quem anda na planta percebe, quem tem o olho mais apurado consegue ver que ela é uma planta que tem uma boa manutenção. Quer dizer, é uma planta que está apta para receber autorização para funcionar. Eu espero, sinceramente, que os problemas que essa planta tem, como já foi dito antes, o problema desta planta não está dentro da planta. O problema da planta está ali fora, ali num escritório nosso do SIF que deu problema com um funcionário nosso. Então, até de certa forma, é muito ruim ver uma planta dessa sob suspeita, já que ela não participou de nada nesse processo. Mas, são as regras. O compromisso que o Luiz Rangel (secretário de Defesa Agropecuária do MAPA) tem conosco e com o mercado, como nós já informamos, que em três semanas nós vamos passar um pente fino em todas as 21 plantas, pra que no final destes dias, aliás, não vai ser no final, a cada semana a gente vai estar já se manifestando daquelas que foram fiscalizadas e que já terminaram a fiscalização, e qual é o caminho que nós vamos fazer. Então, eu não assustaria ninguém aqui da Lapa, ninguém que trabalha aqui, de que as coisas não possam ser resolvidas. O que nós queremos é resolver as coisas e que daqui pra frente a gente não ouça mais esse tipo de situação.”
Na segunda-feira, 20 de março, foi dado início à inspeção na planta da Seara na Lapa. A expectativa do Ministro é de que, até sexta-feira, 24 de março, a vistoria chegasse ao fim.
CHINA
Grande parte da produção de frangos, na planta da Seara da Lapa, tem destino o mercado chinês. Na terça-feira, participaram da vistoria feita pelo Ministro da Agricultura, e da entrevista coletiva, diversos veículos de comunicação nacionais e internacionais, entre eles a TV estatal chinesa CCTV.
Durante a coletiva, Blaggi afirmou que o governo da China solicitou ao Brasil relatórios com os nomes dos veterinários citados na Operação, bem como a lista das 21 empresas envolvidas.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse, em reportagem da emissora CCTV, na terça-feira, 21, em Pequim, que a China adotou medidas “preventivas e temporárias” para garantir a segurança dos consumidores chineses. “Esperamos que o Brasil possa lançar investigações rigorosas seguindo o princípio de ser aberto e transparente e que notifique a China sobre os resultados”, afirmou Hua. “Esperamos que o Brasil possa tomar medidas mais rigorosas para garantir a segurança dos produtos alimentícios que exporta para a China. A China e o Brasil são importantes parceiros comerciais.” Segundo a porta-voz do ministério, a China está “preocupada com a questão da qualidade dos produtos de carne do Brasil”.
A expectativa do governo brasileiro é de que a China retome em breve o desembaraço das remessas brasileiras de carne, após as explicações dadas às autoridades sanitárias chinesas. Segundo o secretário de Defesa Agropecuária, Luiz Rangel, os chineses queriam compreender melhor se os problemas detectados na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, eram corrupção de agentes públicos ou de saúde pública. “Deixamos muito claro que não há risco à saúde”, disse o secretário. Os chineses pediram essa garantia em um documento, que lhes foi enviado ainda na terça.
O Brasil tem 58 plantas autorizadas a exportar para a China. Dessas, apenas uma estava autoembargada pelo governo brasileiro: a planta da Seara (JBS) da Lapa.