Amor Materno

DIA DAS MÃES

A maternidade é um enigma. Por mais que se conheça sobre ela, ainda temos dificuldade para entender o porquê de tanto amor em uma relação mãe-filho. Até a bem pouco tempo, acreditava-se que o fato de ser mãe já seria por si só o retrato do amor mais puro vivenciado pela humanidade. Houve ainda um tempo em que se acreditava que ser mãe era “padecer no paraíso”. O desenvolvimento da psicologia atrelado ao da neurociência nos explica que o porquê de tanto amor deve-se a formação do vínculo entre mãe e filho. Parece óbvio, mas não é. A palavra vínculo é mais forte do que sua mera pronúncia diz. Ao se pronunciar vínculo, acreditamos que já está tudo embutido: amor, dependência, laço, cordão umbilical, tudo… Esta é uma visão reducionista e superficial do que ela significa.

O vínculo é a relação estabelecida pela mãe com o filho desde o desejo da concepção. O sentimento que origina o desejo já diz muito sobre como será construída esta relação. A aproximação dos progenitores, principalmente a mãe, ou seu distanciamento do filho é que determinarão como se dará a formação da estrutura infantil. Por aproximação podemos entender a forma de olhar, de pegar, de brincar, de conversar, de passar amor para esta criança e que fará diferença na formação estrutural da mesma. Da mesma forma que uma relação entre mãe e filho distanciada, negligenciada, sem cuidado, sem afeto, também construirá uma formação de vínculo não saudável junto à criança. A formação do vínculo acontece através do padrão de segurança física e emocional que a mãe dá ao filho, proporcionando a ele o alívio de ansiedade e aumento da segurança pessoal.

À mãe também está estabelecida a maneira como nos posicionaremos no mundo, principalmente junto às nossas escolhas futuras. O olhar da mãe sobre o mundo é transmitido para o filho, de modo que a leitura de mundo, a forma como a criança inicia a compreensão de si e de tudo que o cerca, passa pela forma como se dá o relacionamento com sua mãe. Passa pelo olhar da mãe. É esta a via de identificação e de vinculação criada para a formação do ser: o afeto. É só pelo afeto que se dará a formação de pessoas saudáveis, ajustadas e que conseguirão ser no mundo. Assim, a introjeção da imagem de si mesmo passa pela forma como foi estabelecido o vínculo entre mãe e filho. É nesta relação que somos construídos e que construiremos nossas relações futuras.

Quanta responsabilidade! Responsabilidade que não pode ser assumida pela teoria que explica, mas pelo amor que sente, transforma e vincula! O amor fala mais alto. Vivenciar o amor por um filho é uma dádiva, um presente recebido de Deus na vida de quem os tem. Por mais que saibamos das dificuldades que regem a educação nos nossos tempos, nada supera a alegria de ver as primeiras palavras sendo balbuciadas, da primeira vez na escola, do encanto pela mãe da infância, da amizade construída que gera as confidências, até a partilha dos problemas vindouros na vida adulta. Neste mundo, nada supera o amor de uma mãe pelo filho!  O sentimento diz: ser mãe é ter o mais sublime amor, muitas vezes sublimado pelos desencontros entre idades, é a confiança em todo um passado de construção com tijolos feitos de valores, é âncora que sustenta o filho na tempestade, é o porto de onde partem os filhos para voltarem algum dia e, novamente, tornarem a partir. O amor materno é a paciência pela espera de um encontro que nunca se acabe. De modo reducionista: é o vínculo!

*Maria Rita Gertner – psicóloga clínica (adulto e infantil) – CRP 08:IS/297.

 

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