Cachorro Perdigueiro

Há 65, 69 anos, a maioria dos cachorros da Lapa eram perdigueiros! Eis o porquê, naquela época, era permitido caçar. Andava-se armado de espingarda e pistola na cintura e um facão pendurado na cintura (Eita, bicho véio!).

O perdigueiro era um cachorro muito bonito, magro, alto, delgado de tanto correr. Era um animal caseiro e, na hora do almoço, sentava ao lado da mesa e comia junto com a família, gostava muito de comer bife.

Pois bem! Naquela época havia nos campos milhares de codornas e perdizes e centenas de outras espécies de aves e animais que a vida moderna do homem extinguiu para sempre; naquela época, então, a caça era permitida, e o cachorro perdigueiro era o animal especialista em achar no campo a codorna e a perdiz, e indicar ao caçador a posição e o local exato da ave.

Era impressionante o fôlego do animal, correndo horas a fio. E, ao avistar a codorna, parava a corrida e ficava imóvel. Naquele instante nem o rabo ele mexia, ficava totalmente imóvel indicando a posição da codorna, esperando o seu chefe caçador dar ordem de avançar e dar o tiro de execução.

Era até bonito de ver o balanço do rabo do perdigueiro em qualquer momento, e quando acuava a codorna e a perdiz ficava imóvel, com a cabeça olhando na direção da ave com o rabo misteriosamente parado, esperando o caçador dar ordem. “Pum! Pereréquéqué!”, dando a ordem de avançar e então dar o tiro na ave, que caía morta a poucos metros adiante. Então o perdigueiro abocanhava a ave e a trazia a seu chefe caçador.

É! Essas cenas aconteciam toda semana; são verdadeiras e o homem de hoje extinguiu. Quem viu, viu.

Há 68 anos eu tinha um amigo da minha idade que possuía um cachorro perdigueiro, que aprendeu a dançar principalmente quando ouvia um toque de sanfone. No começo, ele começa a balançar o rabo e depois a se requebrar com as cadeiras. Quando a sanfona dava aquele rasgo do becheiro, meu chapéu de palha, que coisa bonita e saudosa do perdigueiro dançador!

Não cito o nome do meu amigo, por consideração e respeito, por já ter falecido há mais de 40 anos. Mas o perdigueiro dançador realmente deixou muita saudade pela posição de acuamento da codorna e pelo gracejo de dançar ao som de uma sanfona.

*Abdalla João Dardaque – Cidadão Honorário da Lapa.

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