A docilidade e inteligência forjada nos nossos pampas.

O sr. Luiz Fagundes – o Santana, profissional de doma e condicionamento físico em equinos nos dando aulas sobre a raça crioula enquanto prepara o jovem “Aripuca Xeque Mate”, ainda em doma e treinamento.

Raça crioula, já muito popular em todo o sul do Brasil, desperta paixões e entusiasma criadores pelas suas características marcantes e possibilidades de lucro.

História e tradição é o que não faltam na raça de cavalos crioulos. Todos que são apaixonados pela raça já de começo se espantam com sua origem peculiar: trazidos pelos primeiros ibéricos (portugueses e espanhóis) a povoar os pampas sul americanos, animais das raças andaluz e berbere acabaram sendo soltos a pasto e retornando à condição selvagem. Com vários séculos de adaptação às nossas condições de clima e com a esperada seleção genética, foram surgindo animais com um padrão distinto das demais raças, com porte pequeno – altura entre 1,35 e 1,52 m, cabeça com perfil retilíneo, curto e largo, em forma de pirâmide, orelhas pequenas e afastadas na base, olhos grandes, vivos e expressivos, estrutura óssea corporal compacta e musculatura consistente.

Tornou-se uma raça conhecida pela longevidade, bastante ágil, resistente a diversos usos e condições climáticas, além de dócil, corajoso e inteligente. Isso a transformou na raça preferida para a lida com gado, passeio e enduro. Pode ainda ser usado como atleta em provas como o “Freio de Ouro”, que falaremos mais adiante.

O Sr. Luiz Fagundes, na foto, também conhecido também por “Santana”, já trabalha a 12 anos de forma profissional com doma e treino de animais. Não cansa de elogiar a raça, dizendo ser a mais dócil de todas que conhece, muito simples de se criar e cuidar, rústico na alimentação e também resistente às doenças, e com a vantagem de ser uma raça completa em termos de uso prático. A docilidade dos animais é bem comprovada pelo seu filho Samuel, de apenas oito anos, que não tem nenhum medo em ajudar ao pai na doma dos animais.

O sr. Luiz Fagundes – o Santana, profissional de doma e condicionamento físico em equinos nos dando aulas sobre a raça crioula enquanto prepara o jovem “Aripuca Xeque Mate”, ainda em doma e treinamento.

 

A docilidade da raça é comprovada pela égua “Diadema do Pé da Serra”, que aceita perfeitamente os comandos do jovem Samuel Fagundes, de apenas oito anos.

No Brasil o cavalo crioulo começou a ser domesticado e criado comercialmente no Rio Grande do Sul, Estado onde se tornou nativo e que é ainda hoje referência na raça, mas já se difundiu por pelo menos outros Estados brasileiros. Também é nativo e de grande importância em países como Argentina, Uruguai e até mesmo Chile.

Para quem acha que com o surgimento dos veículos automotores o cavalo virou coisa do passado, uma informação interessante: o Paraná tem um rebanho estimado em 500 mil animais – de todas as raças, é claro – e a nível nacional emprega mais gente que a indústria automobilística. Ainda tem o atrativo de ser um mercado que mesmo com toda essa crise que o Brasil passou – e ainda passa – tem crescido constantemente pelo menos 12% ao ano.

A paixão pela raça crioula faz com que muitos iniciem a criação. Exemplo é o dentista Rodrigo Querubin, que teve seu primeiro contato com a raça em 2010, e interessou-se bastante. Passou alguns anos estudando a criação como negócio, e em 2015 adquiriu seu primeiro exemplar e criou a Cabanha Quiriri, ali nos fundos do Parque do Monge. Hoje já possui sete éguas em cria e cerca de quinze animais em seu plantel.

Conta que a dificuldade é o tempo de maturação do negócio, pois demora alguns anos para que se atinja uma quantia considerável de animais, que ainda devem passar por treinamentos e domas – que demoram as vezes dois anos, e finalmente, para conseguir valorização e se tornar conhecido, ainda participar de competições e torneios – claro, se ganhar, ainda melhor. Tudo isso faz com que os primeiros anos sejam consumidos em gastos e investimentos, com poucos lucros.

Uma forma de minimizar o peso inicial foi juntar-se com outras cabanhas em despesas que todos tem e podem ser divididas. No caso, fez parceria com o Sr. Luis Baggio, proprietário da Cabanha RTB, e com o Sr. Pedro Vidal, proprietário da Cabanha Pé da Serra, e adquiriram em conjunto um garanhão que faz a cobertura para as fêmeas das três cabanhas. Também em conjunto contrataram o Sr. Santana, que citamos lá no início, para ser o treinador e domador dos seus animais e criaram um centro de treinamento, visando justamente buscar colocações no prêmio Freio de Ouro.

Este prêmio é uma espécie de olimpíada para cavalos e também para seus treinadores, e tem grande repercussão. Envolve hoje animais de quatro países, e costuma abrir as atividades da Expointer. Existem várias classificações dentro do Freio de Ouro, mas o nível de seleção é brutal: iniciam cerca de 4 a 5 mil animais em treino, para restar apenas pouco mais de 2 mil em competição. Destes, apenas 44 machos e 44 fêmeas participam da grande final. A premiação em si é simbólica, mas a valorização dos animais que se destacam é brutal, chegando a casos milionários.

Mas apesar de ser o mais conceituado, o Freio de Ouro não é o único prêmio. Existem várias competições menores em todo o território nacional.  Os criadores lapeanos estão filiados ao Núcleo de Criadores de Cavalo Crioulo do Planalto Paranaense, filiado à Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Crioulo – ABCCC. Este núcleo congrega cerca de 40 criadores, que tem em média 5 a 10 fêmeas em cria cada um, distribuídos nos municípios de Curitiba, São Luis do Purunã, Araucária, Quitandinha, e claro, tendo o centro e a presidência na Lapa.

Este núcleo é responsável pela elaboração de várias ações de aprimoramento dos criadores como cursos e treinamentos, além de provas não oficiais. Já a ABCCC realiza provas de animais e treinadores em várias categorias, mas também organiza leilões e claro, organiza a rastreabilidade genética da raça (o equivalente ao “pedigree” canino).

Contudo, mesmo com toda essa oficialização, padronização e valorização do cavalo crioulo, como trata-se de uma raça bastante difundida, é muito comum encontrar criadores não oficializados, ou até mesmo pessoas que buscam a raça apenas para trabalho e lazer, sem se preocupar especificamente com reprodução e campeonatos. Quem costuma visitar rodeios sabe que um bom cavalo crioulo pode fazer diferença em provas de laço – ou até, como ouvimos de um gaúcho em plena greve dos caminhoneiros: “fazer gaúcho feio ficar buenacho pra prenda”.

Apaixonado pela raça crioula e investindo na mesma desde 2015, o dentista Rodrigo Querubin vê muito futuro na criação destes animais. Na foto com a égua “Jasmine da El Comandante”.
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