Motoristas: as mulheres ao volante

Em qualquer lugar do mundo, elas estão tomando conta de profissões anteriormente somente de homens. Em Contenda e na Lapa, duas profissionais atuam pilotando ônibus. Conheça a história delas, em uma homenagem ao Dia do Motorista.

No dia 25 de julho comemorou-se o dia do motorista. Num primeiro momento, quando se fala na profissão, vem à mente homens ao volante. Mas, a realidade não é essa!

Com o intuito de homenagear todos os que exercem essa função, nesta edição a Tribuna Regional traz a você, leitor, um pouco da história de duas mulheres, motoristas profissionais, que dirigem ônibus. Elas conduzem com muita habilidade veículos de grande porte e chamam a atenção por onde passam.

Bruna Lopes Lorena, da Lapa, começou na profissão dirigindo uma van de transporte escolar, depois passou para o micro-ônibus e há seis anos pilota ônibus de viagem. Ela comentou que desde pequena acompanhava seu pai nas viagens e seu sonho sempre foi ser motorista igual a ele. “Meu pai é motorista, então sempre quis ser como ele. Eu já organizava excursões, viajava direto, e quando fiz minha carteira para ônibus fiquei mais um ano acompanhando outros motoristas experientes. Agora faz seis anos que dirijo e viajo para todo lugar do Brasil”, comentou Bruna.

Sobre o fato de ser mulher e motorista de ônibus, ela conta que os passageiros se surpreendem. “No começo as pessoas ficam um pouco apreensivas, admiradas. Perguntam se não é perigoso, mas depois que chegamos ao destino gostam e me procuram para conversar”, relata.

Mesmo com o aumento da participação das mulheres em diversos ramos e profissões, Bruna relatou que ainda se percebe um pouco de preconceito. Mas, por incrível que pareça, na concepção dela, este preconceito (ou insegurança) talvez parta de outras mulheres. Só depois que a viagem começa as passageiras demonstram confiar na motorista. Por sua habilidade ao volante, alguns clientes procuram a empresa e querem Bruna como motorista da viagem.

Ela relata que na estrada a amizade com os outros motoristas faz toda a diferença. “Existem mulheres motoristas de ônibus, mas ainda somos poucas, a maioria são homens”, explica. “Geralmente quando ocorre uma parada, ou acontece alguma coisa, a gente sempre recebe ajuda e apoio dos colegas. Na estrada temos bastante amigos”, diz.

A profissional ainda contou que a cada viagem registra uma experiência diferente. “Quando acontece de estragar o ônibus, por exemplo, tenho que me virar. Já tenho uma base do que pode ser o problema, a questão de acidente, é preciso estar ligada em tudo… A gente sai de casa com a certeza de que pode acontecer diversas coisas no caminho. Agora tenho um filho e saio com o coração na mão, mas é o que eu gosto de fazer e, na verdade, viajo feliz. Conheço muita gente e novas amizades se formam a cada viagem”.

Ela ainda relata a realidade do motorista que, apesar de ser peça fundamental para toda viagem, em inúmeras vezes não recebe o devido valor. Afirmou que há situações em que o profissional é deixado de lado. “Em algum hotel, por exemplo, já aconteceu de a atenção ser exclusiva para os passageiros e para os guias da excursão. Já o motorista acaba sendo instalado em outro local, até com menos conforto, afastado do grupo ou deixado por último. Não reconhecem que quem os levou foi ele. Nossa responsabilidade é muito grande, são 40 pessoas, 40 famílias que estamos levando. Mas é também muito gratificante. Amamos o que fazemos, levamos e trazemos pessoas que querem visitar novos lugares, famílias. Levamos os sonhos das pessoas”, relata.

Trabalho feito com muito carinho. Tanto é que Bruna continuou dirigindo praticamente por todo o período da gestação do filho Kauan. Três meses após o nascimento dele, assumiu o volante novamente. O pequeno já tem até um uniforme e acompanha a mãe nas viagens. A profissão que aprendeu com o pai, pretende passar para o filho. “Desde a minha barriga, até os nove meses viajando comigo, o levo junto. Ele adora, já leva a mão no volante. Tenho certeza de que vai gostar”, afirma, feliz.

 

E na cidade vizinha de Contenda, outro exemplo feminino ao volante: Eliane K. de Sousa, 48 anos. Dirige desde os 11. É motorista do transporte coletivo.

“Meu pai me ensinou a dirigir caminhão, trabalhando na lavoura e com lenhas.  Depois casei e continuei dirigindo com meu esposo, também motorista. Desde muito jovem sempre trabalhei na estrada, dirigindo sempre veículos grandes. Viajei muito, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, dentre outros lugares”, conta Eliane.

Depois do nascimento das filhas, Eliane deixou de viajar com caminhão e passou a trabalhar em uma empresa na cidade de Contenda, com matriz em Palmas, Paraná. Realizou muitas viagens de uma cidade a outra, durante oito anos, até o fechamento da unidade na cidade. Então foi trabalhar em outra empresa e passou a dirigir ônibus do transporte coletivo em linhas entre as cidades da região metropolitana de Curitiba. “Faz sete anos que trabalho no transporte coletivo. Hoje faço as linhas Contenda-Curitiba e do Ligeirinho. Intercalo as viagens, são três dias Ligeirinho e três dias Contenda-Curitiba”, explica.

A profissão para Eliane, assim como com Bruna, na Lapa, veio de berço. E ela passou o conhecimento aos descendentes. Hoje uma de suas filhas dirige caminhão, mas segue outra profissão. O filho trabalhou como motorista e hoje atua em outro ramo. Eliane destacou a sua realização na profissão, trabalha aos domingos, como muita gente, mas para ela os horários são bons, a tarde já está em casa.

Ela relata como é a reação das pessoas ao vê-la dirigindo. “Na época em que saí das viagens longas para as viagens curtas, com muitas paradas, achei que não me acostumaria. São muitas paradas, muita gente, trabalhamos com todo tipo de pessoa, com o público. Alguns nos elogiam, outros criticam. Muitos se admiram de nos ver dirigindo, outros comentam que podia estar fazendo outras coisas. Recebemos muitas críticas, mas vindas mais de mulheres do que de homens”, conta.

Eliane sai de casa às 4h50. A primeira linha sai às 5h20 de Serrinha, em Contenda. Segundo ela, a primeira viagem é muito tranquila, o ônibus vai lotado e ela conhece todos os passageiros da linha. Já no Ligeirinho ela não tem muito contato com os passageiros, inclusive já foi assaltada enquanto dirigia. “Nunca tive medo. É o dia-a-dia da gente”, conta.

Seja para o lazer ou para o trabalho, os motoristas transportam histórias, transportam vidas, transportam sonhos. Parabéns a todos!

Eliane, em Contenda, atua como motorista do transporte coletivo.
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