
Aumento expressivo de focos de raiva na região exige medidas urgentes de controle. Veterinário Weston Lemos Wendling, da ADAPAR, explica os riscos e a importância da vacinação dos rebanhos.
A raiva é uma doença antiga e amplamente conhecida, mas um novo surto vem preocupando os produtores rurais da Lapa e região. O número de casos tem crescido rapidamente nos últimos anos, e 2025 já começou com um ritmo alarmante de infecções.
Segundo Weston Lemos, veterinário da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR), a doença, endêmica no Brasil e na América Latina, nunca deixou de existir. Entretanto, os focos estão aumentando de forma significativa. Até 2020, os casos estavam mais concentrados em Palmeira e na região de Balsa Nova. A partir de 2021, começaram a se aproximar da Lapa. Em 2022, já havia casos confirmados no município e, em 2024, pelo menos um novo foco era identificado a cada mês.
O aumento não é apenas regional. Dados estaduais mostram uma escalada preocupante. Em 2020, foram registrados 80 casos de raiva em herbívoros no Paraná. No ano seguinte, esse número subiu para 101 e continuou crescendo: 123 casos em 2022, 171 em 2023 e um salto para 258 em 2024. Essa alta reflete um problema que vem se agravando e demanda ações urgentes.
Morcegos hematófagos são os principais transmissores
O principal transmissor da raiva para os rebanhos é o morcego hematófago da espécie Desmodus rotundus, que se alimenta de sangue de animais como bovinos, equinos e ovinos. Esses morcegos vivem em colônias e podem percorrer mais de oito quilômetros por noite em busca de alimento. Muitas das cavernas e grutas próximas aos rios servem como abrigos naturais para esses morcegos, facilitando a disseminação da doença.
A infecção se espalha rapidamente entre os animais, pois os morcegos infectados mordem repetidamente os mesmos indivíduos, transmitindo o vírus da raiva. Muitas propriedades já enfrentavam perdas de animais antes mesmo da confirmação da doença. Como os sintomas podem ser confundidos com outras enfermidades, alguns produtores acreditavam que o rebanho estava sendo atacado por cobras ou sofrendo com problemas desconhecidos. Apenas exames laboratoriais puderam comprovar que se tratava de raiva.
Sinais clínicos da raiva no rebanho
Os sintomas da doença nos bovinos e equinos podem ser sutis no início, mas evoluem para sinais graves. Alterações de comportamento, como isolamento, apatia ou agressividade, dificuldade para engolir, salivação excessiva e falta de coordenação motora são alguns dos principais indícios. Com o avanço da infecção, a paralisia progressiva leva à queda do animal e a morte é inevitável . Diante de qualquer suspeita, a recomendação é comunicar imediatamente a ADAPAR para que sejam feitas coletas laboratoriais e tomadas as providências necessárias.
Vacinação é a única forma de proteção
A única maneira eficaz de proteger os animais contra a raiva é a vacinação. Apesar da gravidade da doença, muitos produtores ainda não imunizam seus rebanhos, o que contribui para a rápida disseminação dos casos. Weston destaca que a vacina é acessível, custando menos de dois reais por dose, e pode ser aplicada pelo próprio produtor. Mesmo assim, a adesão à imunização ainda é baixa, o que representa um risco enorme para o setor agropecuário.
A vacinação deve seguir um esquema correto para garantir sua eficácia. A primeira dose precisa ser reforçada após 30 dias e, depois disso, a imunização deve ser renovada anualmente. Além de aplicar a vacina, é fundamental garantir o armazenamento adequado. O transporte deve ser feito em caixas térmicas, com gelo, e a vacina deve ser mantida entre dois e oito graus Celsius. Se exposta a temperaturas inadequadas, sua eficácia pode ser comprometida, anulando a proteção do animal.
Número de doses disponíveis ainda é insuficiente
Atualmente, a Lapa conta com 3.250 doses disponíveis para compra nas lojas agropecuárias. No entanto, esse número é insuficiente para cobrir toda a população de herbívoros do município, que soma quase 40 mil animais entre bovinos, equinos e ovinos. Como a vacinação da raiva não é obrigatória, muitas propriedades acabam negligenciando a imunização, o que mantém a cadeia de transmissão ativa e favorece a expansão da doença.
A ADAPAR realiza um trabalho contínuo de monitoramento dos abrigos de morcegos hematófagos. Quando um foco é identificado, técnicos visitam a região para capturar os morcegos e aplicar uma pasta anticoagulante, que é distribuída na colônia e reduz a população infectada. Além disso, os próprios produtores podem tratar os rebanhos atacados. Caso um animal já tenha sido mordido, a aplicação da pasta ao redor da ferida pode ajudar a diminuir a propagação da doença, pois os morcegos que retornam ao local acabam contaminando seus companheiros e controlando a disseminação do vírus.
Ações conjuntas para controlar a raiva
Com o avanço da raiva, a ADAPAR tem intensificado campanhas educativas e ações preventivas, em parceria com as Secretarias Municipais de Saúde e Agricultura. O foco dessas iniciativas é conscientizar os produtores sobre a importância da vacinação e do monitoramento do rebanho. Os esforços incluem palestras, visitas a propriedades e comunicação direta com os agricultores para reforçar a necessidade da imunização.
A população também pode contribuir denunciando locais com alta incidência de morcegos hematófagos ou notificando casos suspeitos à ADAPAR. Quanto mais rápido um foco for identificado, maior será a chance de evitar a propagação da doença para outras regiões.
A responsabilidade de vacinar é de todos
O surto de raiva que atinge a Lapa e outros municípios do Paraná exige uma resposta imediata. A vacinação em massa dos rebanhos é a única solução eficaz para conter a escalada da doença e proteger a economia agropecuária da região. A responsabilidade não é apenas do poder público, mas de cada produtor rural, que tem em suas mãos a possibilidade de evitar novas perdas e garantir a sanidade do rebanho. A raiva é fatal, mas pode ser prevenida. Vacinar é um ato de proteção, prevenção e responsabilidade com toda a comunidade rural.
O Entrevistado
Weston Lemos Wendling é veterinário, atua como Fiscal de Defesa Agropecuária da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR), responsável também pelo monitoramento e controle da raiva na região da Lapa. Ele tem acompanhado de perto o avanço da doença no município e trabalha na investigação de casos, orientação de produtores e promoção da vacinação dos rebanhos como principal medida de prevenção. Seu trabalho inclui visitas a propriedades rurais, coletas laboratoriais e ações educativas em parceria com órgãos públicos para conter a disseminação da raiva entre os herbívoros.
