Antigamente numa Copa do Mundo, antes do advento das redes sociais e da comunicação instantânea, se falava que o Brasil era um país com cento e tantos milhões de técnicos, que cada um dos espectadores tinha uma opinião diferente e melhor do que a do próprio técnico escolhido para liderar uma seleção de futebol.
Nas olimpíadas também não era diferente, mas o estardalhaço era menor, afinal as críticas só podiam ser feitas em rodas de amigos ou em poucos programas esportivos que se propusessem a isso. Hoje, com as redes, temos muito mais gente criticando e opinando em todo e qualquer tema, seja ele política, esportes ou costumes. A grande maioria das vezes as opiniões são críticas pesadas e nada edificantes para o tema.
Tomemos o exemplo atual das olimpíadas, onde nossos atletas estão conquistando seu espaço nos esportes, mesmo não trazendo medalhas, mas mostrando garra e determinação e mesmo assim são ofendidos e criticados pelos próprios brasileiros, que deveriam valorizar a trajetória e esforço dispendidos para chegar até a competição. Como o Brasil não é um país onde se valoriza o esporte, salvo o futebol, os atletas em muitos casos tem que correr atrás do seu sonho e se equipar às próprias custas, mendigando patrocínios e tirando do próprio bolso para poder competir.
Já em 1958 o jornalista Nelson Rodrigues afirmou que o brasileiro tem “complexo de vira-lata”, e definiu esse termo como “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”. Ele explicou ainda mais sobre isso, dizendo que por “complexo de vira-lata entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.”
Anos e anos de decepções e má gestão em todas as áreas, sejam elas nacionais, estaduais, municipais, esportivas, sociais, culturais nos fazem pensar que temos sempre o pior de tudo, o que não chega a ser uma mentira, afinal a corrupção está em tudo e o povo recebe só uma rebarba do recurso destinado a qualquer situação. Por esse mesmo motivo, por sabermos que as coisas no Brasil não funcionam de maneira correta, deveríamos valorizar e incentivar nossos talentos e aplaudir qualquer conquista, de maneira a mudar o pensamento de todo um povo, apagando o pessimismo e apostando num futuro melhor.
Ao invés de criticarmos os que se esforçam, se dedicam e dão o seu melhor, mesmo que não sejam os primeiros colocados, porque não mudamos o nosso foco para cobrar melhorias em todas as áreas que sabemos ter necessidades extremas de maior atenção?
É mais produtivo incentivar do que criticar. Se o engajamento que notamos nos comentários nocivos aos nossos atletas fosse destinado a criticar e cobrar mais ações positivas, com certeza alguma coisa melhor surgiria disso.
Pensemos nisso. Chega de ser vira-lata.