Liberdade de expressão virou piada?

O Brasil assistiu, atônito, à condenação do comediante Léo Lins a mais de oito anos de prisão e uma multa milionária. Motivo? Piadas. Sim, piadas. Em um país onde fraudes no INSS seguem a pleno vapor e corruptos saem ilesos, quem acaba atrás das grades é quem sobe no palco para arrancar risadas. Se fosse ficção, seria engraçado, mas é a realidade nua, crua e absurda.

A Justiça brasileira, sempre tão célere para lidar com humoristas, decidiu que a liberdade de expressão tem limite — e, aparentemente, esse limite agora é decidido na marra, sob pena de cadeia. Não estamos falando de golpes, fraudes, homicídios. Estamos falando de piadas. Coisas que, tradicionalmente, servem para provocar reflexão, desconforto ou simplesmente arrancar um riso. Piadas são um convite ao pensamento, não um mandado de prisão.

A velha pergunta “qual o limite do humor?” ganhou uma resposta: o limite é o que o Estado disser que é, quando quiser, como quiser. E se hoje é com piadas, amanhã será com músicas, romances, filmes e — por que não? — com reportagens e editoriais. A engrenagem da censura, uma vez lubrificada, não escolhe vítimas: tritura quem estiver no caminho.

Não se trata de defender ou condenar o conteúdo das piadas de Léo Lins — quem não gosta, não assiste, não compra ingresso. O que está em jogo é algo muito maior: o direito de existir a divergência, a crítica, o incômodo. O Estado que decide o que é ou não aceitável no palco será o mesmo que decidirá o que você pode ou não dizer na mesa do bar, no grupo de WhatsApp ou no seu perfil nas redes sociais.

Parece exagero? Pois foi assim que começou em todos os regimes autoritários que conhecemos. A censura não chega vestida de farda, mas sim fantasiada de “proteção”, de “combate ao discurso de ódio”. De boas intenções, como se sabe, o inferno está lotado — e a cadeia também.

Enquanto piadas viram crime, quem deveria estar preso continua governando, desviando verbas da saúde, superfaturando obras, enriquecendo com dinheiro público. Isso, sim, gera sofrimento real, morte, fome. Mas o aparato estatal prefere gastar seu tempo e recursos calando humoristas. Porque é mais fácil punir quem está sozinho no palco do que enfrentar quadrilhas organizadas.

A comédia, a arte e a ficção sempre foram válvulas de escape para uma sociedade sufocada. Cortar essa válvula é deixar as pessoas sem ar, é transformar qualquer manifestação artística em potencial ameaça. Mais que censura, é asfixia. E o que não falta no Brasil é gente querendo calar a boca dos outros, sobretudo quando não gostam do que escutam.

Hoje é com Léo Lins. Amanhã pode ser com você, com seu vídeo, seu texto, sua opinião. O risco é claro e imediato: uma sociedade que criminaliza a piada, que não sabe mais separar ficção de realidade, está perigosamente à beira do abismo. A pergunta que fica é: vamos rir disso ou simplesmente aceitar calados?

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Aramis José Gorniski


Entre em contato com Aramis José Gorniski: aramizinho@gmail.com