Se você foi vítima de um estelionatário no Brasil, parabéns! Você acaba de entrar para o clube dos que sustentam o luxo alheio com a própria ingenuidade — e sem direito a reembolso. Pode guardar a esperança no mesmo lugar onde ficou seu dinheiro: em lugar nenhum.
A lógica é simples: o sujeito aplica um golpe, some com seu dinheiro e ainda é tratado com toda a delicadeza pela Justiça. Já você, que confiou, comprou, transferiu, acreditou — agora que lute. Lute para provar que foi enganado. Lute para achar o golpista. Lute para ver se algum juiz, um dia, se compadece e decide que você merece seu dinheiro de volta. Spoiler: não conte com isso.
Entrar com processo é fácil, dizem. Difícil é fazer cumprir a sentença. Mesmo que o juiz condene o estelionatário a te indenizar, vem a parte mais divertida: ele não tem nada em nome próprio. Isso mesmo. Carro? Está no nome da mãe. Casa? Da esposa. Conta bancária? R$ 0,23 de saldo e um empréstimo em andamento. E você achando que a Justiça era feita para reparar danos…
Se você pedir bloqueio judicial de bens, prepare-se para virar um detetive profissional. Vai ter que descobrir onde o sujeito esconde o patrimônio, porque o Estado não sabe — e, sinceramente, nem faz muita questão. Já ele, o estelionatário, tem tempo de sobra e advogado criativo, especializado na arte de sumir com tudo antes mesmo da sentença transitar em julgado.
E se a indignação for tanta que você pense em cobrar publicamente, cuidado! Nos bons e velhos tempos, como fazia a lendária Loja Zarur, da Lapa, a rádio anunciava: “Fulano de Tal, favor comparecer à loja para tratar de assunto de seu interesse”. Era um jeito respeitoso — e eficaz — de chamar devedor inadimplente. Hoje, isso é “constrangimento ilegal”. O malfeitor é blindado pela lei, enquanto o comerciante precisa pisar em ovos para não ser processado por quem deu o calote. É a era da inversão total: expor o crime virou crime.
Enquanto isso, seu nome segue negativado porque você não conseguiu pagar as contas que ficaram em aberto após o golpe. Sim, o sistema bancário e de crédito não quer saber se você foi enganado — quer saber do pagamento. E o golpista? Continua vendendo os mesmos sonhos para outras vítimas, com CPF limpo e cara de pau.
O mais irônico é que, ao tentar alertar as autoridades, você ainda corre o risco de ser acusado de calúnia se expuser publicamente o “empresário” que te passou a perna. A vítima precisa ser discreta. O criminoso, não. No Brasil, proteger o “direito de imagem” do estelionatário é mais importante do que proteger o patrimônio do cidadão.
Portanto, se você está pensando em agir honestamente, pense duas vezes. A justiça brasileira está aí para provar que, quando se trata de golpes, o problema não é cair. O problema é levantar e perceber que quem se deu bem foi justamente quem te derrubou.