O Brasil é mesmo um país sem igual. Enquanto em outros cantos do mundo as manchetes tratam de guerras, descobertas científicas ou catástrofes ambientais, aqui a pauta quente da vez é uma suposta mobilização por direitos… das bonecas. Sim, você não leu errado. Em pleno 2025, vivemos a “crise do bebê reborn”, com gente debatendo se bonecas de silicone devem ou não ter atendimento preferencial nas filas do SUS. Parece piada, mas é só mais uma edição da tragicomédia nacional.
A coisa ganhou tanta proporção que prefeitos, vereadores e até senadores se sentiram na obrigação de se manifestar — com gravidade institucional, claro — contra o “atendimento prioritário para brinquedos”. Entre uma coletiva de imprensa e outra, sobraram discursos inflamados sobre como o sistema de saúde está sobrecarregado demais para dar colo a bonecas de R$ 2 mil. Se não bastasse essa palhaçada, a cereja do bolo foi a importância dada às falas da primeira-dama, Janja da Silva, que virou meme, manchete e motivo de exasperação.
Enquanto isso, longe dos holofotes e dos GIFs irônicos, a previdência social brasileira sangra. Começou com um rombo de R$ 6 bilhões — já suficiente para paralisar um país sério — e, como um truque de mágica malfeito, o número foi subindo: R$ 90 bilhões aqui, R$ 210 milhões ali, e nenhuma resposta convincente sobre quem, quando, onde e por quê. No máximo, trocaram o ministro da Previdência — claro, um velho conhecido do noticiário, aquele mesmo que já havia sido chutado do governo Dilma por denúncias de corrupção. Criatividade? Zero. Descaramento? Infinito.
Para manter o povo distraído, o Congresso resolveu montar o próprio picadeiro: a CPI das Bets. A pauta? Casas de apostas. O foco? Influenciadores digitais. E a seriedade? Risível. Tem parlamentar tirando selfie com influencer, pedindo vídeo pro neto, e tudo transmitido ao vivo como se fosse uma série do Globoplay. Enquanto isso, a sangria da Previdência virou figurante de luxo nesse roteiro nonsense, ofuscada por dancinhas, selfies e parlamentares que confundem comissão com camarim.
E não é de hoje que a política brasileira vive de espetáculo. O que mudou é que agora o palco é multiplataforma: vai do jornal impresso ao TikTok em três segundos. Qualquer faísca é desculpa para o país esquecer incêndios. Qualquer frase mal colocada da Janja vira assunto por dias, enquanto os dados do INSS ficam escondidos no rodapé dos portais — quando aparecem.
Já nem dá pra dizer que temos memória curta. O brasileiro moderno sofre de amnésia instantânea. O assunto de ontem vira piada hoje e desaparece amanhã. O escândalo da semana passada? Substituído por um vídeo de vereador discutindo com um boneco de posto. Literalmente. E os culpados por fraudes milionárias, desvios e corrupção? Esses seguem firmes e impunes, porque ninguém mais presta atenção.
Ser cidadão neste país virou um ato de resistência. Resistir ao ridículo, resistir à desinformação, resistir à tentação de rir de tudo porque, se formos chorar, afundamos juntos. A pergunta que não quer calar é: até quando vamos cair nessas cortinas de fumaça? Até quando a indignação vai durar menos que um story no Instagram?
Talvez a resposta venha junto com o próximo escândalo, que provavelmente envolverá um tamagotchi com carteira assinada. Até lá, seguimos assistindo — e bancando — o reality show da política brasileira. Aqui, tudo é permitido. Menos levar o Brasil a sério.
O Show de bonecas e a tragédia do INSS
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