O Brasil enfrenta um paradoxo preocupante: uma sociedade altamente engajada nas redes sociais, mas apática quando se trata de participação ativa na vida política. Como na recente situação em Lapa, onde a revolta digital contra medidas polêmicas do governo municipal foi intensa, mas a presença física nos espaços de decisão foi praticamente inexistente. Os assentos vazios na Câmara Municipal escancaram uma dura realidade: enquanto os cidadãos se limitam à indignação virtual, os governantes continuam decidindo sem qualquer pressão popular.
Esse fenômeno não é exclusivo de Lapa. Ele se repete em todo o país, em todas as instâncias de governo. Se queremos uma política transparente e representativa, é fundamental ocuparmos os espaços de deliberação, cobrarmos diretamente nos gabinetes dos políticos, marcarmos presença nas sessões da Câmara Municipal, da Assembleia Legislativa e do Congresso Nacional. A democracia exige envolvimento direto, não apenas compartilhamentos e curtidas.
Há quem argumente que a perseguição política e a justiça parcial desestimulam a participação. De fato, vivemos tempos em que muitos se sentem inseguros para expressar opiniões divergentes do status quo. No entanto, a solução não está na desistência, mas no fortalecimento de formas lícitas e democráticas de pressão popular. Abandonar a luta por receio ou desilusão é entregar de mãos beijadas o poder aos que preferem agir sem transparência e sem oposição.
É preciso destacar que cobrar governantes não exige invasões ou depredações. Esses são métodos historicamente associados a movimentos radicais, e jamais devem ser tomados como modelo por cidadãos que desejam uma mudança real e construtiva para o país. Protestos pacíficos, participação ativa em reuniões públicas e fiscalização constante são as ferramentas mais eficazes para fazer valer a vontade popular sem recorrer à desordem.
Ainda que o cenário atual desestimule a participação, é importante lembrar que nenhuma mudança significativa ocorreu sem o engajamento direto da população. Na história recente do Brasil e do mundo, os avanços políticos e sociais sempre foram conquistados através da persistência e do envolvimento cívico. Uma sociedade que abandona a participação está fadada a ser governada por aqueles que se beneficiam da apatia coletiva.
Se queremos um Brasil melhor, a solução não está apenas em criticar, mas em agir com inteligência e estratégia. O cínico que se cala e cruza os braços diante da injustiça contribui tanto para o problema quanto os próprios políticos que ele condena. A história mostra que as transformações mais duradouras são conquistadas por aqueles que, em vez de abandonar o barco, assumem o leme e mudam o rumo. A pergunta que fica é: vamos continuar delegando o futuro a terceiros ou finalmente assumir o protagonismo que a democracia exige?