Sl 26 – Ainda que não substitua o texto em si, vamos à introdução, com vistas à interpretação e explicação contextualizada e atualizada, cristologicamente, dos Salmos, que têm em vista o conhecimento e a glória de Deus, em aroma suave, mediante Jesus Cristo. E nEle, na unidade do Espírito Santo, de fé em fé, edificação luteradora das consciências pávidas, exortação de soberbos e empedernidos, e consolo necessário, profícuo, ubérrimo dos corações atribulados.
O Salmo 26 é um Salmo de oração. Nele o salmista apela a Deus, no sentido de que lhe faça justiça, por causa da vida e fé malevolente dos falsos santos, que querem ser piedosos por meio da lei e que, fundamentados na justiça da lei, condenam os santos segundo Deus, que foram tornados tais e piedosos por ação, exclusiva, de fora, internamente, do Espírito Santo, via Palavra e fé em Jesus Cristo. Pois não há como se autofazer pessoa temente a Deus e de coração piedoso. Isto sucede, de fora, internamente, unicamente por meio da bondade e graça de Deus, via ação do Espírito Santo, em comunidade, na qual se exerce o ministério de modo puro e legítimo. Razão pela qual o salmista condena e rejeita o fato de que os santos autofeitos louvam a meritocracia. Pois tais, bem como todos os avarentos vãos, cuja barriga é o seu deus, como escreve Paulo Fp 3.19, não se importando, de verdade, com a justiça da fé, dom e dádiva do Espírito Santo. Razão pela qual eles são, em Igreja e Sociedade, prejudiciais com seu esplendor espiritual carnal e sua honra mundana sedutora. E isto porque o seu coração continua péssimo diante de Deus, mesmo que muito brilhem na aparência de piedade. A justiça das obras e da lei é preterida à da graça divina mediante a fé em Jesus Cristo, razão pela qual nós, como filhos probos e filhas probas de Deus, devemos orar, com máxima ênfase, afim de que eles não nos enganem e nem nos seduzam também com sua hipócrita piedade de aparência. O Salmo 26 pertence ao terceiro Mandamento, e à primeira e à segunda súplicas do Pai Nosso, porque nelas se ora pelo verdadeiro culto e pela vinda do reino de Deus.
O salmista está sendo acusado, injustamente, por seus contemporâneos, judeus, que, não obstante sejam o povo de quem haveria de nascer, segundo a carne, o Cristo, não creem. O salmodiado edifica, exorta e consola no sentido de que nós também nos verifiquemos, de fora, internamente, por ação do Espírito Santo, encorajados a levar o fardo da difamação diante de Deus, em protesto de inocência, no sentido de que sejam tornados conversos. É bem verdade que o salmista, apela a Deus Pai, o Juiz supremo não só das ações, mas, também das intenções dos corações de todas as pessoas. E ele, o salmista, tem uma boa consciência diante de si mesmo, diante dos seus inimigos e de Deus, confirmada por vida e fé retas. Pois o seu peregrinar está embasado na Palavra. E a sua doutrina é boa e reta. Ademais, firmando na Palavra e na fé, o salmista se afasta da vida e fé que causam nele próprio malefícios. Pois, as pessoas ímpias além de terem uma doutrina ruim, também tem fé ruim. E como tal os seus conselhos são maus, a sua conduta é pecaminosa e o seu exemplo não é nada exemplar.
O salmista, ainda que pecador por natureza, tem fé, teologia, culto, piedade verdadeiras, razão pela qual diante de Deus afirma que se porta e comporta de modo santo e justo, por amor da salvação das pessoas próximas, mas também em honra e glória de Deus Pai, mediante Jesus Cristo. Ele se verifica, corporeamente, atingido pelo julgamento autoindulgente das pessoas ímpias, e não quer colher, unido a elas, as consequências dos seus pecados. E, o salmista, consciente de que todos nós, à rigor, fomos chamados à existência para render a Deus culto via invocação e fé, ora no sentido de que Deus o console e que seja ouvido por Ele. Assim, o Salmo, sem sombra de dúvida, é uma confissão pública, sincera, da sua fé em seus desdobramentos, não obstante a hostilidade incomum. As declarações de integridade que o salmista faz agora não são como quem quer se justificar via obras da lei, mas, antes, reconhecimento de que, de fato, ele não peca de propósito só porque crê que Deus é misericordioso. Antes, justamente, porque Ele é o que é, o salmista procura ser justo.
P. Airton Hermann Loeve