Sl 28 – Ainda que não substitua o texto em si, vamos à introdução, com vistas à interpretação e explicação contextualizada e atualizada, cristologicamente, dos Salmos, que têm em vista o conhecimento e a glória de Deus, em aroma suave, mediante Jesus Cristo. E nEle, na unidade do Espírito Santo, de fé em fé, edificação luteradora das consciências pávidas, exortação de soberbos e empedernidos, e consolo necessário, profícuo, ubérrimo dos corações atribulados.
O Salmo 28 é um Salmo de oração, o qual Davi, em sua época, ora contra Saul e outros iguais a ele, especialmente contra a insinceridade, uma vez que às vezes lhe dirigiam boas palavras, lhe eram amigáveis e, de uma hora para outra, sem mais nem menos, imprevisivelmente tentavam matá-lo, como Absalão também fez, ao depois; e Joabe contra Amasa e Abner. E isto tudo de modo tal que Davi precisou ser cauteloso e precavido entre os seus. Ele orou a Deus, que provê refúgio libertador, no sentido de que Ele, apesar do seu pecado, fosse-lhe gracioso. E pediu que Deus não o derrubasse com os ímpios. Podemos orar a Ele, tanto contra tiranos quanto contra bandidos. Pois os tiranos agem amigavelmente, mas maquinam, todos os dias, como vão matar e ferir. Os espíritos bandidos exaltam excessivamente, na aparência, a honra, a Palavra e o culto a Deus, como quem deseja ajudar o mundo inteiro, e se portam como se fossem extremamente humildes, mas, hipocritamente, buscam apenas os seus interesses junto às ovelhas do SENHOR. Pois são lobos vorazes em veste de ovelhas. Por isso mesmo o Salmo pertence ao terceiro e outros Mandamentos, e ao primeiro e outros pedidos do Pai Nosso.
Os Salmos, todos, como o presente, devem ser lidos com fé cristocêntrica, crendo e se tendo por conscientizado que a Palavra de Deus, lei e Evangelho, é de todas as pessoas, mas, a fé, dom e dádiva de Deus, não. Aliás, para memorar, o saltério não somente repreende e exorta as pessoas ímpias e pecadoras – pois nós, não importa o gênero, fora de Cristo, somos gente ímpia e pecadora –, mas, acima de tudo, aquelas pecam duplamente. Pois, sendo elas tais, não o reconhecem, nem o confessam e nem sequer o abandonam, de pronto. Quem é autoindulgente com o pecado não é arrependido e nem crente, via Palavra e fé, mesmo que muito queira ser e se autoqueira fazer parecer pessoa conversa – ela é o que é diante de Deus, que conhece os segredos e as intenções dos corações. E é existencialmente consolador ter certeza de que Deus, o SENHOR, põem termo ao mal e à perversidade, do lar ao governo.
A descrença sempre atrapalha e prejudica, de sorte que Deus não pode realizar suas obras nos autoindulgentes inconversos. E como tais também não podem experimentar e nem reconhecer a Cristo e Seus benefícios. Pois querem estar saciados e possuir o suficiente de tudo antes que se instale a fome e a carestia, e se prover de viveres para a fome e a carência futura, de maneira que, saciados, já não têm mais necessidade de Deus e de Suas obras. Aliás, que fé é esta que confia em Deus enquanto sente e sabe que há reservas para o caso de dificuldade e precisão? Isto significa amar os bens terrenos mais do que a Deus e transformá-los em ídolos e deus em Seu lugar. Por isso também nunca chegam ao conhecimento de Suas obras, sem as quais não há bem-aventurança, e tais haverão de ser pessoas condenadas para sempre, como diz no versículo 5: “Eles não têm conhecimento das obras de Deus, também não entendem a criação de Suas mãos. Por isso os destruirás e jamais os reedificarás.”
Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, em Pessoa, não uma doutrina é a rocha do povo da Palavra e da fé. Cada membro dele precisa crer e confiar, de modo pessoal e intransferível, nEle, não obstante, a presença e ação das pessoas ímpias, pagãs, apóstatas, hereges, oponente e opositoras, abertas ou veladas do salmista, que sofre e padece por causa da sua vida e fé para as quais Cristo não é importante. É inadmissível, atualizando cristologicamente o Salmo, crer, ensinar, confessar e consequentemente condenar e rejeitar o que depõe contra Cristo, o Evangelho, o Espírito, a fé. ‘As armas de defesa’ são desnecessárias, sim. Pois, no mundo que jaz no maligno, sempre, como o salmista, se irá ‘topar’ com quem autoinova experiência espiritual à cata assídua de novidade – isto é próprio de quem autoenaltece o ego religioso. E se estas pessoas estão em posição de mando e autoridade ai de quem elas odeiam, como é a experiência existencial do salmista. Neste caso, só o Deus irado mantando mesmo para dar um jeito na situação diabólica, autojustificada satanicamente.
P. Airton Hermann Loeve.