Sl 30 – Ainda que não substitua o texto em si, vamos à introdução, com vistas à interpretação e explicação contextualizada e atualizada, cristologicamente, dos Salmos, que têm em vista o conhecimento e a glória de Deus, em aroma suave, mediante Jesus Cristo. E nEle, na unidade do Espírito Santo, de fé em fé, edificação luteradora das consciências pávidas, exortação de soberbos e empedernidos, e consolo necessário, profícuo, ubérrimo dos corações atribulados.
O Salmo 30 é um Salmo de ação de graças. Nele o salmista agradece a Deus, o SENHOR, porque Ele o libertou e salvou, via Palavra e fé, por ação do Espírito Santo, de severas tentações espirituais que têm o diabo como autor e agente, a saber: tristeza, melancolia, medo, desespero, dúvida, angústia ‘mortal’ e semelhantes setas e dardos infernais. E, ele, contíguo, justamente ao salmista, não a um pecador impenitente e incrédulo qualquer, insufla atribulações incomuns quanto a como e se Deus ainda haveria de querer ou poder perdoar os seus pecados, como se Ele, Deus, fosse, por natureza, sempre zangado, irado, e que por um instante, não mais estivesse inclinado e nem quisesse, doravante, de modo nenhum, perdoar e nem se compadecer. Sim, o diabo, o sedutor do mundo inteiro, quer, a todo instante, desviar justamente quem está na Palavra e na fé em Deus, não aos ímpios e nem aos pagãos, mas, antes, pessoas para quem Cristo é importante. Ademais, ele quer impedir vida e alegria no SENHOR acerca do perdão por causa de Cristo e Seus méritos, a todo instante, a toda hora, todo dia, todo tempo da nossa vida fugaz, ambígua, contraditória. Tanto a voz da lei quanto a palavra de graça divina não podem ser dispensadas. Pois o próprio da Palavra é o ser humano totalmente pecador e o Deus totalmente justificador, por graça dEle, mediante a fé em Cristo.
O Salmo trinta, quanto ao seu conteúdo, diz respeito ao terceiro Mandamento: “Santificarás o dia do descanso”. E à terceira petição do Pai Nosso: “Seja feita a Tua vontade assim na terra como no céu”. E é em comunidade da pregação da fé, onde o ministério da Palavra, em sua acepção legítima, necessária, pura e indispensável que nós somos conscientizados/as, com vistas à fé em Cristo, de onde vem e quem é o autor e agente, mono, da penitência e da graça.
Todos nós, façamos o que queiramos e possamos, por natureza, somos pessoas pecadoras. Ninguém consegue se autofazer livre da condição de pecado e nem muito menos se tornará, no decurso da vida e/ou acúmulo de experiência, alguém que não peca mais, na presente vida. Deus, mediante a Palavra, por ação do Espírito Santo, sem méritos e dignidades nossas, contanto que, arrependidos, unidos à comunidade, creiamos em Jesus Cristo como o nosso único, suficiente, necessário e indispensável SENHOR e Remidor, nos perdoa, não nos imputando a nossa condição de pecado e nem sequer os nossos pecados. E assim, via Palavra e fé, se, onde e quando aprouver a Deus Pai, a nossa consciência, antes atribulada, é tornada apaziguada, por graça dele, via mediação do Espírito Santo, o que inspirou o presente Salmo no salmista para o seu consolo e nosso. Pois o perdão dos pecados não é nunca posse nossa.
Para as pessoas que sofrem, o tempo é longo, enquanto que para as felizes, ele é breve. Mas, especial e desmesuradamente longo é ele para as que padecem de dor interior da alma e se sentem abandonadas e rejeitadas por Deus, não obstante, creiam que Ele é gracioso em e por causa de Cristo, que haveria de ser feito nascer para abençoar todos os povos da terra, sem participação humana. Assim, não há sofrimento maior do que aquele que se sente na consciência atribulada, que ocorre quando Deus se afasta, e ficamos privados da verdade, da justiça, da sabedoria etc., nada restando senão pecado, trevas, ah, e ai. Constitui isto um ‘gole ou aperitivo’ da dor infernal e da condenação eterna. E como tal ‘avassala’ os ossos, a força, o sumo, o tutano e tudo o mais que houver na pessoa. Sentir, justamente como pessoa temente a Deus e de coração piedoso que Ele se afastou, significa sentir rejeição e abandono incomuns. A partir daí se experimenta, como é o caso do salmista, sim, justamente do salmista, um pavor horroroso e, em consequência, uma perdição progressiva, como se lê no versículo 7b. Aí só o comiserar-se de Deus traz consolo interior e gera uma esperança feliz no SENHOR. Por isso o salmista salmodia pedindo que liberte a sua alma, como se dissesse que ela está submersa e perdida, e suplica que seja puxada ou arrastada para fora. E aí, liberto, o salmista canta e dá graças a Deus, o SENHOR, pela presença do Espírito Santo que imputa os benefícios de Cristo.