Sl 32 – Ainda que não substitua o texto em si, vamos à introdução, com vistas à interpretação e explicação contextualizada e atualizada, cristologicamente, dos Salmos, que têm em vista o conhecimento e a glória de Deus, em aroma suave, mediante Jesus Cristo. E nEle, na unidade do Espírito Santo, de fé em fé, edificação luteradora das consciências pávidas, exortação de soberbos e empedernidos, e consolo necessário, profícuo, ubérrimo dos corações atribulados.
O Salmo 32 é um Salmo de ensino ou didático. Ele, de modo objetivo, doutrina o que é pecado, como se pode ser feito livre dele e como se pode vir a ser uma pessoa justa diante de Deus Pai, por graça divina mediante a fé em Jesus Cristo. Porque a razão humana, cega por natureza, não sabe o que é pecado, e, além disto, faz a pessoa ajuizar que ela pode satisfazer por ele mediante boas obras, méritos, dignidades. Contudo, o salmista salmodia que todas as pessoas santas em Cristo, não obstante, por natureza, continuam sendo pecadoras e que não podem ser justas e nem salvas senão unicamente se reconhecendo, via Palavra, que são totalmente pecadoras diante de Deus, e que sem méritos e boas obras suas, somente por graça divina, são toleradas e seus pecados não são imputados por causa da sua fé que anui a Jesus Cristo, o totalmente justo e santo, na carne, em nosso favor. Em suma: justiça significa alcançar perdão dos pecados, ou como diz o texto: “é iniquidade perdoada”, “pecado coberto ou não atribuído”. O salmista, com palavras secas, diretas, claras, evidentes, inequívocas, rotunda afirma que todas as pessoas santas são pecadoras, vivem e permanecem tais façam elas o que queiram e possam para se tornar sem pecado. Contudo, por graça divina mediante a fé em Cristo, ao mesmo tempo, são santas, porque Deus não lhes imputa os pecados, ou porque Ele não os quer ver e nem vingar, mas sim, que os quer ter por esquecido, perdoado, encoberto. O salmodiado doutrina que há e precisa haver diferença entre as pessoas santas e as ímpias, ainda que ambas, por natureza, sejam igualmente pecadoras, que têm pecados e que pecam, diariamente. Contudo, em relação às santas, Deus lhas perdoa e encobre os seus pecados, não imputando-os por causa da fé em Cristo. Já em relação às ímpias, Ele os imputa e mantém, e não são perdoados – o que é terrível. Os pecados das pessoas santas como se fossem feridas são curadas. Já os das ímpias, permanecem abertas, e não enfaixadas com vistas à cura. Tanto nas pessoas santas quanto nas ímpias, os pecados são verdadeiramente pecados, que são verdadeiramente ‘doloridos’. Eles precisam ser curados com vistas à saúde. Além disto, por natureza, depois da queda de Adão e Eva, nós não temos mais um corpo saudável. A saúde depende, sobretudo, da concessão do perdão dos pecados. Quem não tem o seu pecado e nem sequer os seus pecados perdoados e encobertos pelo próprio Deus, com quem está o perdão, mesmo que segundo a razão e inteligência humana seja tida ou considerada pessoa saudável, é doente. E gente doente – que não alcançou perdão dos pecados, vida e salvação, mediante a Palavra, por graça divina, em comunidade da pregação, pelo Espírito Santo, via fé em Jesus Cristo –, é ímpia e perdida, cá e eternamente, quer o creia quer não. Nós precisamos ser gente membro do povo da Fé, que ouvindo a pregação do Evangelho de Jesus Cristo, conversa pelo Espírito Santo, é feita alcançar, de fora, internamente, certeza do perdão dos seus pecados, via solicitação e uso dos meios do Evangelho. Somente Deus tem poder e autoridade de não imputar os pecados em virtude da fé em Jesus Cristo, se Lhe aprouver.
Consciente de que há diferença entre pecadores e pecadores, a mais pura verdade é que não há ninguém sem injustiça, mas todas as pessoas são igualmente injustas diante de Deus. Também aquelas que se exercitam nas obras da justiça da lei e, assim, imaginam escapar da injustiça, não podem ajudar a si mesmas a sair da condição de pecado. Por isso, não são justificadas as pessoas que não têm nenhum pecado ou que, por si mesmas, trabalham para sair da injustiça, mas somente aquelas que Deus livra por Sua graça mediante a fé em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que, na carne, sem participação humana, nos reconcilia com Deus Pai. A Ele glorifiquemos e rendamos a devida honra e louvor. Amém.
