Sl 47 – Ainda que não substitua o texto em si, vamos à introdução, com vistas à interpretação e explicação contextualizada e atualizada, cristologicamente, dos Salmos, que têm em vista o conhecimento e a glória de Deus, em aroma suave, mediante Jesus Cristo. E nEle, na unidade do Espírito Santo, de fé em fé, edificação luteradora das consciências pávidas, exortação de soberbos e empedernidos, e consolo necessário, profícuo, ubérrimo dos corações atribulados.
O Salmo 47 é uma profecia de Cristo, como Ele deveria ascender e se tornar Rei sobre todo o mundo, sem quaisquer golpes de espada, apenas através de aclamações, cantos e trombetas, isto é, através da alegre pregação do Evangelho, assim como as muralhas de Jericó ruíram e caíram, por intervenção divina, sob o som de trombetas e gritos, sem emprego de armas.
Por meio do Evangelho nós somos informados o que Cristo é, para que O conheçamos por fé e de fé em fé, a saber, que Ele é nosso único, suficiente, necessário, indispensável, inegociável Remidor, que tira de nós pecado e morte e nos salva de toda desgraça, que nos reconcilia com o Pai e nos torna crentes e salvos, sem as nossas obras. Quem, todavia, não conhece a Cristo, este há de errar o ‘alvo’. Embora saibas historicamente que Ele é Filho de Deus, que morreu e ressuscitou e que está sentado à direita do Pai, ainda assim não conheceste a Jesus Cristo corretamente, e isto de nada te vale. Ao contrário, tu, unido ao Povo da Palavra e da Fé, deverás crer que Ele fez tudo isto por amor de ti, antes de saberes algo acerca dEle.
Deus nada quer exigir de nós, desde que depositemos nossa confiança em Jesus Cristo. Se temos fé, já somos justos perante Deus, e cumprimos todos os Mandamentos, de nada mais precisamos para tornar-nos justos, pois já temos tudo. Ninguém que tem esta fé pode vê-la, pois ela está interiormente no coração. Não obterás esta liberdade se exteriormente fazes o que queres, porque deste modo o coração não se torna puro, justo, livre; e com isto também não alcanças uma consciência alegre e livre. Terás que começar por Alguém mais elevado do que tu: Jesus Cristo. A liberdade vem de dentro: Que sejamos um com Deus e saibamos em que situação nos encontramos perante Ele. Quem há de querer prejudicar um cristão ou assustá-lo quando este crê e confessa que seu Senhor Cristo é SENHOR inclusive da morte, do inferno, dos diabos e de todas as criaturas, e que tudo jaz em Suas mãos, sim, sob Seus pés? Por isso, um cristão encara corajosamente sofrimento, morte, inferno, diabo, e se gloria, dizendo-lhes, confiadamente: Que me podes fazer? acaso não estás sob os pés de meu SENHOR? (…) por isso é muito consolador quando algo te assusta ou te prejudica, que fales em alto e bom som, confesses a Cristo e digas: (…) Todas as coisas estão sob Seus pés, quem quererá ser contra mim? Além disto, um cristão confessa a Cristo como Sacerdote, que serve de mediador entre Deus e nós, como diz Paulo em Rm 8.34, que Ele fala e intercede por nós perante Deus, coisa de que mais necessitamos. Pois, por Seu reino e domínio, Ele nos protege de todo o mal em todas as coisas, mas por Seu Sacerdócio Ele nos protege de todos os pecados e da ira de Deus, coloca-se em nosso lugar e sacrifica-se a Si mesmo, a fim de reconciliar a Deus, de modo que, por meio de Jesus Cristo, temos confiança em Deus e nossa consciência já não se apavora diante de Sua ira e Seu juízo, nem os teme, conforme diz Paulo em Rm 5.12. Ora, o fato de nos garantir perante Deus e de nos granjear paz de consciência, no sentido de que nem Deus nem nós mesmos sejamos contra nós, é algo bem maior do que o fato de nos tornar as criaturas inofensivas, pois culpa é algo muito maior do que dor, pecado é algo bem mais pesado do que a morte. Por isso ninguém se chama de cristão pelo fato de ser muito ativo em obras, de crer que existe algo superior, e, sim, pelo fato de receber, de tomar algo de Cristo, e que somente se disponha para receber, de fé em fé, unido ao Povo da Palavra e da Fé. Se alguém deixa de receber de Cristo, deixou de ser cristão, de modo que chamar-se de cristão consiste somente no receber, e não no dar ou fazer, e no fato de não receber nada de ninguém senão somente de Cristo. Se reparas nas obras que realizas, já perdeste o nome de cristão. É verdade que se devem fazer boas obras, ajudar a outros, aconselhá-los e dar, mas por isto ninguém é chamado de cristão, e com efeito ele também não é cristão por causa destas coisas que obra.