SALMOS

Sl 59 – Ainda que não substitua o texto em si, vamos à introdução, com vistas à interpretação e explicação contextualizada e atualizada, cristologicamente, dos Salmos, que têm em vista o conhecimento e a glória de Deus, em aroma suave, mediante Jesus Cristo. E nEle, na unidade do Espírito Santo, de fé em fé, edificação luteradora das consciências pávidas, exortação de soberbos e empedernidos, e consolo necessário, profícuo, ubérrimo dos corações atribulados.

O Salmo 59 é um Salmo de oração, e pode ser falado muito bem na pessoa de Cristo, que Ele clama contra os empedernidos e soberbos do povo circunciso, e profetiza como eles, pois ainda que sejam herdeiros da promessa, descreem a Cristo e Seus benefícios. E já que de jeito e modo algum se penitenciam, não serão destruídos, mas espalhados por todo o mundo, pois não ensinam nada outro senão maldições e contradições vãs – como sempre fizeram até agora, pois, enquanto impenitentes dirigem todos os seus ensinamentos contra Cristo, para blasfemá-lo e injuriá-lo, não obstante tenha sido feito nascer, segundo a carne, deles, em cumprimento da promessa divina. Esta é também a recompensa porque caminham pela cidade à noite como cães famintos e ainda assim não encontram nada para comer, ou seja, no fim do mundo, desde o tempo dos apóstolos, eles serão perseguidos entre as nações de um país para outro, procurando ansiosamente e avidamente onde poderiam estabelecer novamente um reino de dominação teocrático. Mas isto não acontecerá. E eles, enquanto impenitentes, devem permanecer como cães famintos e correr até que se deitem sem que tenha comida, e sejam enterrados sem um reino e lançados no inferno, não por ação antissemita, mas divina, em monoagência. Mas o Salmo também pode ser entendido de acordo com a história de Davi, contra os seus saulitas, que, ao cabo, sem reino, tiveram que esperar como cães famintos até serem exterminados totalmente. Pois a tribo de Saul não retornou ao reino, embora se esforçasse avida e diligentemente no sentido de que isto se tornasse realidade.

Visto que Deus é juiz justo deve-se amar e louvar a Sua justiça, e assim alegrar-se nEle também quando Ele, já que não se penitenciam, destrói os incrédulos de forma miserável em corpo e alma, porque em tudo isto brilha Sua suprema e inefável justiça. Por isso também o inferno não está menos cheio de Deus e do sumo bem do que o céu. Pois a justiça de Deus é o próprio Deus, que é o bem supremo. Por esta razão, como Sua misericórdia, assim também a Sua justiça ou juízo deve ser amado, louvado e glorificado, ao máximo. Neste sentido diz Davi: “O justo se alegrará ao ver a vingança, lavará suas mãos no sangue do pecador.” [Sl 58.11.] Eis porque o SENHOR proibiu a Samuel, em 1Rs 16.1, chorar por Saul por mais tempo, dizendo: “Até quando chorarás por Saul, tendo-o eu rejeitado para que não reine sobre Israel?”, como se quisesse dizer: “Desagrada-te minha vontade a tal ponto que preferes a vontade do ser humano a Mim?” Por fim, é essa a voz do louvor e da alegria através de todo o Saltério: o SENHOR é juiz das viúvas e pai dos órfãos; vingará a injustiça feita aos pobres e julgará o opressor; os inimigos serão confundidos, os ímpios destruídos, e muitas coisas semelhantes. Se, porém, em misericórdia estulta, alguém quisesse compadecer-se da geração de sanguinários, que assassina os justos, inclusive o Filho de Deus, e da multidão de ímpios, seria considerado, como alguém que se alegra com a iniquidade deles e aprova o que fizeram, é digno de perecer da mesma forma como eles, cujos pecados não quer ver vingados, e haverá de ouvir o que está escrito em 2Rs 19.6: “Amas os que te odeiam, e odeias os que te amam.” Pois assim disse Joabe a Davi, quando este chorava muito por Absalão, seu próprio homicida ímpio. Por isso devemos, nesta imagem, co-alegrar-nos com toda a piedade dos santos e com a justiça de Deus, que pune, de modo justíssimo, os perseguidores da fé e piedade cristológica, para libertar deles seus eleitos. E assim vês luzir nos mortos e condenados não bens pequenos, mas os sumos bens, a saber: a vingança da injustiça feita a todos os santos e também a ti, se és justo como eles. Que admira, pois, se Deus, por teu mal presente, vinga teu inimigo, ou seja, o pecado de teu corpo? Sim, deves alegrar-te neste obrar da perfeita justiça de Deus, que, mesmo que o não peças, mata e destrói deste modo teu pior inimigo, isto é, o teu pecado dentro de ti mesmo. Se tiveres pena disto, serás considerado amigo do pecado e inimigo da justiça que opera em ti, do que deves precaver-te ao máximo, para que não se diga também a ti: “Amas os que te odeiam, e odeias os que te amam.” Assim, pois, tu deves, com alegria, ser grato à justiça que luta ferozmente contra teu pecado, do mesmo modo deverias também ser grato a ela quando lutas ferozmente contra os pecadores autoindulgentes: inimigos de todos e de Deus, não com armas, mas com a Palavra e a fé, em exercício puro e correto do ministério.

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com