“Vivendo e aprendendo…” é o Bate Papo Informal de Aramis Gorniski

Na época das vacas gordas do ciclo madeireiro lapeano, trabalhei de auxiliar de escritório na Masel, uma empresa familiar cujos titulares eram o Sr. Carlito Sera e o jovem Antonio Carlos (Ito) Sera, pai e filho (em saudosa memória). A maioria dos empregados da laminadora era do interior e muitos deles trabalhavam no corte de madeiras. Passavam lá acampados até 30 dias em barracos feitos de pau-a-pique, cozinhando numa trempe com panelas de ferro, dormindo com cobertor pula cerca; as árvores eram cortadas com serra manual e as toras eram puxadas por parelhas de touro até um local mais fácil para o transporte com carroça ou caminhão. Esses empregados eram mimados, pois deles dependia o estoque de madeiras no pátio da fábrica e o sucesso nas vendas.

 

E para saber se o sujeito era valoroso e destemido no trabalho no meio do mato, o Nhô Carlito sempre contava umas histórias sobre assombração que aparecia num lugar onde estavam derrubando uns pinheiros, ou no tempo da revolução ou no tempo da escravidão.

 

Certa feita falou sobre os dois companheiros cortadores de toras, compadres, que aceitaram a empreita para a “derrubança de uns par” de pinheiros e outras tantas de imbuia num lugar longe, tão longe que nem um pio de coruja na madrugada se atrevia a soar no ouvido de qualquer vivente. E aí, nessa solidão de dar dó, passados uns dias, uma serpente venenosa picou um dos compadres logo no inicio da noite. O veneno agiu rápido, e o compadre viu que não iria conseguir buscar solução para salvar o companheiro e nem uma vela para colocar em sua mão para iluminar os seus passos em busca da vida eterna. Nervoso, ficou a imaginar o que faria! Saiu pra fora do rancho, matutando… matutando… e voltou com um pedaço de taquara que acendeu numa das pontas no fogo de chão, cruzou as mãos do companheiro e colocou ali a taquara acesa. O quase defunto abriu os olhos, e perguntou o que era aquilo, e o outro explicou que, na falta de vela, acendeu a taquara para que tivesse luz para iluminá-lo no outro mundo. E o vivente, com a voz embargada pelo soluço da morte, responde: – Vivendo e aprendendo…

 

Pois então, vejam só, tenho meia década de idade, e uns tantos e tantos anos de eleitor dessa nossa nobre democracia brasileira, e somente agora fiquei sabendo que meu voto de Senador vale por três. Não. Não estou morrendo, mas quanto de minha vida poderia ter  sido dirigida para, pelo menos, divulgar isso. Mesmo assim, vivendo e aprendendo…

 

Qual outra surpresa nossa democracia ainda poderá nos reservar?

 

 

 

 

 

Para Refletir

 

“A política dos governantes sábios consiste em esvaziar a mente dos homens e encher-lhes o estômago. Um povo que sabe demais é difícil de se governar. Aqueles que julgam promover o bem-estar de uma nação, espalhando nela a instrução, enganam-se e arruínam a nação. Manter o povo na ignorância: eis o caminho da salvação.”

 

(Lao-Tsé – Pensador e filósofo chinês)

 

 

 

Edição 1555

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