Desfilar para quê?

Na última segunda-feira, o dia de comemoração da Independência do Brasil levantei da cama, meio a contragosto, antes das nove da manhã. Era feriado, não precisava me preocupar com horários… Mas tinha que ir até a avenida, conferir o desfile cívico.

Levantei em cima da hora, engoli o café da manhã e saí. Chegando à avenida, procurei um lugar para estacionar o carro, onde não ficasse longe e que não precisasse caminhar muito. Fui então caminhando, observando os alunos se arrumando, se preparando para marchar. O desfile ainda não havia começado.

Acredito que o que observei deve acontecer em todos os anos, mas como nunca tive motivação para conferir o desfile, achei alguns defeitos no evento. Não que eu seja muito exigente, mas fiquei imaginando o que poderia ser feito para torná-lo mais atraente. Sim, porque assim como eu, muitos ali provavelmente foram meio que “obrigados” até a avenida. Seja porque um parente ia desfilar, seja porque suas profissões exigiam ou, ainda, porque não conseguiam dormir com aquela barulheira.

Vi as crianças ali, naquela marcha que me lembra a canção “Um dois, feijão com arroz. Três, quatro, feijão no prato”… Fiquei pensando: “não é um tanto quanto cansativo ter que ver a mesma apresentação todos os anos?”. Comecei a me lembrar dos meus tempos de desfile de 7 de setembro. Meus tempos que não são tão antigos assim, diga-se de passagem.

Lá, na minha época, a gente esperava com ansiedade a data. Havia uma disputa pra ver quem iria ser a porta bandeira, quem iria participar da fanfarra. E, não sei se é porque quando a gente é criança, tudo parece maior, mas me parecia que havia muito mais pessoas participando. Ainda quando estava na escola Oficina de Ideias participei do desfile e lembro que cada um levou um trabalho feito na escola para mostrar.

Eram coisas simples, outros tempos… não sei! Mas ficaram as boas lembranças, ninguém era obrigado a participar. Íamos porque gostávamos.

E ali, neste sete de setembro de 2009, vi pouquíssimas crianças participando por escola. E o que mais me chamou a atenção é que, em sua grande maioria, eram crianças de escolas públicas municipais que estavam desfilando. E, no final da avenida, além dos militares estavam as ambulâncias…

Fiquei me perguntando se não devíamos utilizar a data para pensar na nacionalidade, naquilo que produzimos de positivo para o mundo, e também nos nossos problemas. Não seria interessante se utilizássemos o desfile para fazer mais que uma marcha, mas uma apresentação do que somos como município, estado, país? Não somente o que a escola ou entidade produziu, mas uma reflexão sobre a nossa atuação.

Talvez, se o desfile fosse mais atraente, diversas pessoas assim como eu, que estavam com preguiça de ir até lá assistir, tivessem ânimo e interesse em prestigiar o evento.

Mas, de repente seja mais fácil continuarmos colocando o uniforme, marchando.

Deixa pra lá… Vamos continuar assim, assistindo o desfile de alguns alunos que ainda se dispõe a fazer o “um, dois, feijão com arroz…” E, também, continuarmos a apreciar o desfile das ambulâncias do município pela avenida.

E assim, mais um pouco, continuamos a acreditar que tudo está perfeito.

Emanuelle Gorniski

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