Prevenção às Drogas e à Violência: a quem deve ser apontado o dedo?

Na noite da última quarta-feira, dia 21 de outubro, aconteceu no Cine Teatro Imperial o Encontro de Prevenção às Drogas e a Violência, uma iniciativa do 15º GAC AP, na pessoa do Coronel Melo, em parceria com a Prefeitura Municipal da Lapa.

Fui até lá conferir o que iriam dizer a respeito. Me deparei com três palestrantes: Fernando Francischini, Secretário Antidrogas da Prefeitura de Curitiba; Ricardo Losso, médico psiquiatra; e Guilherme Vale, psicólogo. Francischini, com vasta experiência no combate ao tráfico, foi um dos responsáveis pela prisão de Juan Carlos Abadía e falou sobre Política Pública de Prevenção à Violência.

Em sua palestra, contou uma historinha para ilustrar como acontece a entrada do jovem, ou muitas vezes criança, no mundo das drogas. Ele pode ter vindo de qualquer família, ou classe social. Começa a usar a droga e, logo, como consequência perde o interesse pelos estudos, por sua própria pessoa. Depois vem os pequenos furtos em casa. Quando os pais tentam conter os roubos à própria família, o jovem se torna violento com eles. Nisso, vem a saída da casa. Sem dinheiro para manter o vício, a única saída é roubar. Num desses roubos, é pego pela polícia quebrando o vidro de um carro importado para levar o som e trocar pela droga. É levado para a delegacia e lá, à noite, a família não é avisada sobre a prisão. O delegado não está presente. O jovem, bem apessoado, se torna presa fácil para aquele preso que abusa sexualmente dos colegas de cela e que geralmente é portador de vírus transmissíveis.

No dia seguinte, quando a família fica sabendo da prisão, não tem o que fazer para tirá-lo de lá, pois não possui recursos para contratar um advogado e, na cidade, não existe defensoria pública. O jovem fica preso numa cadeia junto com outros 79, quando o espaço comportaria apenas 20.

Certo dia, acaba ganhando a liberdade e sai em busca de emprego. Bate de porta em porta, mas nenhum empresário tem coragem de lhe dar uma chance. O único caminho encontrado é retornar ao roubo e ao tráfico. E aí começa um círculo vicioso.

O que Francischini queria mostrar com essa história? Entre diversas interpretações possíveis, que a família não pode deixar o jovem desamparado e que qualquer um na sociedade pode ter um filho, sobrinho, neto ou parente envolvido no uso de drogas.

É fácil apontar o dedo e dizer que aqueles vagabundos drogados é que são os culpados pelo roubo, pela violência… Mas é difícil deixar a hipocrisia e a ignorância de lado e tentar ver o problema como ele realmente é. Não se trata de um problema da família X ou da família Y. Se trata de um problema da sociedade. É preciso entender o que leva ao uso de drogas, ilícitas e lícitas também. Segundo o psicólogo Guilherme Vale, diversos fatores podem levar ao uso: tensões familiares, dores, angústias, baixa auto estima, auto afirmação, modismo, questões espirituais, entre milhares de outras possibilidades.

O psicólogo afirmou que, para prevenir, é necessário que a sociedade assuma a responsabilidade. Quando ele fala em sociedade está englobando pais, comunidade, escola, mídia, governo. Ou seja, ninguém fica de fora.

Por isso é tão importante deixar a hipocrisia e a ignorância de lado. O problema do uso de drogas começa afetando as relações familiares, auxiliando no financiamento de criminosos, aumentando os gastos com saúde pública e, por fim, gerando a violência.

O Secretário de Segurança Francischini frisou muito a importância da prevenção. Segundo ele, é possível se não solucionar, ao menos amenizar o problema. Isso se faz com políticas públicas adequadas. Para ele, a desculpa de que o município não possui verbas suficientes para isso, não cabe. Se colocou à disposição para auxiliar no que for preciso, como tem feito com o município de Campo Magro, buscando verbas em Brasília e mostrando caminhos alternativos para os projetos.

Para o psiquiatra Ricardo Losso, é preciso enfrentar a situação e tomar atitudes. Citou a grande importância das redes sociais, de existir uma Secretaria Anti Drogas, da participação das Igrejas e da população como um todo na prevenção.

A palestra proferida pelos três profissionais foi muito abrangente e extremamente interessante. Não seria nada mal se viessem outras vezes, conversar com outros públicos e mostrar a importância de se conhecer todo o processo.

Isso seria o bastante para mudar o conceito de muitos cidadãos que acreditam que o problema das drogas é apenas da famílias do viciado. E também ajudaria a “abrir” a cabeça de muitos políticos que, muitas vezes, esquecem qual é sua real função: trabalhar pelo povo, e não apontar o dedo. O problema das drogas é de segurança pública e de saúde pública, portanto é de responsabilidade dos políticos também.

A palestra serviria para mostrar às pessoas que acreditam ser fácil julgar, que qualquer um está sujeito a ter um parente envolvido em drogas. Hoje é o filho de Fulano, que mora em determinado bairro e que você diz que é um vagabundo e que a família não soube educar. Amanhã é o filho do vizinho que passa a roubar a sua casa também e oferece a droga ao seu filho ou neto. Depois de amanhã é você que vai ter que ir até a delegacia tirar o seu filho ou neto de trás das grades.

Emanuelle Gorniski

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