A dependência chegando aos lares

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

O que leva uma pessoa a usar drogas, lícitas ou ilícitas? Problemas familiares, psicológicos ou apenas a curiosidade?

Não se pode “dar a receita” exata de como manter seu filho longe das drogas. Mas, conversando sobre o assunto com o funcionário do Centro de Recuperação Nova Esperança – Cerene, Luciano Gaspar Pinto, foi possível tentar se chegar à causa do aumento do uso de drogas na sociedade.

Para Luciano, há mais ou menos dez anos o perfil da família mudou. Hoje, muitos filhos mandam nas casas, o que dificulta no tratamento e recuperação de dependentes químicos. “Mesmo quando está internado no Cerene, tenta manipular a família”, conta.

O funcionário do Centro de Recuperação afirma que a dependência química, principalmente do crack, vem crescendo rapidamente na sociedade. “Creio que em cinco anos, o crack entrará em quase todas as famílias, seja na dependência, ou nos furtos e roubos que a dependência faz com que ocorra. Isso não é brincadeira. O problema foi colocado à margem, e hoje se vê com mais freqüência o assunto na mídia. Mas o problema deveria ser tratado como de saúde pública. Se o Brasil não tomar ciência e não fizer um forte trabalho de prevenção nos colégios e mídia, junto às igrejas, a situação irá virar um caos”, relata Luciano.

Sobre a dificuldade em levar e manter o dependente no Centro de Recuperação, ele explica que é necessário se tomar consciência de que o usuário de drogas não tem autonomia para tomar suas próprias decisões. Isso se dá porque muitas vezes ele quer parar de usar, mas não é o que consegue, precisando então de um tratamento.

Hoje o Cerene possui muitos adolescentes em tratamento, com ordens judiciais, que estão desestruturados na questão afetiva, espiritual, escolar e de educação familiar.

De acordo com Luciano, a prevenção poderia começar com os pais, com atitudes mais severas e dando mais atenção à estrutura familiar. Sem essa base, os adolescentes que concluem o tratamento e retornam para uma família desestruturada voltam à dependência em 90% dos casos.

Questionado sobre o que deve ser feito para amenizar o problema, Luciano disse que não adianta acabar com os traficantes, pois cada vez que um é preso ou eliminado, um ou mais o substituem. “Temos que começar pelos dependentes. Sem viciados não existe tráfico. Por isso a prevenção deve ser feita nos lares. Isso é muito importante”, conclui.

Sobre os dependentes em tratamento na instituição, Luciano conta que a grande maioria (70%) é dependente de crack. Depois vem o álcool (20%) e outros tipos de drogas (10%). No entanto, 90% são viciados em cigarro, o que é um problema grave, já que os dependentes de crack não podem beber e nem fumar, pois isso é uma porta de entrada para outras drogas.

Campanha

O Ministério da Saúde lançou, na quarta-feira, dia 16 de dezembro, a Campanha Nacional de Alerta e Prevenção do Uso de Crack, iniciativa inédita para prevenir o consumo da droga, que é derivada da cocaína e possui alto grau de dependência. Com o slogan “Nunca experimente o crack. Ele causa dependência e mata”, a campanha estará nas principais emissoras de televisão e rádio do país, na internet, em jornais, revistas, nos cinemas e nas ruas.

O objetivo é ajudar na prevenção ao consumo, colocar o tema em debate e chamar a atenção para os riscos e conseqüências da droga. “A informação é a arma mais importante e poderosa que temos. A campanha informa de maneira transparente, clara, direta. Chama atenção para uma questão que não é preocupação dos governos, mas de toda a sociedade brasileira. É um problema de todos nós, de pais, educadores, imprensa, gestores, governos”, disse o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. “A mensagem que está sendo transmitida para toda a sociedade brasileira é que o crack é uma droga perigosa, que não deve ser experimentada porque ela mata. Coloca a pessoa em uma situação de vulnerabilidade que pode levar a conseqüências para si e para terceiros”, afirmou.

De forma complementar, a campanha também tem material informativo sobre as opções de tratamento oferecidas no Sistema Único de Saúde (SUS). Desde o dia 16 de dezembro está disponibilizado mais um instrumento para dar suporte ao familiar e ao usuário da droga: o Disque Saúde (0800 61 1997), com ramal exclusivo para informações sobre o crack e orientações para tratamento dos usuários na rede do SUS, com profissionais especialmente treinados.

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