Aramis, um grande jornalista

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

Meu amigo Aramis Gorniski, você se foi em 15 de janeiro para outro Reino, deixando atrás de si uma família muito querida, muitos amigos, uma escola de jornalismo, relatos da Lapa de mais de três décadas, muitas histórias, muitos fatos que tornar-se-ão histórias da Lapa.

Prezado Aramis, eu tive o prazer de compartilhar de seu Pequeno Grande Jornal, com minhas crônicas, com meus contos e causos, e com fatos históricos sobre o Cerco da Lapa, Gomes Carneiro, Joaquim Lacerda, João Antonio Ramalho, Batalha de Pica Paus e Maragatos e assim vai, e por tudo isto nos tornamos amigos e amigos tornou-se nossas famílias.

Pois é, agora você se foi… Pode ter certeza, Aramis, a Lapa terá em suas escritas e suas memórias mais um nome: “Aramis Gorniski”.

Você narrou tantos fatos e causos da Lapa, e tenho certeza, Deus te encarregará de narrar as belezas do céu.

Do teu amigo do signo de escorpião.

Abdalla João Dardaque

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O primeiro Bate Papo sem Aramis e a companhia do chimarrão…

Não, esta edição triste da Tribuna Regional não ficará sem o velho e bom Bate Papo Informal… Mesmo que não sejam as palavras do mestre, amigo, companheiro e pai Aramis… A coluna continuará… Seja com a colaboração dos amigos, como o Seu Abdalla, seja porque o exemplo que Aramis deixou mostra que não devemos deixar a luta das pessoas morrerem junto com elas…

O que escrever neste Bate Papo tão triste, que não terá Aramis ao meu lado para reler, corrigir e o opinar sobre as linhas que escrevo?

Pensando sobre tudo o que meu pai foi em vida, um traço que o marcou, em meu ponto de vista, mais do que tudo, foi o entusiasmo com que encarava a vida.

Imagine começar um bate papo com alguém assim: “Caro amigo, infelizmente, hoje não estou me sentido muito bem. Estou com uma forte dor de cabeça e quase dormindo. Sinceramente, não estou conseguindo coordenar bem as idéias…”

Desanimador, não é mesmo? Lembrando de Aramis, com todas as suas dificuldades respiratórias, que o impuseram limitações para sair de casa, conversar com o povo como tanto gostava… E, nos últimos tempos, o faziam passar a maior parte do tempo deitado, dormindo… Lembro que, nem mesmo assim, deixava de nos dar uma palavra de conforto, de fazer uma brincadeira, sorrir para as coisas simples da vida. Em nenhum momento se queixou de sua situação… Na semana anterior ao seu internamento na UTI ainda me pediu que levasse até ele o computador, para escrever algumas linhas para o Bate Papo Informal. Nem o braço quebrado, nem as dificuldades impostas pela doença o faziam perder a vontade de escrever, de trazer boas palavras aos leitores…

O exemplo de vida de Aramis mostra a importância do entusiasmo em nossas vidas.

O que significa o entusiasmo? A palavra entusiasmo vem do grego e significa ter Deus dentro de si. Os gregos acreditavam em vários Deuses. Então, a pessoa entusiasmada era aquela possuída por um dos Deuses, e, por causa disso, poderia transformar a natureza e fazer as coisas acontecerem.

Assim, se você fosse entusiasmado por Ceres (Deusa da Agricultura) você seria capaz de fazer acontecer a melhor colheita e assim por diante. Segundo os gregos, só pessoas entusiasmadas eram capazes de vencer desafios do cotidiano.

Era preciso, portanto, entusiasmar-se. Assim, o entusiasmo é diferente do otimismo. Otimismo significa eu acreditar que uma coisa vai dar certo. Talvez até torcer para que ela dê certo. Muita gente confunde otimismo com entusiasmo. No mundo de hoje é preciso ser entusiasmado.

A pessoa entusiasmada é aquela que acredita na sua capacidade de transformar as coisas, de fazer dar certo. Entusiasmada é a pessoa que acredita em si, que acredita nos outros. Acredita na força que as pessoas têm em transformar o mundo e a própria realidade.

Aramis não esperou ter as condições adequadas para se entusiasmar. Agia entusiasticamente em sua vida. Não era o sucesso que o entusiasmava. Era a alegria de ver as coisas acontecerem. Na Associação do Pequeno Trabalhador, dando esperança a muitas crianças, na ADEPAL, na BRASPOL, no Movimento de Irmãos, na política, na Câmara Júnior…

E o seu entusiasmo trouxe o sucesso. Um sucesso que não o fazia arrogante, pelo contrário. Se mantinha aquela pessoa simples, sincera, amiga, de olhar cativante e envolvente. Para ele, ninguém era melhor do que ninguém. Diversas vezes minha mãe falou para se arrumar mais para ir a eventos políticos, encontro com aqueles que se acham autoridades só porque o povo os escolheu para serem os seus representantes. Para a fala de minha mãe respondia que não precisava se arrumar para encontrá-los. Quem deveria se arrumar para conversar com ele eram os políticos, que são os empregados do povo.

O entusiasmo de Aramis trouxe nova visão de vida a muitas pessoas. Primeiramente à família, que estimulava a participar do que fosse, a se envolver, a não se omitir diante das injustiças. Depois, seu entusiasmo contagiava os amigos e companheiros. Quantos apoiaram suas idéias porque viam que ele acreditava nos projetos, que iria até onde precisasse para torná-los reais.

Aramis acreditava na força da Fé em Deus, nele mesmo, em sua capacidade de vencer, de construir uma Lapa melhor para os lapeanos e para os seus, acreditava que poderia transformar ao menos um pouco a realidade.

Aramis fez a diferença.

E é o entusiasmo dele que nos mostra como devemos conduzir o seu legado. Os 34 anos de luta através da Tribuna Regional não serão em vão.

Nesta edição, as lágrimas ainda rolam pelo rosto enquanto fazemos o jornal. Ainda rolarão diversas vezes nos próximos anos, até nos reencontrarmos em algum lugar especial.

Mas o seu exemplo nos dará força para continuar. De onde ele estiver, está olhando por nós e nos orientando sobre a melhor forma de conduzir este Pequeno Grande.

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“Entusiasmo é a inspiração de qualquer coisa importante. Sem ele, nenhum homem deve ser temido; e com ele, nenhum homem deve ser desprezado.” (Christian Nestell Bovee)

Emanuelle Gorniski

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