Ele é de 1873. Tem, portanto, cerca de 137 anos. Poderia ter morrido, mas continua vivinho da silva. Aposentadoria, nem pensar! Concordou, no máximo, em ser tombado pelo patrimônio histórico. Embora tenha pinta de museu, continua em plena atividade. Sua longevidade pode ser comprovada na grafia do nome: theatro, com “th” mesmo. Para podermos avaliar sua importância, nos primeiros anos de sua existência nem cinema havia. Era para ele que os lapeanos acorriam quando desejavam se divertir. Até o Imperador D. Pedro II chegou a visitá-lo, acomodando-se num dos seus pequenos camarotes.
É provável que Francisco Therézio Porto Neto, que além de engenheiro civil foi poeta e prosador, ao projetá-lo com tanto charme, quisesse que ele se perpetuasse como centro de cultura, tradição, história e arte. Se esse era o seu sonho, conseguiu realizá-lo. Na época, a Lapa contava com cerca de 2.000 habitantes. Daí o porquê de o Theatro São João ter capacidade para umas duzentas pessoas. Pequeno no tamanho, revelou-se grande na medida em que proporcionou, como ainda proporciona, que artistas, famosos ou não, sintam orgulho e prazer de nele se apresentar.
O pessoal da “Tribuna Regional” e da Secretaria Municipal da Cultura não poderia ter escolhido lugar mais adequado para o lançamento do meu livro de crônicas. Além do mais, presentearam-me, a mim e aos amigos que foram me prestigiar, com a encenação do “Boi da Lapa”, um número de cordel que emocionou a todos os presentes. Se a Nádia, atual diretora do São João, não nos tivesse alertado que os artistas eram todos amadores, poderíamos pensar ser coisa de profissionais. Pessoas da terra, simples, anônimas e de uma dedicação imensa, nos brindaram com sua arte e revelaram que o sonho de Francisco Therézio – também com “th” – continua vivo.
Há um aspecto que não pode deixar de ser lembrado. Como quase todas as edificações existentes na Lapa em 1894, ele não escapou de dar sua contribuição à valente resistência às tropas de Gumercindo Saraiva. Durante o Cerco, transformado em enfermaria, cumpriu a humanitária missão de salvar vidas.
Cabe-me, por justiça, transmitir um sentimento de enorme gratidão aos amigos lapeanos que me proporcionaram uma noite particularmente emocionante e recomendar àqueles que ainda não o fizeram, que, na primeira oportunidade, assistam o “Boi da Lapa”. Trata-se de um boi que até mesmo o vegetariano mais radical vai gostar.
Por fim, não há como evitar uma derradeira observação de um velho oficial de artilharia que, de tanto ouvir o ribombar dos canhões, está quase surdo: a acústica é perfeita.
() General da Reserva
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