Santo de casa faz milagre, sim!

Com a proximidade das comemorações nacionais do Dia do Patrimônio Histórico, algumas questões acerca das contribuições dos historiadores lapianos para a construção da identidade local, trouxeram à tona uma reflexão: que tipo de valorização é dada aos profissionais que se dedicam a pesquisar e divulgar a Lapa como a principal cidade paranaense exemplo de preservação e de perpetuação da memória?

No mês de maio estive na cidade de Bom Jesus, localizada nos Campos de Cima da Serra no Rio Grande do Sul para apresentar no X SENATRO (Seminário Nacional sobre Tropeirismo do Cone Sul) uma conferência sobre a presença negra nas tropeadas e, com surpresa, fui abordada por um professor que falou: ”Em julho irei à Lapa dar uma palestra, mas porque chamam profissionais de fora? Não há historiadores na cidade?”.

Quando retornei de Bom Jesus liguei para a instituição que iria realizar a palestra citada, e fui atendida por uma das responsáveis pelo evento, que grosseiramente questionou como eu sabia de uma programação interna da clínica.

Este lamentável fato levou-me a refletir sobre o papel social dos historiadores na cidade e a afirmar que, “Santo de casa faz milagre, sim!”. (Re)conhecidos por seus pares acadêmicos e pelos gestores do patrimônio cultural, tais profissionais tanto em sala de aula quanto em suas produções científicas são extremamente atuantes em nossa comunidade.

Muitos foram incentivados a ser historiadores em decorrência das brilhantes carreiras de Cecília Maria Westphalen, Maria Thereza Brito de Lacerda, Marília Souza do Valle e Cassiana Lacerda.

Além delas, há outras historiadoras renomadas como Deise Galdino (que dirigiu por anos o Museu Casa Lacerda), Therezinha Gemin, Dirce Pinheiro e Nair Hammerschimidt (que produziram livros sobre a história da Lapa e resgataram a memória da Rádio Legendária), Andréa Meira e Márcia Hopata (especialistas em História do Brasil e em Educação Patrimonial).

Para não ser tachada de feminista, enfatizo colegas que são incrivelmente relevantes: Nelson Schuster (que salienta em seu trabalho a noção de crítica aos fatos, qualidade exigida e almejada aos jovens que prestarão o ENEM), Robson Suero (que impressiona pela dinamicidade e pelo domínio dos conteúdos históricos) e Neri Bortolanza (um dos mais precursores da minha geração).

Aos mais novos, cujo nomes minha idade já não permite mais lembrar, saliento aqui meu respeito e admiração.

Se, para algumas pessoas os historiadores lapianos descansam em suas férias frias de julho nas sombras de seus diários escolares e de incontáveis livros em seus gabinetes, para outras, tenho certeza que nossos especialistas, mestres e doutores irradiam em suas aulas e pesquisas o mais nobre sentimento de identidade e de valorização do patrimônio cultural local.

“Quanto mais você pertencer a um lugar, maior será sua identidade”. (Jaime Lerner)

Cláudia Bibas do Nascimento é historiadora.

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