Eleições: do traço ao topo

Tenho em mão pesquisa realizada no segundo trimestre deste ano, por iniciativa da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, cujo tema era confiança nas instituições. As Forças Armadas ocupam o primeiro lugar, com 63% de aprovação. Poder-se-ia deduzir que o mesmo percentual da população votaria em militares. Poder-se-ia…

A cada eleição, dezenas de camaradas, em geral na reserva, concorrem pelos mais variados partidos. Infelizmente, nas pesquisas eleitorais, eles não saem do traço, que representa aqueles que sequer são citados. Por quê, se a população confia nos militares? Comecemos a procurar as respostas de dentro para fora. Querer falar de política com a família militar é angariar antipatia e encontrar resistências. Somos um “exército de apolíticos”. Nosso subconsciente passa a enxergar em quem tem a coragem de submeter o seu nome e arrisca a se candidatar, como um futuro corrupto. Não o vemos, erroneamente, como alguém que irá lutar pelos interesses da Nação, das Forças e dos próprios militares.

A dificuldade para divulgar a candidatura é outro obstáculo. Claro que nos quarteis seria inaceitável. Discussões políticas podem exacerbar paixões por vezes incontroláveis. Permitir isso, num ambiente repleto de armas, seria uma irresponsabilidade. Ninguém esquece que, a mando de Luís Carlos Prestes, soldados assassinaram seus companheiros enquanto dormiam, na Intentona de 1935. Curiosamente, os clubes e associações militares, que representam um espaço disponível, ainda são subaproveitados para a divulgação.

Há, também, uma limitação de caráter financeiro. Não é segredo a penúria em que vive o nosso pessoal. É igualmente sabido que uma campanha, por mais modesta que seja, custa caríssimo, pelo menos para quem está habituado a contar centavos para administrar o orçamento familiar e o das organizações militares. Assusta-nos o preço para imprimir até o item mais barato, os famosos “santinhos”. A solução seriam doações, mas temos vergonha de solicitar. Somos assim… Não sabendo pedir,não conseguimos divulgar que temos candidatos.

No fato de o pessoal da ativa não votar reside outra causa. Sempre que assumia algum comando, eu reunia meus oficiais e sargentos e perguntava quem tinha o Título naquela guarnição. Cerca de 20% levantava o braço. A partir daí, eu tomava medidas de modo a facilitar que eles e as esposas transferissem seu domicílio eleitoral. Obviamente, não podia impor em quem deveriam votar.

A dispersão de esforços é mais um problema. Na última eleição, em Curitiba, tivemos 8 candidatos a vereador: 5 do Exército e 3 da Aeronáutica. É desnecessário dizer que nenhum venceu. Agora, pelo menos aqui no Paraná, começamos bem. Temos apenas um candidato a deputado federal e outro a deputado estadual.

Embora sejamos pessoas de palavra, somos, por formação, mais da ação do que das palavras. Então, para sair do traço e chegar ao topo, é hora de agir, de arregaçar as mangas.

() General da Reserva

http://www.bonat.com.br

Please follow and like us: