Eleições: atendendo a milhares de pedidos

Um amigo metido a cantor foi quem inspirou o título desta crônica. Quando animava nossas reuniões com seu violão, antes de terminar, ele empostava a voz para anunciar la grande finale: “atendendo a milhares de pedidos, vou apresentar um número de minha autoria”. Aí, recebia vaias, pelas quais já aguardava com um sorriso maroto.

Agora chegou a minha vez de receber apupos, nem sempre bem-humorados como os que dirigíamos ao nosso amigo. Tratarei das eleições do último dia 31. Faço-o a contragosto, não por temer vaias, e sim por entender que o tema esteja praticamente esgotado. Mas, “atendendo a milhares de pedidos”, aí está.

Não irei direto ao assunto. Antes, preciso aconselhar aos que pretendam se candidatar no futuro, a não pedir o meu voto. O razão é óbvia: não acerto uma, ou quase nenhuma. Usando de metáfora futebolística, tão em voga, confesso que sempre torço pelo time mais fraco. Se o Arranca Toco Futebol Clube jogar contra qualquer desses times badalados em todas as mídias, meu coração será arrancatoquense desde criancinha. O motivo é simples: o menor salário do time famoso é maior do que toda a folha do Arranca Toco.

Nas eleições ocorre algo semelhante. Tendo a escolher pessoas desconhecidas, cujos currículos e propostas me convençam de que são, e continuarão sendo, “fichas limpas”. O resultado tem-se revelado frustrante. No primeiro turno, dos seis que escolhi, só um levou.

Se você conseguiu ler até aqui, deve estar com suas baterias apontadas na minha direção, prontas para bombardear-me: “afinal, em quem você votou no segundo turno?” Antes que dispare seus canhões, antecipo-me e lanço meus fogos de contrabateria, também na forma de pergunta: “havia algum candidato do Arranca Toco?” Certamente não.

A percepção era de que ambos pertenciam ao mesmo time, a um clube milionário. Declararam-se contra o aborto e a privatização, a favor da distribuição e ampliação de bolsas e de outras benesses recomendadas pelos marqueteiros.

Temas complexos e importantes para a nação receberam tratamento superficial. A necessidade de uma revolução na educação; os escorchantes impostos; a enorme dívida pública (interna e externa); a alarmante invasão das drogas; e a política externa, que contempla ditaduras com generosos recursos do contribuinte, enquanto nossa economia se encontra asfixiada por uma infraestrutura caótica.

Caberia ao candidato da oposição ter levantado essas questões. Como não o fez, deu a entender que concordava com o status quo e não pretendia alterá-lo. Sua omissão tornou suave o caminho da candidata situacionista, montada em milionária campanha publicitária iniciada dois anos antes e contando, em grande parte, com recursos oficiais.

Como trataram pontualmente de temas profundos e, profundamente, de assuntos pontuais, ficou difícil escolher. Mesmo assim, teria o azar de receber o meu voto quem tivesse prometido uma bolsa para os valorosos atletas do Arranca Toco FC. Mas, como nem isso fizeram…

Pronto, estimado(a) leitor(a). Pode vaiar, mas queira-me bem. Só não queira o meu voto.

() General da Reserva

http://www.bonat.com.br

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