Dia da música e do arrastão

Final de semana com nova onda de arrastões – cinco ao todo – no Rio de Janeiro. O primeiro ocorreu na noite de sábado, na BR-116, altura de Duque de Caxias. Os bandidos mataram um eletricista em frente à família com um tiro de fuzil.

Um sargento da Aeronáutica estava com um carro oficial enguiçado na lateral da via. Foi ameaçado. Quando apontaram para ele, conseguiu fugir pelo lado do carona.

Na Via Dutra, no domingo, uma quadrilha fortemente armada bloqueou um trecho da estrada. Roubaram um Kia Cerato e um Prisma. Na ação, um jovem de 26 anos foi baleado na cabeça. Levado para o hospital, seu estado é grave.

Como 22 de novembro foi o Dia da Música no Brasil, não pude deixar de ligar os fatos. Encontrei o responsável, graças a alguém indignado com a onda do politicamente correto. Segundo mensagem que me enviou, nas escolas, alteraram a letra do Samba Lelê. A versão original – “Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas” – virou “Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar”. Logo, está proibida a palmada na bunda. Ela incita a violência. Se eu fosse a Lelê, torcia para a febre nunca passar. Sabe de quem é Samba Lelê? Simplesmente de um tal de Villa Lobos. A professora podia até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Correta, do Jardim Escola Criança Feliz.

Do mesmo autor, “O cravo brigou com a rosa” também teve a letra adulterada, pois a briga entre o cravo – o homem – e a rosa – a mulher – estimula a violência entre casais. O que vale agora é “O cravo encontrou a rosa/ Debaixo de uma sacada/O cravo ficou feliz /E a rosa ficou encantada”. O próximo passo será enquadrar o Cravo na Lei Maria da Penha. Será que as pessoas sabem que essa obra faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

Assim sendo, não resta a menor dúvida quanto à culpabilidade de Heitor. Graças ao seu incentivo, os bandidões levaram umas palmadas no bum-bum. Agora roubam e matam. Basta o Ministério Público apresentar denúncia.

Aliás, é preciso ficar de olho nas bandas militares. Semanas atrás, a da 5ª Região Militar foi animar a festa de uma escola infantil aqui de Curitiba. Sabe o que tocou? “Marcha soldado, cabeça de papel, se não marchar direito, vai preso pro quartel”. Sentiram quanto estímulo à violência? Primeiro, subentende a volta à ditadura. Segundo, ao ameaçar com prisão alguém que simplesmente esteja de passo errado, incentiva a tortura.

Estava à toa na vida. Assim começa a canção que tirou Chico Buarque do anonimato. Pode não ter sido inspirada numa banda militar. Mas que parece, parece. Quem diria. Um dia, até o Chico não foi politicamente correto!

Por isso, os autores brasileiros precisam ter mais cuidado. Estão dizendo por aí que encorajam a bandidagem carioca. Mas não podemos deixar de cumprimentá-los. Eles são notáveis.

                 General da Reserva
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