A ética da gratidão: uma necessidade

Mais um ano chega ao fim e é tempo de olhar para trás e fazer um balanço sobre nossas conquistas, nossos fracassos, nosso crescimento em 2010.

É tempo de sermos gratos à vida, gratos a cada tropeço, a cada vitória. É tempo de se avaliar o que precisamos melhorar no ano que se inicia.

E, por falar em gratidão, durante a inauguração do centro cirúrgico do Hospital São Sebastião, o Secretário da Saúde, Carlos Moreira Jr., citou um texto publicado na Gazeta do Povo, que aborda o tema. Ele citou este texto para ilustrar a importância do agradecimento, pois o Diretor Antonio José Lemos, em sua despedida não deixou de agradecer a todos os que lutaram junto com ele – funcionários, diretores, amigos e às minorias. Minorias estas que fizeram antagonismo à sua gestão, não entendendo a necessidade de se trabalhar com comprometimento ao que é melhor para os usuários e com o que é correto e dentro das normas existentes no Estatuto do Servidor Público.

Curiosa para saber o conteúdo do texto citado por Moreira Jr., fui atrás da edição de quarta-feira, dia 29, da Gazeta. O texto foi escrito por João Malheiro, que é doutor em Educação pela UFRJ.

Através deste texto, nós equipe da Tribuna, deixamos a nossa gratidão a todos aqueles que estiveram conosco no ano de 2010. Aos amigos que nos deram força em momentos difíceis; aos parceiros, colaboradores e anunciantes que nos auxiliaram na missão de informar; aos leitores que são a razão do existir deste pequeno Grande. E também, porque não, a nossa gratidão àqueles que tentaram dificultar o nosso progresso, a nossa felicidade e a nossa caminhada. Nossa gratidão a estes, pois também tiveram papel essencial para que pudéssemos nos aperfeiçoar em situações em que não faziam parte de nosso cotidiano.

Enfim, nossa gratidão pelos acontecimentos de 2010!

E, para você, leitor, matar a sua curiosidade como eu matei a minha, segue o texto de João Malheiro, sobre o tema. Delicie-se!

“Um ano está terminando, outro está por começar, e nestas épocas festivas é comum aproveitar algum momento de mais tranquilidade para refletir na própria vida. Algumas questões costumam emergir: Afinal, estou indo bem? E para onde estou indo? E minha família: está indo realmente bem? O que me (nos) falta?

Como professor universitário, tenho o hábito de promover esta reflexão em sala de aula no último mês do ano. A metodologia utilizada é a discussão de dois clássicos do cinema, os quais recomendo a todos. São eles: Deste mundo nada se leva e Felicidade não se compra. Os filmes são dirigidos por um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos: Frank Capra. Pablo G. Blasco, um dos renomados comentaristas desta sétima arte, salienta em um dos seus livros: “O cinema de Capra transborda bondade. É uma apologia do poder transformador que encerra o carinho humano. Sua crítica à hipocrisia, à corrupção, enfim, a todo o espectro da maldade humana, é por isso peculiar, construtiva, crítica sem violência, direta, franca, discretamente ingênua. São apelos ao coração, tentativas de desentocar os bons sentimentos, sempre presentes no interior do homem, mesmo submerso em falsidade e calejado no ódio”.

É isso que tento realizar com os meus alunos no final de cada ano: em vez de dizer-lhes que deveriam ter alcançado melhores resultados acadêmicos, que deveriam ter crescido muito mais eticamente, que poderiam ter galgado patamares mais elevados de solidariedade e justiça. Tento desentocar neles sentimentos de agradecimento e retribuição por tudo o que receberam dos pais, dos professores, dos funcionários, dos colegas e, evidentemente, de Deus, ao longo do ano. Esse exercício do coração é uma das formas mais eficientes de despertar as pessoas para a realidade da condição humana de meras criaturas frágeis e dependentes dos demais. De encaminhá-las para os verdadeiros valores humanos.

Viver agradecendo deveria ser uma atitude habitual, uma disposição de vida e um modo de nos situarmos na existência. Quando os alunos passarem a sentir-se efetivamente agraciados por uns bons pais (ou avós) que lhes deram todo o suporte para crescerem rumo à excelência humana, quando reconhecem os esforços de quase todos os professores em viver uma entrega diária para a sua formação integral ou dos funcionários da escola para que lhes mantenham limpos a sala de aula e o pátio, ou ainda quando (re)descobrem uma amizade real dos amigos, tenderão a despertar algumas fibras adormecidas do coração. E é dessa conscientização que nascerá a gratidão habitual. Por isso, quanto mais incentivamos o agradecimento, mais fomentaremos desejos de fazer algo pelos outros. Essa é a dinâmica verdadeira da felicidade. O núcleo sólido da nossa personalidade, o fundo de segurança íntima de que todos precisamos, consiste nessa dupla certeza: a de sermos amados e a de podermos amar.

Quando formamos nossos alunos na ética da gratidão, estaremos também ajudando-os a crescer em humildade, virtude fundamental que falta hoje em tantos âmbitos educacionais. Descobrirão que tudo o que receberam é dom imerecido – família, talentos, capacidades, saúde, amigos, dinheiro, conhecimento, virtudes – e aprenderão a não se apropriar de méritos que muitas vezes não são deles.

Um último aspecto que tento ensinar aos meus alunos é que aprendam a agradecer o que não lhes agradou ao longo do ano: não terem conseguido passar com as notas que gostariam, não terem ganho o campeonato da escola, não terem ido naquela viagem um pouco mais cara, o namoro que acabou, os amigos que perderam, a saúde que fraquejou.

Quando aprendem desde cedo a sentir-se criaturas de Deus e não “pequenos deuses”, essa tarefa costuma ser muito mais fácil, pois intuem facilmente que Alguém lá em cima quis tudo isso para o bem deles, mesmo que nos custe entender por quê. Porém quando não são bem formados nesse aspecto, em geral por deficiências da educação familiar, costumam se sentir vítimas e sofrer muito. Infelizmente, essa é uma das chagas do materialismo atual: querer que a vida corra sempre conforme nossos sonhos e desejos, como autênticos “criadores”. As ações de graças nesses momentos serão sempre o melhor antídoto para aceitar as humilhações e viver uma vida mais real, mais cômica (rir de si mesmo) e muito mais rica do que aquela com a qual costumamos sonhar.

Viver agradecendo deveria ser uma atitude habitual, uma disposição de vida e um modo de nos situarmos na existência.”

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“Todos carregamos uma cruz; A de alguns são muito pesadas; A de outros não passam de meros rosários de bolso; Mas o importante é notar que sem essa cruz para carregarmos, nosso tempo de vida seria inútil; É sobre a força despendida no trajeto que crescemos”. (Isaac Bianchi – Escritor)

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