Tosse há mais de duas semanas? Pode ser tuberculose

A doença é antiga, mas não é passado. Ela ainda mata e hoje há cerca de 9,2 milhões de pessoas infectadas no país

No dia 24 de março comemora-se o dia mundial de combate e prevenção à tuberculose. Uma data em que se faz necessário atentar para o fato de que a tuberculose é antiga, mas não é passado. Somente no Brasil há cerca de 9,2 milhões de pessoas infectadas. E apesar de ter tratamento e cura, milhares de pessoas ainda adoecem e morrem todo ano no país em decorrência da doença. O principal motivo é não reconhecer que a tuberculose ainda existe.

“Hoje a nossa maior arma contra a tuberculose é a informação”, diz Dr. José Gaspar Bornancin, Diretor Geral Hospital Regional da Lapa São Sebastião. Gaspar enfatiza a necessidade de engajamento por parte dos provedores de saúde, a fim de somar esforços para diminuir os casos da moléstia na região. “É preciso mobilizar a população para que busque diagnóstico aos primeiros sintomas, para que seja realizado um tratamento adequado”, afirma.

Entre as ações para mobilizar, informar e sensibilizar a população, foram feitas palestras no dia 23 de março, no auditório da Secretaria de Educação, e no dia 24, no auditório do Hospital São Sebastião – esta última proferida pela Dra. Rosane Maria Baggio, que é referência no tratamento da tuberculose multirresistente no Estado do Paraná.

Hoje há no hospital 78 pacientes, entre homens e mulheres. Destes, 68 estão com tuberculose não resistente e 10 com tuberculose multirresistente. Apenas um paciente é da Lapa, os outros 77 são de municípios como a região metropolitana de Curitiba e litoral.

TRATAMENTO

O Hospital São Sebastião preocupa-se em oferecer aos pacientes serviços como de nutrição, serviço de psiquiatria, psicológico, terapia ocupacional, fisioterapia, serviço social e conta também com a ajuda de entidades religiosas. A preocupação do hospital é recolocar na sociedade o paciente em uma situação muito melhor do que quando chegou ao hospital.

Nem todo portador de tuberculose precisa ser internado. A maior parte é tratada de forma ambulatorial, já que após quinze dias de tratamento não há mais risco de transmissão.

Os pacientes encaminhados para o São Sebastião são aqueles que não corresponderam aos medicamentos, muitas vezes moradores de rua que precisam manter o tratamento, e pacientes que chegam através de ações judiciais do Ministério Publico ou Conselhos Tutelares. O portador de tuberculose que precisa ser internado para tratamento fica entre seis a dezoito meses no hospital.

A TUBERCULOSE

A tuberculose é uma doença que ainda gera muitas mortes, porém se o tratamento for feito corretamente e no tempo devido, tem cura.

A bactéria da tuberculose não é transmitida pelo aperto de mão, pelo copo, pelo garfo. Ela é transmitida pelo ar e depois de 15 dias do começo do tratamento os pacientes dificilmente vão transmitir a doença. A bactéria é pouco resistente à luz, a claridade faz com que ela morra.

Se a pessoa apresenta tosse por mais de duas semanas, febre vespertina, perda do apetite, emagrecimento, suor noturno, cansaço, dores no peito, tosse com escarro, tosse com alguma quantidade de sangue, deve procurar um médico.

Para o tratamento, que é inteiramente oferecido pelo SUS, o paciente deve comparecer ao posto de saúde mensalmente para pegar as medicações e fazer os exames. Deve fazer o uso dos medicamentos sem interrupções até que o médico diga que está curado, e evitar o fumo e bebidas alcoólicas. Para o sucesso do tratamento é de grande importância que o paciente se cuide até a alta médica.

O PRECONCEITO

O preconceito ainda existe principalmente porque trata-se de uma doença transmissível. O tuberculoso geralmente é associado a pessoas que usam drogas, alcoólatras, rebeldes… Muitas vezes as pessoas têm medo dos pacientes por desconhecimento da doença.

A auxiliar de farmácia Dalva Trindade trabalha no São Sebastião desde 1979. Ela conta que nasceu no hospital, pois seus pais também foram funcionários da instituição. “Sempre convivi com os pacientes e nunca tive a doença. Quando comecei a trabalhar no hospital havia 400 pacientes aqui. Os cuidados entre os funcionários eram poucos, era muito difícil o uso de máscara, por exemplo”, diz Dalva. “É comum ver funcionários com medo de pegar a doença e até com certo preconceito contra os pacientes”, conta ela.

Sobre isso, Dra. Rosane explica que qualquer pessoa está sujeita a pegar a doença, mesmo sem ter o contato com o tuberculoso, pois a bactéria está no ar. A melhor forma de prevenção é manter o ambiente ventilado e com bastante luz. Em contanto com o paciente, há um risco maior de adquirir a bactéria. Mas, todos já tiveram, em algum momento, o contato com a tuberculose. O que vai determinar, realmente, o desenvolvimento da doença, é a imunidade da pessoa. Por isso a importância de se manter os bons hábitos de alimentação. E, ainda, levar o tratamento até o fim.

A paciente Laís conta que pegou a doença através de seu irmão, que não terminou o tratamento. “Meu irmão nunca fez o tratamento devido. Tive contato com ele e a partir daí comecei a sentir os sintomas da doença. Tenho dois filhos e vou me tratar por eles”, conta ela.

O HOSPITAL E A TUBERCULOSE

O Hospital São Sebastião trata tuberculose desde 1927, quando foi fundado pelo Governador Caetano Munhoz da Rocha. Apartir de 2000 ele se tornou referência no tratamento de tuberculose multirresistente. Naquele ano esse tipo de tuberculose se tornou mais comum no Brasil. O Paraná precisava de um lugar para tratar dos pacientes e o único lugar onde haviam profissionais capacitados e leitos suficientes era o São Sebastião, na Lapa.

E foi no ano 2000 que o Hospital se tornou a referência no tratamento da tuberculose multirresistente, por ter alcançado a cura do primeiro paciente portador deste tipo mais forte da doença no Paraná.

Este mérito se deve, em muito, aos trabalhos da Dra. Rosane Maria Baggio, médica que acompanhou o tratamento dos pacientes à época e ainda atua no São Sebastião, sendo hoje referência no estudo e tratamento de tuberculose no Paraná. Ela profere palestras em municípios de todo o Paraná, ajudando funcionários e pacientes a ter um melhor entendimento sobre o assunto.

Atualmente o São Sebastião desenvolve projetos para diagnosticar de maneira mais ágil e precisa a doença.

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